O Conde. || 1

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Egoísta.
Era o que sempre fui. Minha vida era perfeita: Dinheiro, "amigos" e claro, algumas mulheres,mas não estava satisfeito.Não tinha a vida que queria,por isso, reclama de tudo:  Como meus "amigos" não estavam aqui, das mulheres, até mesmo do dinheiro.
Até perder tudo.
Claro, já perdi muita coisa: Dólares na rua, algumas amizades que não me interessavam..
Mas não era uma coisa, era tudo.

Me lembro bem de como tudo aconteceu, estava saindo do Asa Hospital quando uma mulher idosa, com varios lenços em volta do corpo, olhos esbugalhados e dedos longos com unhas afiadas me chama atenção, sua voz parecia ter saído do inferno, era como uma porta velha sendo aberta num filme de terror, ela diz:

-- Salim-Nahan - Como ela sabia meu nome verdadeiro? Foi mudado anos atrás no cartório, ninguém sabe desse nome, ninguém. - Não desejo lhe assustar, pobre homem. Vejo em tua vida uma enorme onda de ingratidão..

-- Se queres dinheiro para ler minha mão, desista, está gastando meu tempo. Não tenho esmola para você.

-- Ha Ha..Dinheiro? Acha que isso importa? Tolo.. Você acha que dinheiro é o centro de tudo, não? Pois vou lhe fazer uma proposta, meu caro Salim,  você não verá mais a luz do sol e viverá eternamente como um belo e encantador jovem, todos se cairão por você, dinheiro não faltará. Sua maldição só acabará quando você tiver seis filhos de seis casamentos diferentes, deve estar me perguntando por quê uma tarefa tão fácil? Você observará cada uma dessas mulheres morrer dolorosamente às meia noite, quando seu filho casar, e seu espírito o assombrará pelo resto de sua eternidade até sua tarefa terminar.

-- Acha que uma velha cartomante pode decidir meu futuro? Sabe quem EU sou?

-- Sei tudo sobre você, até mesmo coisas que guardou para seu túmulo. Tudo, inclusive sobre Bellora.. Ou Lora, não é assim que chamavas?

-- O que é você? Veja, cartomante, minha intenção nunca foi te desrespeitar mesmo quando cruelmente te ofendia, peço teu perdão e que esqueça minha ingratidão.

-- Tarde demais.

Por um instante tudo sumiu, o hospital, a senhora, tudo. Não existia Asa Hospital e tudo que meus olhos contemplavam era uma casa tão grande quanto vazia que meus olhos nunca viram nada assim.

Precisava saber quem EU era, quão absurdo é a idéia de não saber seu próprio rosto? Meu reflexo sumiu como meu último sentimento de empatia, uma imensidão de vazio me consumia e aquele reflexo não aparecia. Eu não.. Existia?

Não tinha por onde começar, meu corpo doía da transformação e meu coração ansiava por alguém como nunca fez antes, ele gritava, berrava. Era um desejo insaciável, queria com corpo e alma alguém ao meu lado, seja um amor carnal, platônico ou qualquer coisa que a literatura queira chamar. Só quero alguém que me faça sentir vivo de novo.
Foi assim que conheci Louise Charpentier

Mal suspeitava o estrago que causaria em meus mais profundos sentimentos.
Em meu coração.

Midnight FlowersOnde histórias criam vida. Descubra agora