Capitulo 17

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Acordei, ainda nos braços de André que ainda dormia no sofá da sala.

Procurei o meu telemóvel com cuidado para não acordar André. Assim que o encontrei liguei-o para ver as horas. Tinham-se passado três horas e tinha 5 chamadas não atendidas da minha mãe, o que queria dizer que ia levar um rapanete dos grandes.

Fiquei a olhar durante alguns minutos para o André, achava incrível o facto de não encontrar um único defeito em alguém.

Pus o cabelo que já estava ao pé dos meus olhos atrás das orelhas e fiquei a olhar para o André mais uns segundos. Queria adormecer novamente, eu sentia-me bem ali, ao seu lado, protegida pelos seus braços que me abraçavam.

Voltei a realidade, ao mundo que é feito de responsabilidades e regras e saí do mundo feito de rosas e nuvens que eu sempre achei uma treta. Um dia as nuvens tornam-se cinzentas e sombrias e os picos das rosas acabam por nos picar.

Achava eu.

Respirei fundo, pus a minha mão no ombro de André e abanei o cuidadosamente.

-André?- chamei, alto o suficiente para ele despertar.

Olhou em volta e percebeu que tínhamos adormecido.

-Tenho de ir.- disse-lhe- já é tarde.

Ele assentiu.

Quando chegamos a entrada do prédio de André peguei no meu telemóvel e liguei a minha mãe.

-Estou?

-onde é que tu andas!?- perguntou furiosa.

-estou com o André. Desculpa, não ouvi o telemóvel.- respondo sincera.

-anda já para casa.- desligou q chamada logo a seguir, a sua voz continuava furiosa.

Olhei para André que estava a espera que o telefonema terminasse, ele sorriu e eu retribui o sorriso.

Agarrou-me pela cintura e beijou me.

Assim que o beijo terminou eu disse adeus com um sorriso. Pus o capacete, sentei-me na mota e conduzi até casa.

Estacionei a mota a porta de casa e entrei. Martim estava a brincar no sofá da sala com os seus carros de brincar.

-Nini!- recebeu me correndo até mim dando-me um beijo e um abraço.

-Olha o Bebê da mana!- Digo dando-lhe beijos e logo a seguir ataquei o com cócegas que o fizeram rir às gargalhadas.

Ele voltou a brincar com os seus carros e eu dirigi-me até a cozinha, pronta para levar um raspanete.

Vou poupar-vos desta parte.

-Podem vir para a mesa.- disse depois de me dar um grande sermão.

Okay. Ela tinha razão.

Jantei e fui para cima para o quarto.

Vesti o pijama, peguei num livro para ler e liguei a televisão metendo o volume no mínimo só para me fazer companhia.

É estranho como por vezes queremos estar sozinhos, mas gostamos da companhia que a televisão nos faz. Deve ser por ela não nos julgar, nem nos chatear, nem nos fazer perguntas.

Li o livro que por acaso tinha como título "culpa" até ter sono. O livro chamou-me a atenção pelo simples facto de dizer "culpa" na capa.

A culpa e eu somos unha com carne. Inseparáveis. Eu não sei porquê que me culpo tanto, porquê que me culpo por tudo o que acontece a minha volta mesmo que eu não tenha nada a ver com o assunto em questão. Se alguém for assaltado no meio da rua na minha presença eu vou, curiosamente, achar que tenho culpa, se alguém partir um braço, mesmo que eu esteja a dez metros de distância, vou achar que tive culpa. É algo que eu não consigo explicar, não tem explicação, ou tem, mas ainda não consegui lá chegar. Ah, isso também deve ser culpa minha. A culpa consome-me por dentro.

Silêncio Profundo.Onde histórias criam vida. Descubra agora