Capítulo 25

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Débora narrando ⭐

Comemos a lasanha em silêncio, a chuva lá fora já havia parado. Estávamos sentados no sofá, olhando para televisão que estava ligada. Eu não tinha menor ideia do que estava passando, não estava prestando a mínima atenção.

— Essa televisão está ligada a toa né? Porque acho que assim como eu, você não está prestando atenção em nada. — Arthur comentou.

— Digamos que você possa ter razão.

— Sempre tenho razão. Acha que pode se acostumar com isso?

O encarei no mesmo momento, ele estava me encarando com um sorriso nos lábios. Foi impossível não retribuir aquele sorriso. Balancei os ombros e fiquei silêncio, como da primeira vez.

— Você ficou com raiva de mim? Quer dizer, você achou que eu só queria levar você para cama e depois ir embora? — perguntou quebrando os minutos de silêncio.

Desviei os olhos dos dele, e encarei minhas mãos.

— Por incrível que pareça não. Eu nunca fiquei com raiva de você, fiquei com raiva da situação. Minhas amigas diziam isso que eu era idiota, por achar que você se apaixonou por mim. — respondi sincera.

— Podemos ir lá fora? Já parou de chover. — sugeriu.

Assenti, então levantamos e caminhamos até a parte de fora. Minha vestimenta não era das melhores para ficar em uma varanda, mas naquela época do ano, quase não havia ninguém por ali. Sentamos nas cadeiras de palha, me encolhi toda, enfiando meus joelhos dentro da camisa, estava começando esfriar.

— Lembra quando eu disse que eu estava passando por um momento difícil? — ele não me olhava. Então respondi em voz alta um “sim”. — Bom, meu pai estava internado, ele tinha câncer, estava em estado terminal. — continuou olhando-o, ele ficou olhando para o céu, talvez perdido em seus pensamentos e lembranças. — Quando eu soube da doença eu estava com dezessete anos, eu já era meio rebelde, então tudo piorou. Comecei me envolver com drogas, cada vez meu pai piorava mais, e eu me afundava mais, deixei até o surfe de lado. Naquele verão, minha mãe pediu que não viajasse, mas eu não queria ficar lá e ver meu pai morrer. Então vim para cá assim mesmo. Quanto te encontrei no píer aquele dia, minha mãe havia acabado de ligar e avisar que meu pai havia entrado em coma. — ele soltou um suspiro, e percebi que seus olhos estavam brilhando demais, eram lágrimas. Ai meu Deus! Eu queria abraça-lo. Mas não o fiz, deixei que ele terminasse.

— Mas, quando eu encontrei você, toda atrapalhada, foi estranho sabe?! Ficamos conversando, e eu ri mais naquelas horas do que nos últimos meses. Eu não queria sair de perto de você, porque de algum jeito você me fazia esquecer aquela sensação ruim. Se eu te disser que aquele foi o melhor dia da minha vida, você acredita? Até ali eu tinha decepcionado minha família, deixei minha mãe sozinha com minha irmã que na época tinha onze anos. Fui tão egoísta que achei que só eu que sentia aquela dor. Quando eu acordei na manhã seguinte, minha mãe havia ligado e dito que meu pai havia falecido. Eu enlouqueci, saí da casa e fiquei andando sem rumo. Quando voltei já estava escurecendo, mas você não estava mais lá, ninguém sabia de que garota eu estava falando. Minha terapeuta disse que eu bloqueio tudo, os sentimentos ruins. Nesses anos todos, eu não lembrava do seu rosto. Eu lembrava de você, mas não do seu rosto. E isso era muito frustante, por isso não te reconheci.

Ele respirou fundo, pensei que ele iria continuar falando, mas ele só permaneceu em silêncio. Então, decidi falar.

— Quando acordei, eu achei que você tivesse pela casa. Procurei você por todo canto, perguntei seus amigos, naquela época eles te chamavam de “Turco”. Um deles riu na minha cara e disse que se você havia ido embora, era porque não queria ter que me despachar. Então eu fui embora, nosso avião iria sair naquele dia mesmo. Eu nunca contei para ninguém, minhas amigas e meus pais, só sabiam de dizer que eu voltei diferente da viagem. Eles só souberam quando... — soltei um suspiro. — Eu descobri que estava grávida.

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