A história a seguir aconteceu no interior do Paraná, em junho de 2011.
04:34 AM
Acordei há pouco.
A paz nesta casa acabou quando elas apareceram.
Agora, estão lá baixo surrupiando minhas coisas. "Surrupiar", sinônimo bonito para "roubar".
Observo, há muito tempo, seus atos inaceitáveis. Sei exatamente como agem e atacam. Sei quase como pensam.
Enigmaticamente, só aparecem quando estou dormindo. Não dão as caras em outros horários do dia. Covardes.
Decidi, então, cessar o caos presente. Não estão à minha espera tão tarde da madrugada. Chegarei de surpresa lá em baixo — estão na cozinha — e darei um fim, matando-as. Todas elas irão morrer ainda hoje e nunca mais voltarei a me preocupar novamente.
Mais cedo, fui no armazém aqui perto. Comprei "o veneno dos venenos", pelo menos foi assim que o dono me descreveu o produto. "Mata até cavalo", disse o exagerado. De longe, avisto centenas — porventura mais. Quando em dois ou três largos passos, chego até elas.
— Formigas malditas! — exclamo após aplicar o veneno sobre seus corpos.
Estavam devorando um pedaço de bolo de cenoura com cobertura de chocolate, deixado propositalmente em cima da pia. Um elegante último prato de vossas vidas.
Volto a dormir.
...
06:45 AM
Desperto.
Enquanto visto minhas roupas, escuto ao fundo, as notícias pelo velho rádio.
"Mais vítimas da onda de assassinatos que vem assombrando a cidade! Duas mulheres foram mortas nesta madrugada enquanto dormiam. As informações acabaram de chegar e não temos quaisquer outros detalhes."
Aí tem coisa. Muitas pessoas têm sido assassinadas nos últimos meses. Homens e mulheres de família, adolescentes indefesos. Até mesmo idosos viúvos. Ninguém sabe o motivo ainda.
Sou o assessor do Prefeito e trabalho na prefeitura, do outro lado da cidade. Dirijo o carro até lá. Apesar da possibilidade de ir andando de uma ponta a outra da cidade em 30 minutos.
Desnecessário as pessoas terem carro podendo fazer tudo caminhando.
Moro aqui, nesta "grande" cidade desde os 18 anos de idade, quando comecei na prefeitura. Hoje, aos 21, ainda moro sozinho e sim... não sei cozinhar. Por isso em casa só tem "bobagens". Ou pelo menos tinha antes das maléficas formigas. Costumo tomar o café da manhã na padaria da Dona Bolos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Ruas Mortas
Mistério / SuspenseQual o seu rumo? O rumo de Arthur é descobrir quem ou que está por trás dos assassinatos de uma pequena cidade no interior do Paraná. Nesta jornada, conhecerá melhor a si mesmo e os moradores de lá.