Capítulo único

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"Apaixone-se quando estiver pronto, não  estiver solitário"

Desde pequeno eu sempre tive a mesma filosofia.
Apesar de não entender na época, foi o que minha mãe disse para mim, minutos antes de falecer. E quem diria que eu ia fazer exatamente o oposto, quando conheci você...

Laufey foi para mim, a mãe que toda a criança merecia ter, carinhosa, doce, companheira e acima de tudo, me amava com todas as suas forças. Eu, que nunca tive amigos na infância, minha mãe conseguia me fazer a criança mais amada do mundo com todo o carinho e atenção que ela me proporcionava. Mesmo com as crianças cruéis que insistiam em me chamar de "aberração" por não falar com ninguém na escola, mesmo com os burburinhos e risadas dos meus colegas de sala quando a professora me fazia ficar de pé para recitar algum poema, que de acordo com ela, eu era o aluno com a melhor leitura da sala. Mesmo com meu pai, Fárbauti, sendo sempre maldoso tanto comigo, quanto com a minha mãe.

Quando pequeno, eu não entendia o motivo de minha mãe estar sempre chorando no quarto quando meu pai saía, muito menos o motivo dela estar com tantos hematomas ao redor do corpo, apenas dizendo que "estava tudo bem" ou "não se preocupe com isso, filho". E como uma típica criança ingênua, acreditei em suas palavras.
Acontecimentos assim acabaram por se tornar rotina, até que em um dia comum de escola ao chegar em casa, me vi totalmente confuso ao avistar uma ambulância em frente a minha casa.
O depoimento diz que Laufey sofreu de miocardite aguda, que aparentemente a mesma herdou de sua avó, que faleceu pela mesma causa.
O motivo para a inflamação ter se alastrado de uma hora pra outra é desconhecido até hoje.
A hipótese que os médicos deram, era simplesmente pelos seus níveis de estresse que poderiam estar altos.
Eu preferi deixar a teoria de que isso tudo aconteceu por consequência dos abusos do meu pai contra a minha mãe de lado, afinal, o que uma criança de oito anos faria com uma informação dessas sem orientação nenhuma?

E com a morte da minha mãe, tudo desmoronou para mim, aquele poço de felicidade que eu tinha, havia secado de uma hora pra outra. As crianças da escola me deixaram em paz por um bom tempo, afinal, cidade pequena, praticamente todos os pais sendo vizinhos, muito provavelmente os pais obrigaram os fedelhos a serem gentis com o garoto sem amigos que perdeu a mãe. E a gentileza deles, era ignorar completamente a minha existência.
Minha vida se seguiu assim depois dos meus 3 meses de luto, meu pai deve ter achado que esse tempo era suficiente para eu aceitar a morte da minha mãe, assim ele poderia desviar todas as agressões dela para mim.
Se eu me comportasse, um soco na costela era o suficiente para ele me manter "na linha".

E se eu sobrevivi desde meus oito anos até chegar no ensino médio com isso, sentia que havia uma fagulha de esperança no final desse caos todo que eu chamo de vida.

E foi aí que apareceu você.

O garoto novo na cidade que tinha se mudado com os pais para uma cidadezinha no interior, para uma vida longe da cidade grande, Thor Odinson.

Sinceramente, eu não via nada demais em você no início, só mais um garoto mimado que saiu da cidade grande pra se exibir pros "abutres" daquela escola, que se surpreendem com qualquer coisa nova que aparece nesse fim de mundo. Minha opinião que criei sobre você já estava formada, e como você já estava se enturmando quando observei você de longe, imaginei que você ia ser só mais um que eu iria considerar "inimigo".

Mas não. Você foi até mim pra pedir uma informação boba sobre seus horários na escola, e depois começou a puxar assuntos que eu não fazia questão alguma de prolongar, respondendo com murmúrios e balançares de cabeça. Apesar do meu jeito nada convidativo, você continuou do meu lado naquele banco da escola, comendo o seu sanduíche enquanto me observava lendo algum livro.
Eu não era bom com relações(nunca fui, pra dizer a verdade), mas mesmo assim você passou a me considerar o seu amigo, indo conversar comigo sempre que me via lendo ou sendo ignorado pela maioria dos alunos.
Você que sempre teve a atenção dos nossos colegas de sala desde que se mudou pra cá, tinha várias pessoas para conversar, te fazendo perguntas de como era viver em seattle, resolveu se sentar ao meu lado e ficar comendo o seu tão amado sanduíche caseiro até que conseguisse ouvir um som de mim que não fosse um resmungo.
Você conseguiu afinal, a primeira palavra que eu dirigi a você foi "você é idiota ou o quê?", o que só fez você rir e dizer "sou seu amigo ué".
Apesar de eu tentar me afastar de você de todas as formas, você conseguiu o que queria no final, conseguiu que eu te considerasse meu amigo(o melhor que eu já tive), fez com que eu me sentisse bem, depois de tanto tempo. Suas bobagens e assuntos banais me fizeram voltar para a época que eu ria com a minha mãe de algum desenho bobo que passava na televisão, mas era diferente com você, não era como eu me sentia com a minha mãe, era bom...Mas era diferente.
Eu nem sei quando começou, mas eu passei a pensar muito em você de uma hora para outra. Sonhava com você e me sentia bem na maioria deles, pois eles eram muito melhores que os pesadelos que eu tinha com os gritos da minha mãe, graças ao meu pai.
Sua presença se tornou uma coisa essencial para mim, mesmo que eu não tivesse demonstrado muito para você, eu me importava muito.
E eu acho que hoje em dia nós dois sabemos que isso que eu sentia era só uma paixão platônica, não?
Uma daquelas bem longas e dolorosas, que durou o meu ensino médio inteiro desde que me aproximei de você. Eu não o culpo, afinal, você não sabia, as vezes eu acho que sou uma incógnita pra você, nunca demonstrei realmente afeto por você, por mais que eu sentisse(e em excesso), admito que até eu não me entendo, quando eu me olho no espelho, só consigo ver uma enorme interrogação estampada no lugar onde devia se encontrar o meu rosto.

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⏰ Última atualização: Jan 05, 2019 ⏰

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