Capítulo 5

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Depois do "encontro" com o León, voltei para o Studio e esperei o Ramallo vir me buscar. Não esperei sozinha, a Fran ia comigo pra casa por causa da mãe dela. Eu não me importava nenhum pouco, muito pelo contrário, eu ia adorar ter uma amiga esta noite. Só espero que ela não exagere. A Fran fala demais.

Conversamos bastante. Já era previsto que ela ia ultrapassar os limites e chegou um tempo que ela começou a falar sozinha porque eu não conseguia de tão rápido que estava o seu ritmo. Não só por isso. A minha mente foi para bem longe. Não tão longe. Ela permanecia no mesmo condomínio onde moro, talvez em um ou dois quarteirões de distância. No León.

Pela hora, a família Vargas já deve ter servido o jantar, estariam todos à mesa com aquele sentimento de harmonia, amizade, fraternidade e tudo que é de bom. Eu poderia tirar dessa lista o fato de que em todo jantar o León e seu irmão gêmeo, que não tem nada a ver com ele, o Jonas, brigam. Para ser bem sincera, estaria bem errado se não brigassem. Não é nada físico, só algumas piadinhas e indiretas sem graça que ficavam soltando no ar.

Eu sentia falta de estar ali. Eu sentia falta do León. Eu sentia falta do meu León. Ainda tinha esperança de que ele descubra que sou eu.

Com isso, meus pensamentos foram para bem longe, saindo até mesmo do condomínio. Só acordei quando minha mãe entrou no quarto com uma bandeja que tinha três copos com suco. Três?

– Sobre o que conversavam? – perguntou, colocando a bandeja em cima da minha escrivaninha.

Olhei para a Francesca, suplicando que ela falasse por mim. Eu não sabia do que ela estava falando comigo. Ela percebeu que eu não tinha prestado atenção e me olhou com cara feia, fingindo estar decepcionada, mas logo respondeu a pergunta da minha mãe.

– Estávamos falando sobre o primeiro dia de aula da Vilu, de como não imaginávamos que íamos entrar em uma escola de música e sobre ela ter me deixado plantada, esperando porque saiu com um garoto – ela soltou um risinho irônico pra mim. Nem falamos sobre isso, tampouco sei como ela descobriu porque em nenhum momento falei que ia sair com o León. Claro que ela queria se vingar por eu não tê-la escutado, só não precisava inverter os papéis. Tenho certeza que foi ela que me deixou esperando para trocar umas "palavras" com algum garoto aí.

+++

Resolvi me vingar da Francesca e a acordei hoje bem mais cedo que o horário de costume. O despertador dela tocava às seis horas. Eu não ia adiantar, pois ia ficar muito óbvio. O que eu fiz foi alterar a hora do celular dela.

No fim das contas, deu tudo certo. A Francesca levantou às cinco horas, jurando que era cinco, o pior (ou melhor) é que ela nem percebeu. O que eu não gostei nisso foi que ela veio me acordar se não ia perder a hora. Foi bem chato isso, mas foi muito engraçado vendo-a dizer que a casa toda estava com preguiça, acordando tarde, sendo que foi ela que acordou cedo demais.

Ela só veio se dar conta por causa do café da manhã, na hora que ela foi falar com a mãe dela. Pensei que ela ia descobrir naquele instante, mas sabe o que ela pensou? Que era o horário de verão! Que eu saiba, não está em período de horário de verão.

Depois de tomar café, fui para o Studio. Tive aula de dança com o professor Gregório, ele era tão exigente quanto o meu professor de química do ano passado, ou até mais. Nessa primeira experiência já me dei conta do quanto vou ter que me esforçar nessa disciplina. Talvez isso tenha me deixado menos nervosa do que saber que a aula seguinte era de canto. Quem dá aula de canto? Exatamente, Maria Saramago, vulgo minha mãe.

Troquei de roupa e fui para a sala. Esperava entrar e ver uma sala normal, com um quadro branco, um birô e carteiras. Pelo visto, aqui não existe isso. As salas são bem coloridas e, ao invés de carteiras, nos acomodamos em puffs distribuídos de forma que todos fiquem confortáveis. Sentei-me em um que ficava na frente. Nunca gostei de ficar atrás ou no meio.

Mi Corazón Es TuyoOnde histórias criam vida. Descubra agora