Piratas

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A luz que batia diretamente em seus olhos o incomodou de uma forma inimaginável. Suspirou. Já tinha pedido inúmeras vezes para não deixarem aquela bendita cortina aberta, mas ninguém o ouvia. Tyler bufou e levantou-se lentamente. Nenhum de seus amigos encontrava-se no recinto. Descendo da cama, ouviu passos no andar de baixo. Provavelmente o café da manhã estava pronto.

Respirou fundo e sentiu um cheiro delicioso invadir suas narinas. Mais passos, porém desta vez eram rápidos e entregavam que a pessoa corria escada acima. Tomara que não gritasse o seu nome como da última vez.

— Vai vir tomar café ou não? — indagou Sam, desaparecendo em seguida.

Respirou fundo. Colocando-se de pé, espreguiçou-se. Mal podia acreditar que já se passara um mês. Começou a descer as escadas. Ao menos não tinha sido tão difícil se adaptar. Tirando o fato de que todas as manhãs a cortina continuava sendo deixada aberta. Fechou os olhos e, depois do último degrau, alinhou os pés ao chão do ambiente. Pareciam felizes. Assim como em todas as manhãs.

Haviam conseguido comprar um lugar para morar com os próprios magvelins que Adam deixara. Não faziam ideia de quanto o homem tinha dado, mas não demorou para entenderem que podiam encontrar um lar. Agora o compartilhavam como uma grande família. Cada um possuía suas próprias obrigações e já haviam se encaixado com o clima e as pessoas de Trasken. Era como recomeçar do zero, e se saíam muito bem.

— Precisamos comprar mais comida — avisou Ashley.

— Quando tivermos nosso restaurante, você vai fazer nossas compras — afirmou Benjamin. — Combinado?

— Desde que me paguem. — E riu.

Todos a acompanharam nas gargalhadas. Este era o plano de Christopher e do loiro: construir um restaurante próprio. Talvez fosse sonhar muito alto, mas, se assim o fosse, ambos eram ótimos nisso. Sam costumava sair com algumas crianças e parecia finalmente viver e ter uma infância normal. Ashley acabara por ficar cuidando da casa, já que o restante trabalhava fora. Tyler ajudava um senhor em uma loja de coleções especiais e antigas, ouvindo uma história ou outra sobre os velhos tempos de Novael. Já Lincoln, com sua paixão pelo mar, trabalhava com os pescadores, mais precisamente levando os peixes aos estabelecimentos. Talvez não fosse algo extremamente empolgante, mas era grato a isso, pois estava sempre perto das águas. O que também acarretava o fato de que as notícias eram ouvidas primeiro por ele.

— Sam — disse Lincoln. — Hoje você vem comigo. Vou te ensinar o poder que o cheiro de peixe tem.

— Posso adiar esse passeio? — indagou com um olhar preguiçoso. — Não estou muito ansioso para voltar para casa fedendo...

— Você vai voltar para casa com cheiro de homem trabalhador — afirmou de forma brincalhona. — Anda logo, garoto, vai ser divertido.

— Nossas definições de diversão são bem diferentes — riu desgostoso. — Se a Ash concordar, eu vou, mas acho que ela precisa de ajuda por aqui... — E a olhou como se implorasse para não o deixar ir.

— Bom passeio, meninos! — Disse dando uma piscadela para o garoto, que bufou.

— Um não... — sussurrou ele. — Era tudo o que eu precisava. Que criança pede por um não? Você deveria aproveitar que eu sou a melhor pessoa para se conviver e cuidar. Até tento me ajudar. — E fez uma careta. — Você está é querendo se livrar de mim para passear com o Meisner, não é? Um dia vocês vão casar, certeza.

— Você precisa estar vivo para ver esse dia chegar — retrucou também em baixo tom. — E se continuar com esses comentários espertinhos, talvez não saboreie o momento em que ele peça minha mão. — O olhou com uma braveza imitada. — Você vai gostar de passear com o homem do peixe — continuou em voz alta, depois abaixando a voz novamente: — Ao menos vai saber o que não fazer quando crescer.

Novael (VOL. 1) - O Conto de um Reino Perdido | EM BREVE DISPONÍVEL IMPRESSOOnde histórias criam vida. Descubra agora