Há fins que vem para o bem

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-Eu não queria te dizer, mas eu vi o Henrique beijando outra na festa ontem a noite.

Oi?! Não, eu só posso ter ouvido errado, é isso. Não,não, não, não. Isso não pode está acontecendo comigo. Calma Juliana, respira. Você consegue garota, não chora. Segura isso ai. Eu estava tentando digerir o que a Raysa tinha me falado agora a pouco, mas aquela notícia parecia que estava rasgando minha garganta. Pisco duas vezes e escuto ela me chamando.

-Juh, você está bem?

Aqueles olhos castanhos me fitam, por um momento eu reparo na sobrancelha dela. Deus, por que o senhor não foi generoso comigo assim? Se eu tivesse metade da beleza dessa morena eu provavelmente não estaria passando por isso. Ou não, sei lá, vai ver existe caras idiotas como o Henrique para todas as garotas. Dou uma risada nervosa.

-Okay, ufa! por pouco eu acreditei, ein Raysa? É uma pegadinha que vocês resolveram fazer comigo por que meu aniversário está próximo não é? Não faz mais isso em garota.

Outra risada nervosa. O que diabos eu estava falando? Mas só podia ser brincadeira. Tudo bem, outras pessoas já tinham vindo me falar das "possíveis" traições do Henrique, mas nunca liguei para isso. Ele dizia que eram invejosos querendo nos afastar, se eu acreditava? Claro que eu acreditava. Mas a Raysa falar isso para mim é diferente. Ela é minha amiga. O Henrique é de uma família nobre da cidade, estamos juntos à uns dois anos. Ele era aquele tipo play boy que todas as garotas se abririam para ele no primeiro piscar de olhos e eu só era a Juliana. A garota que não era nem morena, nem loira e brigava todos os dias no espelho com o cabelo. A louca dos romances clichês, a menina que foi para festa na piscina da Bianca no 1° ano do ensino médio fantasiada de fada do dente só por que não tinha sido atenta o suficiente para ver que o tema da festa tinha sido mudado na última hora. Não tinha outra razão para ele está comigo a não ser o amor, certo? Errado! A cara que  a Raysa fazia enquanto me observava só me deixava pior. Era algo como uma mistura de culpa com pena que me fazia querer se jogar pela janela do restaurante em cima de um carro qualquer.

-Como ele pode fazer isso comigo?

Falo, aceitando, por fim. As lágrimas já caiam e eu não me importava se as pessoas me veriam chorando. Desde criança, sempre me importei em não chorar na frente de alguém. Uma vez, vi em um desenho que quando você chorava na frente de alguém você demonstrava ser fraca. Passei o dia todo pensando naquilo, não queria demonstrar para ninguém que eu era fraca. Eu era? afinal de contas, por que dizer que dói te faz mais fraco?

- Calma amiga. O Henrique é um babaca. Você sempre soube disso, desde a primeira vez que ficou com ele no carnaval à três anos atrás. Ele demorou 1 ano para te assumir como namorada Juh. Nem sei por que uma moça como você ficou com ele esse tempo todo.

Eu também não sabia. Eu só queria viver uma história de amor verdadeira, alguém que pudesse me tirar de órbita. O Henrique me fazia questionar meus princípios, me deixava confusa, talvez isso fosse amar. Eu não sei. Meu cúpido deveria ter colocado uma placa com luzes brilhantes e uma enorme seta apontando para ele dizendo "esse é o amor da sua vida" ou algo como "corre que esse nem Iemanjá quer como oferenda",mas não teve placa, não teve luzes, não teve seta... NÃO TEVE SINAL ALGUM. Aliás, eu me pergunto como as pessoas podem assumir com tanta certeza que encontraram o amor da sua vida. Na real? Para mim deve ser a mesma coisa, sei lá, será que as famosas borboletas no estômago é algo como uma dor de barriga?

-Tudo bem. Eu só... Preciso ir para casa

Levanto e vejo a Raysa me seguindo. A essa altura todos me olhavam, mas eu não ligava. Eu só precisava chegar em casa. Entro no carro com a Raysa e ela dirige para fora do estacionamento. As vezes ela me olhava, tentava puxar assunto, me perguntava como eu estava, mas eu não a respondia. Eu sei que para ela era difícil, ela teve que falar para sua melhor amiga que viu o namorado dela com outra, mas sua amiga não acreditou nas outras vezes. Encosto minha cabeça no vidro do carro. Lembro que quando criança sempre quis viver algo como as protagonistas dos meus livros favoritos, mas agora, passando por isso, parecia que eu estava no conto de fadas errado.

Enquanto o amor não chegaOnde histórias criam vida. Descubra agora