Caminhou apressada pela rua, sentindo o frio cortante bater em seu rosto e seus olhos lacrimejarem. Suas mãos estavam firmemente escondidas no bolso do casaco, mas sem suas luvas de lã ela ainda não sentia que estavam realmente protegidas.
Entrou na loja já ouvindo o burburinho das pessoas que, como ela, buscavam abrigo e café. A fila estava grande, mas nada que a fizesse ter vontade de caminhar mais um quarteirão até a outra loja. Tirou as mãos do bolso e esfregou uma na outra, mais uma vez desejando não ter esquecido as luvas em casa. Maldita troca de bolsas, sempre acabava esquecendo algo importante.
Quando percebeu que era a próxima na fila resolveu pegar logo a carteira na bolsa. Não gostava de ser uma daquelas pessoas que demoram tanto para fazer o pedido e pagar que fazem as pessoas ainda na fila rolarem os olhos. Ao tirar a carteira viu a agenda cair no chão.
- Droga. - Reclamou.
Abaixou-se para pegar a agenda, mas o rapaz atrás dela na fila foi mais rápido.
- Obrigada.
Desde pequena ela sempre teve mania de nunca prestar realmente atenção nas pessoas. Só as olhava nos olhos quando estava conversando, algo nesse gesto a deixava um tanto intimidada. No entanto, ao olhar rapidamente o rapaz atrás de si e agradecer sua gentileza, teve a impressão de conhecer o rosto dele de algum lugar.
A moça do caixa chamou o próximo cliente, ela então não teve muito tempo para pensar de onde poderia conhecer o rapaz.
Pediu um café com leite - o maior que eles tivessem, claro - e foi para o balcão de espera, onde três pessoas já se amontoavam, esperando seus nomes serem chamados.
Olhou pelo vidro e viu que começara a nevar novamente. Ela gostava de neve, achava que as ruas ficavam mais bonitas e fazia o final de janeiro ainda parecer final de Dezembro, bem na época de Natal.
Ouviu seu nome ser chamado e pegou o copo de café, sorrindo para a atendente. Subiu as escadas que davam para uma área da loja menos movimentada. Sentou em uma das mesas vazias e pegou a agenda novamente, querendo saber o que tinha programado para aquele dia.
Enquanto lia as anotações que havia feito no dia anterior, viu que o rapaz que a devolvera sua agenda também fora para o andar de cima. Ao passar por sua mesa ele sorriu, cortês. Dando uma olhada melhor nele ela percebeu que realmente o conhecia, mas por mais que tentasse não se lembrava de onde. Desejou que ele tivesse sentado à mesa em frente a sua, seria mais fácil lembrar-se de onde o conhecia se pudesse observar seu rosto com mais cuidado.
Resolveu deixar de lado a questão do estranho conhecido, precisava se apressar se quisesse chegar a tempo no trabalho. Com uma reunião de departamento para comandar, tinha que seguir a risca a programação que fizera na noite anterior.
Releu as notas que fizera na agenda uma última vez, antes de se levantar e se preparar para enfrentar mais um pouco de frio até a estação de trem.
Ao entrar no terminal ouviu a voz já conhecida que anunciava que seu trem partiria em cinco minutos. Entrou no vagão ainda vazio e sentou-se próxima a janela. Não demorou até o vagão encher, por sorte deixando-a sozinha em um banco para duas pessoas. Quando ouviu o anuncio de que o trem estava partindo, alguém sentou ao seu lado. Pelo jeito que a pessoa ofegava, estava claro que havia corrido e quase perdido o trem.
Por curiosidade, olhou para o lado, surpreendendo-se ao encontrar o mesmo rapaz da loja que pegara sua agenda do chão. Ele também pareceu surpreso por vê-la ali. Sorriram ao mesmo tempo, aquele tipo de sorriso que mostra que eles já compartilharam um momento assim antes e achavam engraçado que tal momento tivesse se repetido.
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2030
RomanceAos 35 anos Emily Muller não pensou que a vida poderia mais surpreendê-la. Até ela encontrar uma antiga paixão platônica que mexe com ela de forma inesperada e a faz perceber que talvez o seu final feliz seja apenas o começo.