Capítulo Único - Regression

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Meus olhos se abrem. Entretanto, tudo que consigo pensar é na quantidade de horas para eles se fecharem — dessa vez, para sempre.

Levanto meu braço e encaro o contador. Quinze segundos se passaram enquanto eu o olhava, restando-me meras 15 horas e 23 minutos para ele ser zerado. Em seguida, meu coração parará de bater.

Sorrio ao ouvir a chuva que cai do lado de fora. Eu poderia apenas esperar e morrer, mas um clima desse pede por mais um banho frio. Com dificuldade, arrasto as pernas pelo colchão, fazendo meus pés baterem no chão de forma abrupta. Sentei-me na cama e apoiei a cabeça nas palmas das mãos, buscando, de alguma forma, força interna para levantar o corpo.

—Vamos lá, Louis. Apenas mais um dia. Seu último dia. — digo com pesar, tentando convencer-me de que logo tudo acabaria. Com esse pensamento, deixei a cama para trás.

A barba por fazer e o olhar amargo estavam marcantes assim que encarei o espelho do banheiro. Mas não fiz questão de arrumar coisa alguma. Deixei o cômodo e, em seguida, a casa, atrapalhando-me ao vestir o casaco de frio. Era mais cômodo colocá-lo por cima das roupas do que trocar todas as peças.

Os pés descalços não demoraram a ficarem molhados, assim como o resto do corpo. Ignorando, sentei-me em um banco vazio em frente ao bosque e ergui a cabeça. Os pingos levaram milésimos para cairem ao redor de todo o meu rosto, e em minutos, eu estava chorando. Não sabia mais diferenciar lágrimas de chuva, e não importei.

É simples: tudo dói demais.

Fomos nascidos e criados para sermos tristes. Todos dizem: tenha um bom emprego e ganhe tempo. Mas ninguém, nem ao menos uma alma viva, lhe diz o que fazer depois. Mate-se de trabalho, e quando alcançar o que almeja, será feliz. Terá a maior casa, o melhor carro, a maior quantia de tempo, as melhores férias, a melhor reputação. Com isso, colocará um sorriso verdadeiro na cara.

Por que, então, não me sinto feliz?

Por que, então, o melhor sorriso que consigo dar não mostra meus dentes?

Por que, no auge dos meus 26 anos, após gastar rios de dinheiro, não me sinto ganhador de nem ao menos um pingo de felicidade?

É a partir dessa reflexão que chego aonde estou hoje: sentado num banco velho em plena véspera de ano novo, falido. Nos últimos meses, em uma busca desesperada por felicidade, meu tempo foi investido por completo em instituições de caridade. Não que eu me arrependa, porém, esqueci de coisas primordiais, como meu egoísmo e, em consequência, de minhas necessidades básicas.

Nunca duvide das ações de uma pessoa em pleno desespero. Há dias, eu era Louis Tomlinson, o cara conhecido e admirado por toda Londres. Agora? Prazer, "Só O Louis" , de acordo com a vizinha após tomar um ligeiro susto quando eu apareci em sua frente de modo inusitado.

De qualquer forma, agora não adianta chorar. Meus séculos se foram, e a melhor forma de aceitar e lidar com esse fato, é esperando que o contador zere.

Abro os olhos e noto a garoa. A chuva já não estava tão forte, e as lágrimas já seriam notadas caso alguém passasse por perto. Assim, levantei-me. Com fome, torci para encontrar algo aberto e rodeei o quarteirão. Acabei por gastar minutos com algo para comer. Qual é, ninguém é de ferro, ainda mais minha barriga.

De volta ao apartamento, não demoro a sentar-me no sofá e pegar o celular. Diversas fotos apareciam ao longo da tela, muitas, em específico, mostrando o quanto as pessoas que haviam achado suas almas gêmeas estavam felizes. "Sem mais tempo para se preocupar", relatava uma das legendas. É, sortudos.

Ou talvez não. De certo alguém inventará outra moeda de troca. É sempre assim.

Digamos que há muito desisti do pensamento de sequer encontrar a alma gêmea. Convenhamos, bilhões de pessoas no mundo, e a certa pra mim estará por perto? Não sou tão sortudo assim, e isso já não é algo incômodo, minha morte é certa de qualquer forma.

Regression [Larry Oneshot]Onde histórias criam vida. Descubra agora