Capítulo 6 - Jake

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Logo que cheguei no dormitório me sentei na beirada da cama, imaginando o porquê do ocorrido. Algumas coisas parecidas já aconteceram aqui, mas nada comparável com isso.

Muitas vezes acontecia a falta de energia, ai eles antecipavam nossa entrada, mas isso era organizado. Não corriqueiro e desesperador como hoje.

Nem sequer deu tempo de dar tchau para Naomi, e muito menos para ela dividir sua maçã comigo. Vi Tyler durante a correria no corredor, como quase sempre ele estava a frente de todos.

Respirando fundo me deito na cama, ou melhor, tento me deitar já que tem algo me incomodando e cutucando as minhas costelas enquanto deitava.

- O que é isso? - me pergunto levantando.

Vejo um lápis amarrado juntamente com um pergaminho minúsculo. O lápis foi feito artesanalmente, dá pra
ver pelos defeitos.

Pego ele com cuidado, não quero ter o descuido de quase quebra-lo de novo. Me sento na cama com as pernas cruzadas, uma abaixo da outra, enquanto abro e leio o que tem escrito em seu pergaminho:

A partir de amanhã você poderá escrever sua história. Não deixe essa chance escapar, esperamos você e seus colegas.

16:00!

Aquele bilhete veio a tona na minha mente. Não era aquilo que esperava pra esse ano, parece que esse é meu presente, mas nem ao menos um papel? Pra que serve um lápis se não tem onde escrever? Paro por uns instantes tentando pensar em algo, mas não chego a nenhuma conclusão.

O bilhete era escrito a mão, uma letra bem desenhada e padronizada, mas claramente foi escrita por alguém. Não digitalizada como as receitas médicas, utilizadas para ver e cumprir nossas atividades.

E aquele "16:00!", o que iria acontecer nesse horário?

Bom, por via das dúvidas vou me prevenir e ficar mais atento amanhã, vai que o sistema resolveu me transferir. Assim como todos nós que chegamos aqui com oito anos transferidos de outro edifício que era para menores. Onde aprendemos o básico, como ler e escrever, e algumas coisas sobre história e de como chegamos onde estamos, de como todos os governos que ainda tinham um pouco de senso estavam preocupados, porque eles sabiam que não haveria vencedor algum com aquilo, sabiam que todos iriam sair perdendo, deixando o mundo quase inabitável.

Pensando sobre isso eles criaram o S.I.R.H. (sistema internacional de reabilitação humana), que foi colocado em prática a dezenove anos atrás.

O que foi nos passado desde sempre é que o sistema pegou fetos de todas as nacionalidades inclusas no sistema, e os guardou como o bem mais precioso da época, para que quando a ciência conseguisse gerar totalmente essas crianças sozinhas, ou seja, fora de um útero humano, assim ela o fizesse, gerando crianças puras, e criando-as sem nenhum contato com o mundo exterior, mantendo seres limpos até que chegassem a vida adulta, para que esses adultos preenchessem o mundo novamente com pessoas sem alterações causadas pela guerra.

Voltando a pensar no que está escrito no pergaminho, não faz sentido eu ter sido escolhido, já que ele dizia:

"esperamos você e seus colegas"

Analisando novamente o lápis e o bilhete, reparo em outra coisa que não tinha visto. Ao final do lápis na ponta inversa do grafite tem uma pequena frase, tive que aproxima-la para enxergar:

The Unknowns Onde histórias criam vida. Descubra agora