Capítulo 14: A Criança Perdida

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Assim que nos despedimos de Suguha, procuramos pela missão que ela nos indicou. Seria ativada de uma aldeia no interior da província. Caminhamos uns 10 quilômetros mata adentro para chegar na vila. Por sorte haviam uns trechos de estrada que passavam pelo mesmo caminho que o nosso, então não foi tudo lama e folhas.

O vilarejo isolado era feito de tocas e casas improvisadas em troncos de árvores. Seus moradores não eram ninguém menos que raposas em tamanho humano. Como aqueles personagens demihumanos dos animes, mas mais animais que humanos. Sugu não mencionou que a criança foi sequestrada por um membro da mesma espécie.

O mapa nos indica um casal com quem precisamos falar para começar. Observamos atentamente aos arredores, procurando sinal de algo interagível. Notava-se dois aldeões que choravam abraçados, sentados sobre as raízes de uma árvore. Imagino que sejam os NPCs e me aproximo.

- O que houve? Por que vocês estão chorando? - pergunto.

- Ele foi levado! Nosso filho foi levado! O Grande Foshin o levou. - o homem raposa respondeu, angustiado.

- Por que ele teve que ser escolhido? Por que precisamos fazer tantos sacrifícios? Ano após ano, sua sede de sangue nunca acaba e o massacre nunca para. Mas por que ele, por que tirou nosso único filho de nós? - lamentou a mulher raposa, aflita.

- Todos os anos Foshin, o grande ancestral de todos os yalkos, escolhe uma criança da tribo para devorar e absorver sua essência. Ele exige que devolvamos a ele parte da energia vital que ele consumiu ao nos dar origem. - continuou o marido.

- Ele é muito maior e mais poderoso do que nós. Uma entidade antiga que atravessou as eras desse mundo. No grande cataclismo do universo, parte de sua energia foi expelida e nós ganhamos vida. Somos fruto de sua dor e sofrimento, por isso ele nos atormenta, buscando vingança. - explica a esposa.

- Como pegamos seu filho de volta? Para onde o levaram? - Asuna perguntou ao casal de raposas.

- Os líderes o levaram por aquela trilha, com destino ao coração da floresta. Foshin ali reside. Lá existe um templo erguido em sua homenagem. Está em ruínas, mas é onde os sacerdotes entregam as oferendas.

- Então iremos para lá agora mesmo - eu disse, como sempre, impaciente para ouvir os NPCs.

Caminhamos pela trilha enquanto ela durou, tentando evitar de nos perdermos no meio de todo aquele mato. Yui passou metade do caminho voando, e a outra metade, em que estava cansada demais, repousando em meu ombro. Às vezes me sinto um pirata com seu papagaio, ainda mais se Yui ficar tagarelando. Ou até um Peter Pan de preto com uma Sininho IA, mas isso era mais em ALO.

Quando chegamos, Asuna e eu estávamos cobertos de lama e gravetos até os joelhos. As raposas tinham razão, o templo estava mesmo em ruínas. Pedaços de colunas espalhados por todo o terreno, uns empilhados, outros não. As muralhas da construção foram tomadas por plantas e fungos. O lugar todo está silencioso, mas o mapa diz que estamos no lugar certo.

Andamos até o marcador que indica a localização do chefe. Nada acontece.

- Estamos pisando bem em cima dele! Onde mais pode estar? - Asuna questiona, intrigada.

- Espera, é um templo! Talvez ele esteja exatamente onde estamos, mas a metros de profundidade no solo. - pensei alto.

- Tem que ser isso, você precisa estar certo.

- Deve haver uma entrada para o subterrâneo daqui. - concluí - Vamos rodear as ruínas e ver se encontramos alguma coisa.

Demos voltas e mais voltas, nada. Resolvi tentar subir em uma árvore para ver de outro ângulo. Não noto nada diferente.

- Isso é bizarro. Não vejo nada de lugar nenhum. Vamos para o meio da ruína, é o único local onde não inspecionamos, mesmo que não seja promissor. - digo.

- Está bem.

- Tem que estar aqui em algum lugar - digo, pisoteando algumas pedras e folhas que dominavam o cenário, enquanto tirava galhos e mais plantas do caminho. - Não acredito que o mapa esteja... Whooaa!!!!

- Kirito!!!

Afundei sobre o fundo falso de folhagens e caí com um baque doloroso num chão sólido e rochoso.

- Ai! - exclamei de dor - Acho que quebrei alguma coisa.

- Kirito... Você não pode ter quebrado nada, isto é realidade virtual. - Asuna disse, zombando um pouco de mim.

- Acho que o inibidor de dor está com defeito. Bom, vamos voltar a quest. Acho que enfim achamos a entrada que procurávamos, não concorda?

- Totalmente. Só estou pensando em como descer... - ela responde, receosa.

- Pula, eu pego você.

- Não tenho certeza quanto a isso. - ela hesita.

- Está com medo que o seu inibidor também esteja com defeito?

- Cala a boca. 

- Vamos mamãe, não é tão alto. Eu vou com você. - Yui, que tinha descido comigo durante a queda, sobe de volta saindo do buraco e agarra-se ao ombro de Asuna.

- Não precisa Yui-chan, acho que eu consigo. - Yui retorna, aterrissando no templo soterrado, dessa vez graciosamente.

Asuna dá seu salto de fé e fecha os olhos, assustada com a altura, que era de uns 8 metros. Ela cai suavemente em meus braços, abrindo os olhos.

- Obrigada - diz.

- Eu nunca te deixaria cair - ela me olha fundo nos olhos por alguns segundos, em seguida, a coloco no chão.

Após a queda, o percurso até o boss seguia por rampas e escadas que nos levavam sempre mais fundo. Descendo muito e ainda mais baixo. Estava começando a me sentir claustrofóbico. O mapa mostra a distância entre nós e o chefe diminuindo, ficamos cada vez mais próximos.

Finalmente chegamos a um amplo salão, talvez mais para um corredor bem espaçoso, com um altar no fim, fincado a poucos metros de um trono de pedra elevado. Mesmo da porta de entrada, ouvimos gritos finos e infantis do fundo da sala. Talvez o pé direito alto, de uns 12 metros, amplifique a acústica. 

Avistamos o chefe diante do altar, segurando pelos pés um garoto de cabelos e olhos azuis, que soltava gritos irritados. Não se parecia nada com uma raposa. Na verdade, parecia humano, mas se me lembro bem, essa aparência remete a uma das 7 raças, que habita um planeta glacial. Um jogador?

- Me solta, seu guaxinim idiota! Mas que sistema mais burro é esse?

Resolvemos nos aproximar e averiguar a situação. Colocamos nossas armas a postos e corremos até o altar. O garoto parecia ter uns 8 anos, um pouco novo demais para jogar isso, na minha opinião, mas quem se importa? SAO estava cheio de crianças. Sua expressão mesclava raiva, desespero e impotência.

- Ei, ei vocês dois! Me ajudem a sair daqui! Distraiam esse bicho, ele me confundiu com a criança NPC. O bebê raposa está paralisado dentro de um casulo em cima do altar. Eu queria ativar o chefe para lutar, resgatá-lo e encerrar a missão, mas essa inteligência imbecil do programa me confundiu com a criança que ele tinha que raptar. 

- Esqueceu de dizer por favor. - digo.

- Por favor faça esse demônio me soltar para eu terminar essa missão de bosta e parar de olhar para suas caras estúpidas. - reclamou o garoto, malcriado.

- Que tal ficar aí pendurado até aprender a ser um pirralho educado? 

- Kazuto... - Asuna murmurou.

- Tudo bem, vamos soltá-lo. - resmungo.

Nos preparamos para usar os sabres e resgatar o garoto, só que agora, teríamos que salvar dois garotos.

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