VI

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Rolei para o lado na cama sem realmente me dar conta que horas eram, meu quarto estava ainda escuro e o barulho do ar condicionado tomava todo ambiente. Naquele sábado eu estava de folga e a primeira coisa que havia de fato aproveitado, além de um jantar fenomenal com meu marido, era Catarina ter dormido a noite inteira. Minha filha nunca foi um bebê difícil, apenas pedia por suas necessidades quando necessário. Fazíamos uma rotina desde recém-nascida que ela seguia muito bem, mas pelo menos uma vez na noite éramos despertados. Seja por fralda, a chupeta que caiu ou simplesmente necessidade de aconchego.

Passei a mão pelo lugar do meu marido e estava vazio. Joguei minha cabeça para trás novamente, nossa menininha provavelmente já estava de pé. Literalmente. Ver Catarina começar a andar foi a coisa mais emocionante da minha vida. Tê-la em meus braços pela primeira vez e entrar na igreja olhando diretamente para seu pai, empatavam em segundo lugar. Minha família era amor e em cada gesto eu via rastros desse sentimento. Despluguei o celular do carregador e ele marcava pouco mais das sete da manhã, levantei sentindo meus músculos doerem e não da maneira que me agradava. Minha personagem atual era uma lutadora, e mesmo que muita coisa fosse ensaiada, eu vivia chegando repleta de marcas em casa.

Prendi meu cabelo enquanto escovava os dentes e tive uma pequena surpresa quando levantei minha cabeça e mirei através do espelho. Como poderiam ser tão iguais? Ambos tinham a cara amassada, o cabelo bagunçado e aqueles olhos claros pela manhã. A diferença é que Catarina mastigava um brinquedinho de borracha totalmente acomodada no colo do pai. Cuspi novamente e enxaguei minha boca desligando a torneira.

- Acordaram cedo, ein? – me aproximei dos dois. Dei um cheiro no pescoço dela e um selinho em seus lábios.

- Sua filha despertou as seis e meia da manhã. – Nicolas me respondeu mal humorado, sorri – Já comemos, brincamos de bichinho, ela já andou aquela sala toda e agora me mordeu. Ela me mordeu, Ju.

- O que você fez para que ela te mordesse? Meu bebê não é assim. – Catarina continuava mordendo seu bichinho como se não fosse com ela, era incrível como desde pequena já se fazia de sonsa. – Você mordeu o papai, filha?

Ela tirou o brinquedinho da boca e encarou Nicolas por alguns segundos, as mãozinhas gordas não tardaram em virem em minha direção se abrindo e fechando.

- Mamamã – balbuciou se jogando e escondendo o rostinho na curva do meu pescoço.

- Ela é igualzinha a você. – ele brincou enquanto levava meu corpo junto a si.

Tomamos um café da manhã tranquilo ao som de uma das vozes que mais amávamos: Lulu Santos. Eu me pegava dançando com Catarina no meio da cozinha enquanto Nicolas nos preparava o que comer, eram momentos assim que me enchiam o peito. A felicidade não estava nos grandes acontecimentos, nas grandes coisas. Ela estava na capacidade de se sentir amado, acolhido, importante. E eu sentia com eles coisas que jamais me foram dadas com tanta intensidade antes. Comemos em nossa varanda, Cat pulou de colo em colo e resolveu fazer as pazes com o pai. Eram puxa saco demais um do outro para se manterem "brigados".

- O que faremos hoje? – ele perguntou enquanto amparava a filha, agora sentadinha em cima da mesa só de fralda e chupeta. Ela se distraíra com a própria barriga que estava enorme por sinal. – Temos o dia livre.

- Estava pensando em leva-la na praia pela primeira vez. – encostei na cadeira bebendo o resto do meu chá.

- Todo sábado de manhã eu passeio com ela na orla, Ju – falou como se fosse óbvio – Não fomos hoje porque a senhorita aqui dormiu demais.

- Eu to dizendo levar no mar, sabe? Nunca entramos com a Cat! Sempre pedimos para minha mãe ficar com ela quando damos um mergulho.

- Você quer entrar na água, peixinha? – Nicolas a trouxe para si e ela balançou as perninhas animada. Quando Catarina completou três meses, pensamos na possibilidade de colocá-la na natação, mas meu marido fez questão de ensina-la a nadar por ele mesmo. Descíamos os três para a piscina do condomínio e eu me deliciava em ver os dois na água. Agora com quase dez meses, ela já batia as perninhas e mãozinhas e ás vezes até arriscava um mergulho no colo do pai.

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