Galáctica

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O Hubble as detectou quando ainda estavam na órbita de Saturno e espalhou a notícia para outros observatórios. Satélites geoestacionários tiveram suas funções alteradas para captar toda e qualquer anomalia que ocorresse na atmosfera terrestre. Jatos supersônicos foram colocados de prontidão para a eventualidade de se tratar de uma ação hostil. Emissoras de rádio e televisão deixaram de lado a programação normal e passaram a transmitir informes diretamente da Nasa e da Agência Espacial Européia. Em poucas horas as ações das bolsas de valores caíram e o comércio de armamentos aumentou. Nas casas de apostas de Londres, grandes somas foram investidas para prever o local da aterrissagem – ilha de Páscoa, Nova Iorque, Cairo, Machu Picchu, deserto de Nazca – mas, por incrível que pareça, o local mais cotado em todo o mundo era justamente Não-me-toque, no Rio Grande do Sul.

Uma série de dúvidas tomou conta do mundo: De onde teriam vindo? Trariam uma mensagem de paz ou seriam beligerantes? O que poderiam querer num planeta periférico de uma estrela periférica de uma galáxia periférica? Que aparência teriam? Teriam antenas na cabeça? Usariam mesmo aquelas roupas colantes de cores metálicas? Que língua falariam? Estariam querendo dominar o planeta?

Quando finalmente as naves chegaram, não pousaram em qualquer lugar previsto, em nenhuma grande cidade, em nenhuma das sete maravilhas, nem em nenhum local de peregrinação, e sim, no meio da floresta amazônica, local inóspito e acessível apenas após dias de viagem de barco. Por sorte lá estava uma equipe de retransmissora de televisão que imediatamente enviou seus repórteres com a extraordinária missão de entrevistar os recém-chegados, se isso fosse possível.

O repórter estava muito apreensivo. E se eles achassem que o microfone era algum tipo de arma? E se eles causassem algum tipo de pulso eletromagnético que impedisse a transmissão? Ele sabia que estava sendo visto em todo o planeta e não podia se dar ao luxo de cometer impropriedades. Se ele cometesse erros sua cabeça iria rolar, seria conhecido como o causador de um problema diplomático interplanetário. Também não teria como falhar porque depois daquela reportagem ele poderia ser transferido para o Rio de Janeiro - ah, Ipanema! - para São Paulo ou Nova Iorque. Quem sabe até Paris! Era a sua chance de sair daquele local tão sem perspectivas. Diante disso tudo, desatou a falar para os telespectadores.

_Eles são muito parecidos conosco. Como vocês devem estar vendo, eles têm braços, pernas, olhos, nariz, boca, cabelo, tudo. E não usam roupas protetoras nem capacetes, parecem estar muito bem adaptados à nossa atmosfera e vestem-se como se estivessem indo a um piquenique, isso vocês podem perceber pela cestinha que estão trazendo na mão. Que criaturas serão essas que atravessam a galáxia para fazer piquenique na floresta amazônica? Eles devem estar num alto grau de desenvolvimento. Vou tentar travar contato com eles... Ahn... Olá!

_Olá. – Disse um deles, receptivo.

_Em nome de todo o planeta, quero desejar-lhes boas vindas!

_Obrigado! Você é muito gentil.

_Poderia me dizer de que planeta vocês são?

_Ah, somente o chefão pode responder a essa pergunta.

_Ah, vocês têm uma estrutura hierárquica? E quem é o responsável pela expedição?

_É o Marcão. Aquele ali ó. - E apontou para um outro deles, todo suorento, com barba por fazer, muito acima do peso e fumando um charutão estilo Havana. O repórter estranhou aquilo. Desde quando seres extraterrenos altamente evoluídos eram obesos, usavam barba e fumavam? E, principalmente, desde quando eles se chamavam Marcão? Dirigiu-se então ao chefe.

_Senhor... Aham... Marcão. Poderia nos conceder uma entrevista?

_Claro, claro, desde que esse sujeito para de me iluminar com essa luz forte...

GalácticaWhere stories live. Discover now