Acordei, ainda nos braços de André que ainda dormia no sofá da sala.
Procurei o meu telemóvel com cuidado para não acordar André. Assim que o encontrei liguei-o para ver as horas. Tinham-se passado três horas e tinha 5 chamadas não atendidas da minha mãe, o que queria dizer que ia levar um rapanete dos grandes.
Fiquei a olhar durante alguns minutos para o André, achava incrível o facto de não encontrar um único defeito em alguém.
Pus o cabelo que já estava ao pé dos meus olhos atrás das orelhas e fiquei a olhar para o André mais uns segundos. Queria adormecer novamente, eu sentia-me bem ali, ao seu lado, protegida pelos seus braços que me abraçavam.
Voltei a realidade, ao mundo que é feito de responsabilidades e regras e saí do mundo feito de rosas e nuvens que eu sempre achei uma treta. Um dia as nuvens tornam-se cinzentas e sombrias e os picos das rosas acabam por nos picar.
Achava eu.
Respirei fundo, pus a minha mão no ombro de André e abanei o cuidadosamente.
-André?- chamei, alto o suficiente para ele despertar.
Olhou em volta e percebeu que tínhamos adormecido.
-Tenho de ir.- disse-lhe- já é tarde.
Ele assentiu.
Quando chegamos a entrada do prédio de André peguei no meu telemóvel e liguei a minha mãe.
-Estou?
-onde é que tu andas!?- perguntou furiosa.
-estou com o André. Desculpa, não ouvi o telemóvel.- respondo sincera.
-anda já para casa.- desligou q chamada logo a seguir, a sua voz continuava furiosa.
Olhei para André que estava a espera que o telefonema terminasse, ele sorriu e eu retribui o sorriso.
Agarrou-me pela cintura e beijou me.
Assim que o beijo terminou eu disse adeus com um sorriso. Pus o capacete, sentei-me na mota e conduzi até casa.
Estacionei a mota a porta de casa e entrei. Martim estava a brincar no sofá da sala com os seus carros de brincar.
-Nini!- recebeu me correndo até mim dando-me um beijo e um abraço.
-Olha o Bebê da mana!- Digo dando-lhe beijos e logo a seguir ataquei o com cócegas que o fizeram rir às gargalhadas.
Ele voltou a brincar com os seus carros e eu dirigi-me até a cozinha, pronta para levar um raspanete.
Vou poupar-vos desta parte.
-Podem vir para a mesa.- disse depois de me dar um grande sermão.
Okay. Ela tinha razão.
Jantei e fui para cima para o quarto.
Vesti o pijama, peguei num livro para ler e liguei a televisão metendo o volume no mínimo só para me fazer companhia.
É estranho como por vezes queremos estar sozinhos, mas gostamos da companhia que a televisão nos faz. Deve ser por ela não nos julgar, nem nos chatear, nem nos fazer perguntas.
Li o livro que por acaso tinha como título "culpa" até ter sono. O livro chamou-me a atenção pelo simples facto de dizer "culpa" na capa.
A culpa e eu somos unha com carne. Inseparáveis. Eu não sei porquê que me culpo tanto, porquê que me culpo por tudo o que acontece a minha volta mesmo que eu não tenha nada a ver com o assunto em questão. Se alguém for assaltado no meio da rua na minha presença eu vou, curiosamente, achar que tenho culpa, se alguém partir um braço, mesmo que eu esteja a dez metros de distância, vou achar que tive culpa. É algo que eu não consigo explicar, não tem explicação, ou tem, mas ainda não consegui lá chegar. Ah, isso também deve ser culpa minha. A culpa consome-me por dentro.
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Silêncio Profundo.
DiversosIleana é uma adolescente com 17 anos. A sua vida deu uma volta enorme a uma dada altura da sua vida, como consequência dos atos de outras pessoas, Ileana teve de aprender a viver com duas coisas, depressão e mutilação. Transformou-se num coração de...