Meu Capitão

A tarde está quente, tão quente como nunca havia visto. Batuta está novamente embriagado ao convés, caído feito um pescado fresco. Maneta que recebera esse apelido, pois uma de suas mãos não é desenvolvida, é do tamanho de uma mão de criança. Ele com seu jeito único, segura o esfregão. A tarde toda ele tenta tirar uma mancha de sangue do chão. Horas antes, ali mesmo onde ele esfrega, Morgami extrairá um dente a ponta de faca. Todos o assistiam fazendo o ato de bravura.

–Arg. O maldito que sangra e eu que limpo! – Maneta reclamava enquanto dança a marcha do esfrega-esfrega.

Estou à frente da cabine do Capitão Jefem, ele está lá dentro descansando, contou nosso ouro à manhã toda. Muito ouro. Eu por outro lado estou descascando as batatas. Sou o que os marujos dizem, "pirata sem argola", estou aprendendo a ser pirata, mas, contudo preciso começar em algum lugar, mesmo que ele seja na cozinha.
Essa tripulação tem um rito de passagem muito peculiar. Ao contrário dos outros piratas, esses só colocam a argola quando são oficialmente piratas. "Temos que mostrar bravura e coragem para receber tal honra"! '' É o que Morgami me disse à primeira vez que embarquei na Abre-mares. O nome do nosso navio.

Escuto um tintilar de moedas, o Capitão acordou! Penso eu deixando as batatas de lado e olhando para trás. Ao vê-lo, meu coração acelera. Isso me acontece desde que o vi pela primeira vez, e nunca irei me esquecer daquele dia. O dia que ele salvou minha vida.

***

Em uma de suas bravas aventuras atrás de riqueza e soberania. Capitão Jefem e incumbiu de invadir sorrateira mente uma estalagem, cujas historias diziam que era responsável de movimentar grande poder monetário. Na cruzada da noite fora de horário de funcionamento ele adentrou por umas das saídas de água, que ficavam nos fundos. Eu estava no quarto do meu senhor Melet. aquele me retirou das ruas, viu como estava sedento por comida. Vendo meus trejeitos peculiares e minha boa aparência, me propôs uma troca. Meus afagos noturnos por um teto e refeição. No entanto ao chegar lá à proposta tomou rumos dramaticamente diferentes. Eu havia sido obrigado a mostrar meu corpo a todos. Sem contar que servia de escravo, tudo por uma meia banda de pão e água no final da noite.

O publico que frequentava a estalagem eram de homens com interesses particulares em outros homens. Publicamente ter esse tipo de interesse é levado como o pior dos crimes. Punido severamente com uma horrível morte publica. O segredo do grande sucesso financeiro desta estalagem é o grande preço pelo segredo dos homens.

Capitão Jefem, entrou na esguelha pelo quarto. Eu estava massageando Melet. Um par de correntes e vergalhões prendiam minhas pernas á cama dele. Ouvi o gemido das dobradiças, ao me virar me deparo com ele, Jefem empunhando uma adaga de prata. No momento o fato dele ser capitão de um navio pirata, não veio à tona. Ele não anda mal vestido, sujo ou com um cheiro desagradável. Ele se passaria por um charmoso Lorde caso andasse em publico. Seu olhar azul marino penetrou nos meus olhos me deixando paralisado. "Por que raios parou a massagem?" Melet de costas para Jefem não o vira entrar. Mantenho-me em silencio. Jefem vendo os vergalhões em mim entendeu a minha situação. Com um sinal ele pediu que eu continuasse a massagem em Melet, que por um instante teria se virado para ele. Mas o meu retorno ao trabalho o fez conter esse impulso e voltou-se a deitar. Jefem se aproximou calmamente e com a adaga cortou o pescoço de Melet. Enrijecido com a cena que acabei de presenciar me ponho a gritar. "Não me mate, não me mate!". Capitão encostou seu dedo indicador em meus lábios, o resultado disso foi meio silencio. Ele se agacha e com a ponta da adaga de prata agora coberta de sangue, destranca os vergalhões que me prendiam. Naquele momento não sabia o que fazer. Fazia dias sem uma refeição, às forças não me restavam mais. Ao tentar sair pela porta do quarto acabo desfalecendo.