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   Entrou na casa que tinha o cheiro suave de lavanda, a cozinha estava empilhada de panelas e conchas, na sala Bakugou tropeçou três vezes com livros grossos e de capas misteriosas, antes de xingar, a garota aparecera desajeitada apanhando alguns livros do chão e enfiando na mochila :
   - Cara de lua! - Ochako se assustou e o fitou. - Eu quero um quarto para dormir, não vou ficar preso naquela porra. - O tom exigente fez ela pensar por um instante.
   - Tem o quarto de hóspedes, mas precisa de uma limpeza. - A garota agarrou o cajado e o apontou para uma vassoura escorada atrás da porta. - Ut Animan! - Ela sentenciou e um raio azul atingiu o objeto, que começou a flutuar e se sacudir. A vassoura rumou para o andar de cima, determinada a limpar. - É o quarto a direita. Perto da lareira.
Bakugou subiu as escadas se deparando com uma sala onde duas poltronas ficavam frente a lareira que Uraraka falara. Entrou no quarto, já invadido pela vassoura que espanava o pó para todos os lados. A cama tinha um colchão novo e limpo, a janela lhe dava a visão do celeiro, onde Kirishima agia estranhamente, balançava a cabeça e bufava, a cauda se mexia violentamente quase quebrando a madeira atrás de si, um sopro de chamas queimou a palha, que cessou rapidamente. Um dragão fora do controle não seria bom em um lugar desconhecido e cheio de bruxas :
   - Kirishima!- O loiro berrou da janela, debruçado no batente. A criatura sacudiu a cabeça bruscamente e seu olhar agressivo recaiu em Bakugou, Eijirou rosnou para o seu interior e voltou a se tornar uma grande fera mansa e o olhar suave.
   Kirishima levantou e saiu - com esforço - do celeiro, chegou próximo a casa e esticou a cabeça escamosa na direção do explosivo, bufou em seu rosto e Katsuki deixou sua mão afagar o focinho áspero. A íris carmim da criatura era a única característica que sobrara de sua forma de duas pernas, intenso e alegre, transparecia o prazer do carinho. O loiro nunca fora de ser o mais carinhoso, mas vê-lo como um dragão parecia deixá-los mais próximos. Bakugou encostou a testa na da criatura, que lhe fitou com o olhar vivido carmim de fundo dourado, mais uma vez seu coração palpitou forte, aquecido por aquele olhar seguro e sincero. O dragão se afastou e lambeu seu rosto, o loiro enfurecido tirou a baba da sua pele e a esfregou no focinho escamoso.
Saiu do quarto, se limpando com um pano, desceu as escadas e foi para o jardim. Montou no dorso de Eijirou e se impulsionaram para cima, alçando voo. Sua capa parecia querer se libertar, se debatendo no ar, Bakugou sorria vitorioso, como se tivesse acabado de ganhar uma coroa em conjunto com um reino. Era liberdade.
   Sobrevoaram a cidade e saíram da cordilheira, o reino dos Todoroki's era visível ao longe, viraram em direção a uma floresta densa e de um verde claro, lembrando o verão. As asas de Kirishima não eram as únicas a se pronunciarem, os pássaros grasnavam e voavam quando a dupla passava em velocidade descomunal. Bakugou mandou-o diminuir a velocidade, uma clareira um pouco a frente perto de um riacho lhe pareceu aconchegante e pousaram.
Uma pequena casa repousava, fechada, mas a fogueira ao lado de fora ainda tinha as cinzas da última vez acesa, e fora recente. Katsuki desceu do dragão, se arrumando e preparando a espada, caso o atacassem. Mas não aconteceu, nada nem ninguém apareceu e por isso pegou uma maçã de uma árvore e se sentou embaixo da mesma, observando Kirishima molhar as patas na água rasa. A maçã já estava no fim e Bakugou jogou-a longe, ele se levantou e deu uma volta na casa. Vazia, a lareira também tinha cinzas, na mesa arrumada uma fruteira vazia deixava os mosquitos à deriva. Uma cobertor dobrado em cima do sofá estava amassado e esquecido, o verão estava perto do fim e as noites começavam a esfriar mas quando o sol reinava no dia nada o impedia. O loiro deu a volta na casa de madeira e voltou à beira do riacho, " De novo, bastardo? ".
   Kirishima sacudia a cabeça bruscamente, rosnava, a cauda batendo na água jogando-a nos ares. Agressivo e brutal de natureza, dragões eram descritos de diversas maneiras, algumas como se encarnassem deuses, fossem bons ou ruins. Mas aquele estava fora do controle, sua mente parecia conturbada e enevoada.
Bakugou se aproximou, molhando as botas, seus olhos nocivos e descontrolados tinham as íris finas de agonia. O loiro se postou frente à criatura, fechou os punhos e desferiu um soco em seu focinho, com força, raspando a pele em escamas ásperas. Sua cabeça sacudiu uma última vez e o Kirishima voltara com um olhar perdido e completamente desesperado. O dragão se abaixou com a respiração quente batendo no seu rosto, Katsuki lhe agarrou o focinho, encostando a testa na dea criatura, que fechou os olhos.
   A respiração acelerada se acalmou, Kirishima voltara ao normal, mas ainda tinha o desespero no olhar :
   - Eu não vou ficar cuidando de você, bastardo. - Com os olhos fechados terminou a frase, quase em um sussurro. - Volte logo ao normal, Kirishima. - Ele fitou a criatura, sorrindo. Não era um sorriso dos mais carinhosos, mas tinha emaranhado uma preocupação real.
   Sobrevoaram a cidade e saíram da cordilheira. Incrivelmente o sol já se escondia atrás das montanhas e tomaram rumo de volta para a casa de Uraraka. Eijirou se enfiou no celeiro e depois de um banho refrescante Bakugou deitou na cama com os ouvidos doendo das advertências de Tsuyu. Seu sono não fora dos melhores já que foi perturbado por alguns rosnados vindos do dragão.
   Com os olhos pesados, o loiro se sentou na cama, com o pior dos humores. Levantou, indo até a cozinha onde se sentou em um banquinho envolta da bancada, era final de semana e Uraraka não teria aula, por isso estava fervendo ovos de pijama e cabelos bagunçados. Ela se virou tomando um susto ao ver Katsuki com a cara fechada e até tentou lhe dar um "Bom dia" mas desistindo ao ver o cenho franzido do explosivo :
   - Ele está estranho? Ficou inquieto a noite inteira. - Asui desceu as escadas, se referindo ao dragão e sua noite perturbada. - Bom dia, Urara...
   - Não importa que merda ele tem, cara de sapo! - Bakugou disse, bruscamente, se levantando e levando um queijo amanhecido e duro que estava ali em cima.
   Ele saiu da casa e seguiu para o celeiro, onde a criatura dormia como pedra, o que fez o loiro se enfurecer. Kirishima rosnara e rugira durante toda a noite, deixando olheiras em todos da casa e depois dormia como se não houvesse nada :
   - Acorda, seu réptil inútil! - Ele levantou a cabeça assustado com os chutes dolorosos no focinho. - Saía daí, bastardo de merda! - O explosivo o apressou ao ver o dragão sonolento. - Vamos, porra! - E com Kirishima ainda distraído, Bakugou se impulsou no dorso e se levantaram no ar.
   Seguiram em direção à clareira mais uma vez, o loiro achou o lugar confortável, e além disso a porta não era difícil de derrubar. O dragão pousou - sem a dificuldade de antes - e Katsuki saltou para o chão. A casa tinha o teto de madeira bruta e escura, as janelas e paredes eram mais clara, os vidros estavam envoltos em flores que cresceram da terra e pareciam ter sido podadas há pouco tempo. Bem cuidada, tinha uma aura delicada ao seu redor...ao menos até o momento de ter a porta aberta com um chute violento. Arrumada e com leve cheiro de rosas, Bakugou torceu o nariz para o odor suave que vinha das flores em cima da lareira, penduradas por um prego, como uma bela decoração.
   O explosivo se dirigiu ao armário, pegou a geleia e o pão e fez um lanche. Se sentou mais uma vez embaixo da árvore, a criatura escamosa descansou a cabeça no colo do loiro que fez uma careta :
   - Você é folgado, réptil. - O loiro se apoiou em Eijirou, que se rebelou e se sacudiu afastando o cotovelo em sua cabeça. - Mas o que...Ha?! Vá buscar a própria comida, perdedor de merda! - Kirishima não fez menção de levantar e lambeu do seu peito até seu rosto, deixando Katsuki melado de baba de dragão, o que não era nada agradável para o explosivo. - Filho da puta... - Bakugou parecia pior que uma criatura cuspidora de fogo. Como a imagem do próprio diabo, soltando faíscas pelos olhos e fumaça pelas narinas.
   Durante algum tempo, Kirishima correu de um loiro possesso de ódio, mas com olhares de perdão ele parou com a perseguição. O explosivo tirou a capa e jogou-a no pé da árvore, indo se lavar da saliva - já seca e grudenta de correr por entre as árvores. A criatura se aproximou e encostou o focinho no braço do outro, com um olhar intenso de nostalgia, fitou Bakugou. Bufando, o mesmo agarrou aquela cabeça grande e descansou a testa na do dragão :
   - Você gosta desse corpo, cabelo de merda? - Kirishima suspirou, a respiração quente esquentando seu tronco, como uma negação. Com um sentimento amargo e vergonhoso Bakugou Katsuki disse em um sussurro o que remoera durante os dias em que a pele deu lugar às escamas em Eijirou - Quero ver a porra do seu sorriso de novo, Kirishima.
   O coração do dragão sorriu, aquecido pelas palavras de um garoto loiro e explosivo.

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  Voltei! Eu espero que esteja bom, então por favor comentem se gostarem ;)
  Ahhhh obrigada pelos votos gente, as vezes eu tenho vontade de parar pensando "Que bosta eu escrevi aqui?" Mas acho que não posso desistir nos 45 do segundo tempo né?
  Por isso obrigada e continuem comigo e eu darei meu melhor💪
  Na parte "Ut Animan" eu coloquei em latim pq eu gosto e ponto, é isso.

Coração de dragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora