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Crime e Castigo

São Paulo, 17 de Novembro de 2018

POV Agatha

" ... Eu não acredito que tu vai arregar justo agora ! Desmarquei a trepada com um boy odara pra ir nessa porra de Funhell e você me dá pra trás ?"

Deitada de costas em minha cama, o celular na orelha, encarando o teto do meu quarto, desanimada ouvia Vítor se queixar, aos gritos e cheio de mágoa.

O foda é que ele tinha razão, aquilo não fora justo.
A saída se combinara há mais de um mês. Mas depois da discussão com meu namorado - As coisas pesadas que dissemos um ao outro - Eu não tinha mais estômago para simplesmente ir beber, dançar e fingir que estava tudo bem.

" Mais um motivo para você ir." - Meu amigo retorquiu, insistente porque não queria ir sozinho, nada mais deprimente do que estar avulso na balada. Eu iria esfriar a cabeça e dar um refresco aos olhos vendo outros caras, quem sabe descolando outro bofe nem que fosse só por uma noite?

Em parte cansada dos gritinhos e pragas que ele me lançava, enfurecido e às lágrimas, e também convencida que me faria bem tomar um ar e ver gente, finalmente mudei de ideia e de planos.

Me levantei, cheia de preguiça, observando minha própria imagem no espelho.

" Tá bom, tá bom, caralho, eu vou ! Mas demorarei um pouco."

***

Antes de sair para pegar o ônibus - Marquei com meu amigo estar nove horas no shopping - Dei mais uma conferida no outfit no espelho de corpo inteiro: Nada muito elaborado porque estava ainda meio chateada e sem inspiração e cabeça para me dedicar muito.

O telefone em cima do aparador tocava um rock indie para tentar me dar o clima de festa.

Pusera um short jeans escuro, de cintura alta. Dei uma rodadinha, empinando a bunda e observando o quanto a modelagem daquela peça de roupa deixava em evidência o volume do meu traseiro. Com o top preto exibia os ombros de fora e realçava a cor da minha pele. Optara por deixar meus longos cabelos escuros soltos, nos pés um par de all star branco. Caprichara na make, com destaque para os olhos, em nuances escuras de preto e grafite. Dando o toque final, nos dedos com longas unhas esmaltadas de branco, vários anéis dourados de espessura fina.

Apertei os lábios, analisando se o batom cor de boca estava a meu gosto.

Por um instante senti uma onda de desânimo querendo me abarcar novamente. Exalei um longo suspiro e, decidida, estalei os dedos no ar, como se afastasse algo de mim:

" Not today, Satan !" - Dei meio palmo de língua para minha própria imagem no espelho, ajustei a pochete preta na cintura e saí pela porta da sala, rebolando.

***

No shopping eu cumprimentei meu amigo com um beijinho no rosto.

" Demorar um pouquinho, disse você. Um pouquinho em qual universo ?"

Vítor ainda não me perdoara totalmente pelo nervoso que eu o fizera passar, tive a certeza disso, ele me fitava com o beicinho franzido, o pé batendo no chão. A certo ponto baixou os óculos até a ponta do nariz com o indicador e me olhou dos pés à cabeça, fazendo um meneio de aprovação.

" Você tá arrasany, amapoa." - Me deu a mão - " Vem, vamos comer alguma coisa, não posso beber de estômago vazio, eu sei que vou dar pt, mas não quero que seja tão rápido assim !" - Gargalhou.

Subimos as escadas rolantes, eu ainda meio desanimada - Ao contrário de Vítor, que apontava as roupas nas vitrines, empolgado ora dissertando sobre as novas tendências de moda, ora sobre a aparência de algum rapaz bonitão que nos cruzava o caminho.