Capítulo 15

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Embasbacada. É isso o que eu estou.
Pasma. Perplexa. Desacreditada.
Continuo olhando para o garoto, mas parece que não o vejo realmente. Na verdade, acho que não vejo e não escuto nada. Tudo o que sinto é um vazio se expandindo em meu peito, meu coração bombardeando contra as costelas e as suas palavras girando e girando dentro da cabeça.
Pisco. Pisco milhares de vezes. Como se fazê-lo fosse ajudar a absorver o que está acontecendo, mas é em vão. Eu simplesmente não consigo.
Envoltos por um silêncio desconcertante, nos confrontamos.
– Mas você é idiota ou o quê? – solto, indignada, e ele não responde – Pelo amor de Deus, John, por acaso você está ficando louco?
– Estou! Eu estou ficando completamente louco e a culpa é toda sua!
– Minha?
– Óbvio que é sua! – berra, furioso – Eu fiz o que me pediu, confiei em você, mesmo incomodado com a tal história do Jackson estar "nos protegendo" e todos aqueles malditos comentários dentro do colégio. E para quê? Para encontrar aquele filho da puta segurando você com uma intimidade que me revirou o estômago e perguntando "você está bem, meu amor?". Meu amor, porra!!
E mais uma vez eu não posso lhe tirar a razão. Se eu estivesse em seu lugar e ouvisse uma mulher qualquer dizer o que Jackson me disse, também estaria fula da vida. Mas a questão é que a situação está longe de ser o que aparenta, ainda que John não saiba disso - e, ao que tudo indica, não está disposto a saber. 
Ele anda de um lado para o outro, totalmente alterado. Passa os dedos entre os fios de seu cabelo molhado e volta a parar de frente para mim. Seus olhos estão mais escuros e gélidos do que sou capaz de lembrar. 
– E é exatamente por isso que eu cheguei ao meu limite. – diz com a voz raspando na garganta – Ou nós contamos a verdade para todo mundo, Clara, ou terminou!
– Você sabe que não podemos. – suspiro, começando a ficar desesperada – Consegue imaginar o que vai acontecer se souberem que estamos juntos? Além de você perder a sua bolsa, o seu futuro também...
– Foda-se! – grita de novo – Foda-se essa porcaria de bolsa e a merda do meu futuro. Eu estou pouco me lixando para isso!
– E o meu emprego? 
– Você pode muito bem arrumar outro. Há milhares de escolas espalhadas por aí
– Mas... Você está se ouvindo? – atordoada com a sua fúria desmedida e tudo o que está dizendo, eu o encaro com as sobrancelhas franzidas – Tudo bem que não esteja dando a mínima para o meu emprego. Tanto faz. Mas quanto a bolsa, isso eu não posso aceitar. Eu sei o quanto se esforçou pra consegui-la e tudo o que passou e continua passando para estar lá. Você não pode simplesmente jogar as coisas para o ar e...
– Você já parou para pensar que talvez eu tenha mudado de ideia? Que eu não queira mais estar naquela merda de colégio e tenha desistido de cantar? – fecha as mãos em punho e rosna – Caralho, você está mais preocupada com o meu futuro do que eu mesmo. O que você é, afinal? A minha mãe?!
Suas palavras me magoam profundamente. Eu jamais quis passar essa impressão. Jamais! Tudo o que eu queria era ajudá-lo a conquistar o seu sonho. Vê-lo tão apaixonado pela música e tão determinado em seus planos me inspiraram a isso.
Eu só queria fazê-lo feliz e ser uma parte de suas realizações. Mas talvez eu tenha ficado obcecada demais. Talvez tenha me intrometido mais do que o necessário.
Sinto minha garganta se fechando. Droga, estou com vontade de chorar.
John me olha. Seus lindos orbes negros permanecem impassíveis, sua expressão é dura. E eu tenho que encarar o teto para que as lágrimas recuem para dentro.
– Eu não me importo mais com a bolsa ou com essas tentativas idiotas de me tornar um cantor. Se para conseguir tudo isso eu sou obrigado a ser taxado de otário, eu prefiro ser um fracassado. De qualquer forma, esse é o final: fracasso.
– Por que está dizendo isso? – pergunto, num sopro. 
– Porque é a verdade! 
Transtornado como poucas vezes vi antes, o garoto arremessa a primeira coisa que encontra em direção a parede da cozinha, que calha de ser a sua garrafa de água.
– Eu devo ser muito patético, não é?! No fundo, você só queria me ajudar. Estava fazendo o seu papel de professora, apesar de tudo. – ele respira fundo e crava suas esferas negras em mim – Seja sincera comigo, eu fui apenas um passatempo e o Jackson é realmente o seu namorado, certo?!
– John, por favor, me escuta. Não é o que está pensando.
Mas ele não escuta. Novamente está dominado pela raiva e o ciúme, sem contar que o seu lado explosivo não deixa que nada entre em sua cabeça oca.
Em outras palavras, ele está cego e surdo. Tudo, menos mudo. Pois a sua voz reverbera igual a um trovão, de tão alta e rouca.
Durante longos minutos, apenas ele fala. Eu estou cansada. Cansada e aborrecida, e não sou capaz de lidar com ele desse jeito. Essa gritaria não nos levará a lugar algum, eu sei disso. E, sinceramente, não estou preparada para suportar os seus julgamentos em relação ao Adrian, caso ele não acredite no que eu disser. 
Se continuarmos assim, o que temos vai acabar e não será porque não contamos aos demais. Sinto que o meu mau gênio virá à tona e daremos início a Terceira Guerra Mundial. E antes que nós dois acabemos mais magoados e feridos do que já estamos, tenho que dar um basta nisso. Por mais que me doa, não posso continuar aqui. 
Não agora.
– Você está de cabeça quente, John. Nós não podemos conversar assim.
Ele se cala e me olha. Me olha, olha e olha. A tensão se construindo ao nosso redor.
– Se você sair por essa porta, Clara, eu vou entender que está tudo terminando.
Meu corpo paralisa. Eu o encaro e não encontro um pingo de hesitação.
Está falando sério? 
– Eu não posso conversar com você desse jeito. – insisto. Apesar da angústia, não vou deixá-lo me coagir dessa maneira – Não dá, John, simplesmente não dá! Você está nervoso, eu estou nervosa, e nada de bom sairá disso.
Mas, ele se mantém inabalável e me afronta de cima como se tivesse o rei na barriga.
Cabeça-dura desgraçado!
– Quando você estiver mais calmo, nós conversamos. Tudo bem? Amanhã talvez.
Sua resposta é o silêncio. Solto um suspiro. Eu o amo tanto, mas as vezes não posso suportá-lo; ajeito a alça da bolsa no ombro e o vislumbro uma última vez, querendo que enxergue todos os sentimentos que fervem em mim. Então viro-me e coloco os pés para fora de sua casa.
– Você fez a sua escolha.
Ele bate à porta em minhas costas e estou sozinha do lado de fora, incrédula.
Johnie fez? Ele realmente fez?
Fico de frente para a porta e penso seriamente em esmurrá-la, e dizer pouca e boas para o idiota atrás dela. A única coisa que eu pedi foi para que se acalmasse e então conversássemos quando os nossos ânimos estivessem melhores. Por que é tão difícil entender, droga?!
Tudo bem. Se é assim que ele quer, é assim que será. Apenas por hoje, pois amanhã eu voltarei aqui e não haverá quem nesse universo me tire de dentro dessa casa.
Desço as escadas pisando duro e me planto na calçada a espera de um táxi livre. As lágrimas querem jorrar feito uma cascata, porém, eu me nego a chorar. Acho que já tive humilhações demais por um dia, não preciso que pessoas estranhas me olhem torto por eu estar me debulhando no meio da rua.
Então, não. Eu não vou chorar.
Aaaaahhhh... A quem eu quero enganar? 
Se eu continuar engolindo o choro, tenho certeza de que vou sufocar. Sem contar que eu devo estar com uma cara horrível de tanto segurar.
Durante quase uma hora, permaneço a espera de um táxi e, por mais que o meu orgulho se contorça, na esperança de que ele desça a minha procura. Porém, nenhum dos dois aparece.
Me forço a não olhar para cima, ao longo das escadas e na tola expectativa de que ele esteja ali, e começo a caminhar rua à fora. Continuar parada é uma burrice e eu realmente preciso encontrar um táxi que me leve para casa, para bem longe daqui.
A cada passo que dou, a minha garganta se fecha um pouco mais. Cruzo os braços sobre o peito, tentando proteger o meu coração ferido e esconder os meus sentimentos quebrados do mundo, e prossigo andando.
Lembro-me de como John fechou a porta depois de dizer em alto e bom som que eu tinha feito a minha escolha, de como me encarou tão friamente e de como facilmente teve coragem de não se importar com qualquer coisa que não fosse o seu maldito ciúme. E a indignação vem certeira, igual a um tapa. Paft!
Subitamente, eu paro. O que estou fazendo, afinal? Desde quando me deixo levar desse jeito? Desde quando eu aceitaria todas essas baboseiras sem rebater, sem lutar?  
Eu não sou assim. Não e não. Definitivamente não!
Preciso retomar o controle e já! 
Como eu disse, para o bem ou para o mal, isso acaba hoje. Mas não vai ser do jeito que aquele idiota cabeça-dura quer.
Giro nos calcanhares, preparada para voltar e resolver o que for necessário, fazê-lo me ouvir nem que eu tenha que amarrá-lo. E mal posso acreditar nos meus olhos assim que deparo justamente com ele bem a minha frente.
Ofegante como se tivesse acabado de correr uma maratona, ele se debruça nos joelhos para recuperar o fôlego e enfim nossos olhares se encontram. Como sempre que estamos frente a frente, o mundo parece parar e só o que importa somos nós dois.
John se aproxima, passo a passo, até estar a centímetros de mim. Ainda calado, leva a minha mão até o centro do seu peito, perto do coração, e a pressiona ali com a sua. Posso sentir nitidamente os seus batimentos, tão frenéticos quanto os meus, e instantaneamente os meus olhos se enchem d'água.
– Bem aqui. – ele sussurra com a voz embargada – Dói, e dói muito.
Seus dedos apertam os meus com mais firmeza no instante em que eu agarro a sua camiseta. Minha respiração acelera. Minhas emoções estão por um fio.
– Desde aquele dia, eu tenho sentido uma dor horrível aqui. Tão intensa, que estava me enlouquecendo. Fazendo da minha cabeça um inferno e a enchendo de desconfianças, de medo e mágoa. E, pela primeira vez em toda a minha vida, eu não soube como lidar com tudo isso. Era demais para mim.
Com a mão ainda sobre a minha, se aproxima e estende a outra para tocar o meu rosto. Assim que me toca, eu inclino a cabeça sobre a sua palma quente e um soluço me escapa. Não posso mais segurar. Deixo que tudo venha à tona. 
– Mas eu percebi que, mais do que não saber lidar com esses sentimentos, eu não sei lidar com o fato de viver sem você, Clara. Simplesmente não posso. Porque eu amo você! Amo mais do que qualquer coisa, mais do que a mim mesmo.
Para a minha surpresa, vejo uma lágrima escorrer por seu rosto. E mais uma e mais outra. Assim como eu, John se põe a chorar. 
– Você é o meu primeiro amor, Clara, e isso as vezes ainda me assusta tanto. 
– Johnie...
– Me desculpe por tudo o que eu disse àquela hora. Estava fora de mim, machucado e ressentido, e acabei ferindo você. Por favor, me perdoe! Eu sei o quanto se preocupa comigo, mais do que qualquer outra pessoa e que me apoia quando ninguém mais o faz, e eu fui tão ingrato dizendo tudo aquilo. Eu... Eu realmente...
Balanço a cabeça, dizendo que está tudo bem. Ele não precisa explicar mais nada. Sinto a sua sinceridade e é isso o que importa. 
Ele está aqui e é o que importa.
Sinto-o me envolver em seus braços e eu apoio a testa em seu peito, inalando o cheiro da colônia que tanto gosto. E inevitavelmente, começo a chorar de novo. 
Pensar que talvez eu não pudesse mais fazer isso, abraça-lo e senti-lo tão perto, é apavorante. E acredito que John tenha pensado o mesmo, pois o tecido sobre o meu ombro fica cada vez mais molhado e ouço o burburinho de seus soluços.
Somos dois teimosos, orgulhosos. Nos odiamos em alguns momentos, nos amamos em outros. Temos o mundo contra nós. Mas não conseguimos viver um sem o outro.
– Ssshhh. Meu bem, não chore. – ele murmura, afagando os meus cabelos.
– Você também está chorando.
Sua risada soa baixinha e eu acabo por sorrir também. Porém, logo estamos em silêncio novamente, apenas desfrutando desse momento tão íntimo. 
– Nós não precisamos contar a ninguém. – diz ao se afastar – Nem agora e nem nunca, se você quiser. Eu estou disposto a continuar do jeito que estamos e...
Interrompo-o levando um dedo aos seus lábios e acaricio a sua bochecha com carinho.
– Não vamos falar sobre isso agora, tudo bem?! Assim como você, eu também não quero continuar escondendo que estamos juntos, mas temos que esperar. 
Ele consente e sem perder mais tempo, me encara com os seus grandes olhos escuros e agora úmidos pelo choro recente, e beija-me avidamente. 
Oh, céus! Como eu precisava disso!
Sem dar importância para o fato de estarmos no meio da rua, jogo os braços em torno de seu pescoço e agarro os fios macios de seu cabelo castanho, me entregando totalmente a sua boca tão doce e deliciosa. Eu o beijo, beijo e beijo.
Como há dias estou desejando fazer, deslizo a língua sobre a sua e me embriago com as sensações que vibram por todo o meu ser. Sensações estas que apenas ele consegue provocar. 
John. O meu John.
– Volta comigo para casa? – ele pergunta.
Eu concordo, sem pensar duas vezes. Claro que eu volto. Seria uma completa idiota se negasse. 
De mãos dadas, caminhamos para a sua casa. O trajeto é calmo. Ou quase isso, já que o garoto insiste em roubar um selinho a cada cinco segundos. Eu não reclamo, afinal, quero beijá-lo tanto quanto deseja me beijar. 
Assim que estamos diante as escadas que levam até a porta, sou surpreendida ao ser pega no colo e receber uma palmada em uma das coxas. Johnie dá uma piscadela e então sobe os degraus com uma facilidade que impressiona. 
Ao entrarmos, me encontro com o mesmo caos de antes, à não ser pelo o pequeno sofá que retornou ao seu devido lugar. Noto as bochechas do meu garoto corarem enquanto eu observo a bagunça que fez e sou incapaz de segurar uma risada quando ele cruza o cômodo para chegar em seu quarto. Onde, acredito eu, não esteja a mesma zona.
Com a delicadeza que sempre me encanta, me coloca sobre a sua cama e beija a ponta do meu nariz antes de se afastar. Meus olhos o acompanham pelo quarto. Ele dá alguns passos até parar ao lado da mesinha de estudos e então tira o celular do bolso. Me lança outra de suas piscadelas e a voz de Ed Sheeran cantando 'Thinking Out Loud' começa a soar no quarto.
Eu sorrio. 
– Dança comigo? – estende a mão e não demoro a aceitar o seu convite.
Passo os braços em volta do seu pescoço e estremeço ao sentir suas mãos grandes deslizando pelos contornos da minha cintura, pegando-me do jeito que só ele sabe.
– O que está fazendo? – indago, sem poder conter mais um sorriso.
Ele se aproxima mais e sussurra perto do meu ouvido:
– Mostrando o quanto sou apaixonado por você. E pedindo desculpas.
– Johnie, nós ainda precisamos conversar...
– Eu sei, meu bem. Mas agora, apenas dance comigo.
Louca de amores como nunca pensei que poderia ficar na vida e sem um pingo de vontade de interromper o que propõe, eu o acolho em meus braços e deixo que o balanço de seu corpo nos guie através da música.

"As pessoas se apaixonam de maneiras misteriosas
Talvez apenas com o toque de uma mão
Bem, eu, eu me apaixono por você a cada dia
Eu só quero te dizer que estou apaixonado

Então querida, agora, me abrace amorosamente
Beije-me sob a luz de mil estrelas
Coloque sua cabeça em meu coração que bate
Estou pensando alto
Talvez tenhamos achado o amor bem aqui onde estamos."

Me aninho em seu peito e aproveito para aspirar mais do seu perfume. O momento é tão romântico, que nem me reconheço por estar tão arrebatada por ele. Mas, não ligo. Se for ao seu lado, eu viro a própria rainha do romance. 
Curtimos um ao outro. Nosso calor, nosso toque, nossa respiração. Não precisamos de palavras para expressar o que sentimos. Não agora.
Porém, curiosa como só eu posso ser, tenho que perguntar: 
– Como sabia para onde eu estava indo?
– Eu estava observando você do topo das escadas. – ele sorri sem jeito enquanto eu arregalo os olhos – Sai para te procurar, mas não tive coragem de descer quando notei que ainda estava parada na calçada. Então fiquei apenas observando. 
– Estava esperando por um táxi, e por você também.
– Me desculpe!
– Posso fazer uma pergunta?
– O que quiser, meu bem.
– O que estava fazendo no karaokê hoje? Não era a sua folga?
– Fui chamado de última hora para cobrir um dos garçons que faltaram.
– Me desculpe por fazê-lo passar por aquilo. Não deve ter sido fácil.
– Não vamos falar sobre isso agora. Apenas dance comigo, huh?!
John me aperta mais contra si enquanto continuamos balançando de um lado para o outro ao compasso da melodia. 
 
"As pessoas se apaixonam de maneiras misteriosas
Talvez seja tudo parte de um plano
Bem, eu continuarei a cometer os mesmos erros
Esperando que você entenda

Então, querida, agora, me abrace amorosamente
Beije-me sob a luz de mil estrelas
Coloque sua cabeça em meu coração que bate
Estou pensando alto
Talvez tenhamos achado o amor bem aqui onde estamos."

Quando a música acaba, permanecemos agarradinhos, em nosso aconchego particular. Dançamos mais uma, 'Photograpf', também do Ed Sheeran.
Mas assim que a sensual 'Love On The Brain' da Rihanna inicia, sinto todas as terminações nervosas do meu corpo entrarem em alerta. Num segundo, fico ofegante.
O romantismo chegou ao fim.
Johnie me encara. Seus redondos e expressivos olhos negros tornam-se felinos, arrebatadores. O aperto ao redor da minha cintura se intensifica e eu suspiro, cada vez mais excitada. O desejo subindo desde as pontas dos pés até o último fio de cabelo.
Fecho os olhos no instante em que sua boca encontra a minha, com paixão, com tesão. Minhas pernas tremem com o contato da sua língua quente e macia, dançando, rolando, fazendo amor com a minha. Tão bruta e ao mesmo tempo tão gentil.
Sem abandonar os meus lábios, puxa o elástico que prende o meu cabelo e mete os dedos entre as mechas soltas, segurando com firmeza. Reivindica os meus gemidos e eu lhe dou com todo o prazer. E sou incapaz de não revirar os olhos quando o seu suspiro reverbera em minha boca, vindo do fundo da sua garganta, forte e alucinante.
Sinto a sua ereção cutucar a minha barriga. Erguer-se e endurecer como uma rocha. Minha vagina se lubrifica. Se expande, fogosa e receptiva, pronta para tomá-lo fundo e forte. Para acolher até a última gota da sua satisfação, do nosso desejo.
– Preciso de você, Clara, e preciso agora! – ele sussurra rente aos meus lábios.
E então a minha cabeça para de funcionar e o meu corpo entra no comando.
Tiro a camiseta e jogo no chão, o sutiã vai logo depois, e estou nua da cintura para cima. Sob o olhar ardente do meu garoto, acaricio os seios, brinco com os mamilos até deixá-los eriçados, e os seguro firme em sua direção.
– Toma-me!
Suas pupilas se dilatam, suas narinas se contraem, e eu sei que consegui o que queria.
Em um movimento predatório, Johnie me agarra e espalma a mão em minhas costas, oferecendo-me a sua boca gulosa, que chupa e mordisca os meus mamilos com verdadeira maestria. Primeiro um, depois o outro. Ele molha, excita com a ponta da língua e o abocanha todo. Enviando ondas e ondas de prazer para o meu corpo.
Eu ofego. Eu tremo. Eu suspiro. 
O meio entre as minhas pernas se encharca enquanto ele se esbanja e mama com uma ânsia que me faz delirar. Porém, eu quero mais. Muito, muito mais. E vejo em seus olhos que essa necessidade é mútua. Nós nos queremos, nós nos desejamos.
Meu garoto ajoelha e leva as mãos até o botão da saia que eu uso. Antes que possa arrastá-lo para fora, pego no tecido da sua camiseta e digo:
– Levante os braços.
Ele o faz e em segundos tenho a visão perfeita dos seus músculos. Huuummm... Gostoso! Eu o vislumbro por um instante, apreciando a sua beleza, mas não me contenho em arranhar bem devagar a pele amorenada de seus ombros largos. John abre a boca para soltar um gemido e espreme os olhos em puro deleite, demonstrando o quanto gosta que eu o toque dessa maneira. E, bem, quem sou eu para negar?
Sem perder mais tempo e desfrutando dos carinhos que faço, abaixa o zíper da saia e em segundos o tecido desliza por minhas pernas, e eu o chuto para longe. Encaixa os dedos nas tiras da minha calcinha, mas, ao contrário do que eu imagino, não a tira e muito menos rasga. Sensualmente esfrega o rosto no meu púbis, beija-o e caricia por cima da fina renda preta e só então a transforma em trapos.
– Você precisa parar de rasgar as minhas calcinhas, sabe.
– Eu já disse que prefiro te ver com as minhas cuecas.
Eu reviro os olhos. Como se isso fosse justificativa para esse seu fetiche.
Exibindo um sorriso mais do que travesso, ajeita a minha perna sobre o ombro, me abrindo para si, e me toca com um dedo. Arrasta-o para cima e para baixo, espalhando os meus fluidos, para enfiar até o fundo.  
– Eu vou chupar você agora. – mexe o dedo para dentro e para fora, fazendo-me segurar em seus cabelos para não cair – Vou beber do seu mel e depois farei você provar do seu sabor, o que acha? Você quer, professora?
– Sim... Sim...
Acalorada com sua proposta tão indecente, levo os dedos até os lábios encharcados do meu sexo e os separo. John dá uma lambida no centro do meu prazer e eu grito, ensandecida. Por um segundo penso que vou desabar de tanto que tremo, mas o meu garoto me segura firme pela bunda e continua o seu ataque. Mete a língua e a gira, de um lado para o outro, contornando a minha carne escorregadia e úmida.
Com pequenas batidinhas que me levam para o céu, estimula o meu clitóris inchado e excitado, enquanto massageia as bandas da minha bunda e um de seus dedos brinca ao redor do meu ânus. Pressiona a ponta ali, me fazendo contrair e relaxar. Ao passo que os seus lábios devoram a minha boceta como se fosse a melhor das iguarias.
– Clara... – me forço a abrir os olhos quando ouço-o chamar e inclino a cabeça para olhá-lo – Tenho que te comer ou não vou aguentar por muito tempo.
Querendo que se satisfaça tanto quanto eu, roço o meu sexo em sua boca pela última vez e o puxo para saborear do meu gosto. Ele me beija afoitamente à medida que tenta se livrar da bermuda e da boxer. Como a pessoa solidária que sou, me agacho para terminar de despi-lo e simplesmente ofego ao depara com o seu pau maravilhosamente duro, apontando diretamente para o meu rosto.
– Por favor, não faça isso... – suspira de maneira aflita, com se lesse os meus pensamentos – Não vou durar dois minutos se fizer.
Acho que nem eu duraria se começasse a chupá-lo. Esses dias separados levou o nosso desejo as alturas e estamos mais sensíveis do que o normal.
Meu garoto me ergue em seus braços e caminha até a sua mesinha de estudos. Num movimento rápido, manda os cadernos e o celular para o chão e me põe sentada bem na beirada. Sua boca volta a cobrir a minha. Me beija, me adora. E então afasta os meus joelhos para acomodar-se entre eles e a minha mão o guia para onde eu o quero.
Nós dois gememos, alto o suficiente para a vizinhança inteira escutar. Johnie estreme na primeira arremetida, aperta o lábio inferior com os dentes, e o meu corpo simplesmente amolece de tanto prazer. Caio desajeitada sobre a mesinha, por pouco não bato com a cabeça na parede, e me entrego a sua mercê. Ofegante e sedenta.
Suas mãos deslizam por minhas coxas cobertas de suor e se detêm abaixo dos meus joelhos, e me abre mais. Me arreganha, me mostra. E então mergulha em mim com mais força, com mais rapidez. Seus olhos estão fixos no ponto onde nossos sexos se encontram e a luxúria faísca a cada vez que me penetra.
Eu, dominada pelo sentimento de satisfação que inunda o seu rosto, me apoio nos cotovelos e me ergo até estar sentada novamente. Meus olhos vão direto para baixo e fico hipnotizada com a imagem dos nossos corpos se unindo, deslizando um para o outro, nos tornando únicos. 
– Está vendo como me acolhe bem? – ele sussurra, estocando mais devagar – Como somos perfeitos um para o outro?
Não consigo falar. A minha voz estava presa na garganta. Eu apenas observo o seu pau entrando e saindo de mim, desaparecendo lá no fundo e voltando para me tomar de novo. E de novo e de novo. Conforme um orgasmo se constrói no meu interior.
Durante um longo instante, nós nos amamos lentamente, sentindo a pulsação um do outro. Mas, ainda que fazer desse jeito também seja gostoso, eu tenho de gozar. 
Agora! Já! 
– Johnie... Eu preciso...
Ele ofega e aumenta as estocadas. Meu corpo sacode e sinto aquele conhecido calor crescendo desde os dedos dos pés; vendo que estou perto, põe o dedo sobre os meus lábios e diz:
– Chupa.
Abocanho o seu polegar e o chupo como um verdadeiro pirulito. Umedeço o quanto posso e, assim que o tira da minha boca, o pressiona no meu clitóris dilatado, mexendo no mesmo ritmo que seus quadris.
– Oh céus! Assim... Mais rápido... Mais...
Os meus quadris vão de encontro aos seus e ao dedo que trabalha tão bem no meu botão excitado. Raspo as unhas em seu abdômen até chegar as linhas estreitas da sua cintura e as enfio ali no segundo em que explodo em frenesi, e grito o seu nome
Ele rosna rente ao meu ouvido, mostrando que também está perto. Muito perto.
Sem tirar o pênis de dentro, me leva até a parede mais próxima e volta a socar com força. Apesar do meu corpo estar mole pelo orgasmo recente, travo as pernas ao redor da sua cintura e me abro para recebê-lo em busca do seu prazer. 
Uma... Duas... Dez... Quinze...
John me aperta com os quadris e enfia o rosto na curva do meu pescoço. Seu corpo inteiro treme. Seus gemidos me deixam louca.
– Eu vou... Aaahh...
O seu gozo me invade como uma onda. Forte e espesso. Cobrindo cada parte de mim.
Durante alguns segundos, ele continua tremendo, mas assim que se recupera e busca o meu rosto - provavelmente corado -, dá um sorriso de coelhinho mimado e solta:
– Ah, caralho!! Como eu senti a sua falta. – sorri de maneira preguiçosa – Tudo bem?
– Eu também senti a sua! – sorrio e lhe dou um beijo nos lábios – Eu amo você.
– Não mais do que eu amo você.
Nós dois rimos, como os bobos apaixonados que somos, e novamente nos beijamos.
Aparentemente sem forças para chegar na cama, ele gira e encosta na parede. Seu corpo desliza comigo até encontrar o chão e eu me deito entre as suas pernas, ficando com o quadril no meio de suas coxas e os joelhos flexionados. Suas mãos acariciam suavemente a minha barriga enquanto nós nos observamos em silêncio.
Silêncio este que eu, com muito custo, sou obrigada a romper. Embora eu queira continuar nesse clima, sem ter que pensar em problemas, esse não é o certo a fazer. Agora que estamos mais calmos e nos entendemos, talvez seja o melhor momento.
– John.
– Huh? 
– Nós precisamos mesmo conversar.
– Não podemos fazer isso mais tarde? Para falar a verdade, eu não creio que você precisa explicar o que aconteceu. Eu acredito em você e...
– Não, Johnie. Eu tenho que falar. É importante para mim.
Ele balança a cabeça, concordando. Vejo que está intrigado com a minha insistência, mas é melhor colocarmos as coisas à limpo de uma vez por todas. 
– Tudo bem. – solta um suspiro – Deixe-me apenas levá-la para a cama e ali podemos conversar mais confortáveis.
Pegando-me pela cintura, o garoto me ajuda a sentar e então vamos para a sua cama. Da gavetinha de seu criado-mudo, ele tira um pacote de lenços umedecidos, abre as minhas pernas e gentilmente me limpa. Faz o mesmo consigo e joga os lenços sujos na pequena lixeira ao lado da sua mesinha.
Deitamos um de frente para o outro. Sua mão pousa sobre os meus cabelos e o meu coração começa a bater depressa. Apesar de não haver qualquer sentimento ruim ou estranho em seu olhar negro, não posso evitar me sentir nervosa.
– O que você quer falar tem a ver com o que aconteceu envolvendo o Jackson, certo?!
– Eu sei que não é o melhor momento, já que nós acabamos de... Bem... 
– Está tudo bem. – dá-me um sorriso encorajador – Pode falar.
Engulo em seco. É a hora.
– Quando eu disse que o Jackson nos ajudou ao dizer que era o meu namorado, não era mentira. O mesmo aconteceu hoje lá no karaokê. 
– E por que ele nos ajudou?
– Porque o novo investidor do colégio, o tal Adrian, ele é o meu ex-namorado.
– O que? Seu ex-namorado?
– Sim. Nós namoramos durante cinco anos, enquanto eu morava na Espanha. 
Percebo que as suas sobrancelhas se franzem. Não está gostando nada do rumo da conversa, mas eu não posso parar. Não agora.
– Só que isso não é tudo.
– Como assim?
– O Adrian... – respiro fundo, tentando me manter calma – O Adrian era violento comigo. Nós tínhamos um relacionamento abusivo.
John me encara e seus olhos triplicam de tamanho. Devagar, se põe sentado e eu me junto ao seu lado, fazendo o mesmo. Durante longos minutos, ele não fala, apenas olha para a parede do outro lado do quarto. Seu rosto está pálido.
– Ele... Ele batia em você? – balbucia, movendo os olhos até mim, onde percebo uma chama de ódio crescendo.
– Entre outras coisas, sim.
– Que outras coisas?
– Johnie...
– Me fala, por favor.
– Me... Me ameaçava e, como eu disse, era violento comigo. – encaro-o e seus orbes estão mais escuros do que antes – No começo, óbvio, foi tudo mil maravilhas. Ele era um perfeito cavalheiro, gentil e amoroso, mostrava se preocupar muito comigo. Mas não demorou para que a máscara de bom moço caísse. Primeiro foram acusações sem sentido. Depois controlava tudo o que eu fazia, para onde eu ia ou com que me relacionava. E então, as agressões verbais e... As físicas.
– Clara...
– Fora cinco anos! Cinco anos aguentando um esse inferno, até que eu finalmente conseguisse me livrar. Ele sempre era agressivo, mas toda vez prometia que não faria mais. Tudo mentira! Ele dizia que ninguém nunca me amaria ou aceitaria além dele. Em uma das tantas brigas, chegou até a ameaçar um suicídio caso eu o largasse, e fui ficando cada vez mais como medo de como ele pode reagir. Se ele realmente atentasse contra a própria vida, a culpa seria minha e eu nunca me perdoaria.
Rio sem humor, recordando o quão tola eu fui.
–  Evidentemente, ele nunca fez nada do que disse. Está é muito bem vivo.
John me abraça. Abraça forte. E aconchego na proteção de seus braços.
– Eu decidi seguir a minha vida, apesar de toda a carga emocional que esse relacionamento provocou, tentei estar com outras pessoas. Afinal, eu não permitiria que ele continuasse controlando a minha vida, mesmo estando fora dela. – eu continuo – Mas a questão é que, apesar de todas as tentativas, não passava de sexo casual ou, se acontecia algo mais sério, eu logo dava uma jeito de terminar.
– Você tinha medo, não é?! De acontecer tudo de novo?
– No fundo, eu acho que sim. Mas então, eu encontrei você.
O garoto sorri e beija os meus cabelos. E logo pergunta:
– Depois que vocês terminaram, ele voltou a importunar?
– Para ser franca, sim. Teve uma época que o Adrian começou a me seguir. Foi por essa e outras que decidi mudar de país, então, durante três anos, não o vi mais. Ouvi falar, porém, ignorei. E calhou de nos reencontramos bem aqui. – suspiro profundamente – Agora que ele descobriu que sou professora no colégio, anda me coagindo e...
– Ele está andando atrás de você?
– Infelizmente sim. Uma das situações em que ele estava me coibindo foi no dia em que o Jackson disse que era o meu namorado e a outra foi...
– Eu vou pegar esse cara!!! – ele grita e eu tomo um susto.
Minha pulsação vai à mil. Eu sabia que reagiria mal e agora preciso arrumar um jeito acalmá-lo, ou teremos mais problemas.
– Se acalme!
– Quando eu encontrar esse filho da puta... – sua respiração acelera, num sinal claro de que está perdendo o controle – Eu vou... Eu vou...
– Johnie, por favor, fique calmo. Eu não contei a você para que fosse tirar satisfações com ele e muito menos para que se envolva em um problema. Eu contei porque você tinha o direito de saber e eu não queria esconder um assunto desses. 
– Então quer dizer que eu devo simplesmente ficar de braços cruzados e deixar que ele continue intimidando você?!
– Claro que não. É só que... Céus! Ele é o investidor daquela droga de colégio e os superiores não vão pensar duas vezes em favorecê-lo caso haja uma briga entre vocês. 
Ele solta um suspiro e passa a mão nervosamente entre os cabelos. Entende o que quero dizer e sabe que não pode rebater, pois eu tenho razão. 
Ficamos ambos calados, olhando um para o outro. A tensão surgindo entre nós. John bagunça os seus fios castanhos, visivelmente incomodado, e me observa aflito.
– Eu quero te proteger, Clara! Você é a minha mulher, a minha namorada, e eu não posso deixar que um babaca lhe faça mal outra vez. Nenhuma vez!
Se é possível uma pessoa se apaixonar mais do que já é apaixonada, eu acabo de conseguir essa proeza. Encaro o garoto a minha frente e não há mais qualquer dúvida - embora já não houvesse a muito tempo. 
Quem diria que o amor da minha vida seria um adolescente de dezenove anos.
– Johnie... –  pego em suas mãos e tento cobri-las com as minhas, ainda que a diferença de tamanho seja enorme – O que importa é que você está comigo. Daqui a alguns dias, o Adrian vai assinar o contrato e voltará para a Espanha, e nós não o veremos de novo. Eu sei que pode ser difícil para você, mas, por favor... Por favor, deixe as coisas como estão. Deixe que as pessoas acreditem que o Jackson é o meu namorado.
–  Eu não sei se consigo, Clara.
– Você sabe melhor do que ninguém que isso não é verdade. Que eu amo você e somente você! Mas se os outros acreditarem nesse namoro, o nosso ficará a salvo. E assim que o semestre terminar e a sua formatura acontecer, nós diremos a todos que estamos juntos. E então ninguém poderá ser contra o nosso amor.
Johnie segura as minhas mãos com firmeza. Pende a cabeça para baixo um instante e depois de um longo suspiro, me olha e então diz:
– Tudo bem. Eu farei isso.
Aliviada com a sua escolha, me jogo sobre si e sou acolhida por um abraço.
– Obrigada!
– Apesar de não ser do jeito que eu quero, eu vou nos proteger. – enterrando o rosto em meu pescoço, beija-me a pele e murmura – Eu vou proteger você, Clara.

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