Faltando bem pouco para eu completar meu vigésimo sexto ano de vida decidi que estava na hora de começar a ser mais responsável. Acho que tinha chegado nessa conclusão provavelmente porque sou um homem adulto que ainda morava sobre o teto da avó e evitava qualquer contato com pessoas além das duas mulheres que moravam junto comigo.
Eu passava horas na cama, lendo os mesmos livros, escutando as mesmas músicas dos anos 80, raramente me alimentava e dedicava quase todo o meu tempo livre pensando nas coisas que não consigo fazer por estar melancólico e recluso. Minha irmã dizia que eu estava deprimido e talvez essa seja a verdade absoluta, porém eu me recusava a aceitar que estava cedendo a depressão novamente depois de anos sem ingerir nenhum tipo de medicamento controlado.
Sempre que meu aniversário estava chegando minha mente parecia travar uma guerra entre ser racional e aceitar que as coisas em meu passado jamais seriam mudadas ou me afundar em um mar de raiva e tristeza. Quase todos os anos eram desse jeito, tinha me acostumado, contudo, naquele mês em particular Nayeon - minha adorável irmã mais nova - encontrava-se planejando algo e com toda certeza apenas uma das opções acima estariam convidadas a comparecer.
Para ser sincero esperava que ela e a senhora Seulgi - minha avó - chutassem meu corpo para fora do quarto e me fizessem acompanha-las até algum restaurante de comida tradicional coreana onde desfrutaríamos de uma deliciosa refeição enquanto ambas tentavam me fazer sorrir.
Não que isso fosse impossível, eu sorria muitas vezes quando estava acompanhado delas, só que sorrir significava estar feliz e sendo realista eu não me sentia nem um pouco feliz naquela data, e acho que elas tinham plena noção disso porque ao contrário de tudo que estive imaginando quando enfim o dia chegou, elas não fizeram absolutamente nada. Eu fiquei apreensivo e de certo modo feliz por elas entenderem que para mim não havia nada a ser comemorado naquela data.
Lembro-me de ter passado o dia todo relendo um dos meus livros favoritos e ignorando todos os sentimentos indesejados que ousavam aparecer às vezes. Já poderia ser considerado um avanço. Contudo, naquela noite, quando faltavam míseros minutos para acabar o dia Nayeon bateu suavemente na porta da minha adorada caverna duas vezes e abriu adentrando apenas sua cabeça pelo vão da porta pedindo permissão apenas com o olhar para que pudesse entrar.
Me recordo detalhadamente da minha avó se juntar a ela e em seguida se acomodarem na ponta da minha cama, enquanto eu me encontrava debaixo do cobertor apenas observando o movimento das duas sem contestar absolutamente nada.
- Já faz algum tempo que eu e a vovó estamos preparando isso. - Nayeon resolveu quebrar o silêncio exatamente um minuto após dar meia-noite, atitude que é óbvio não deixei passar despercebida.
Geralmente ela não ficava quieta já que em dias normais - o que não era o caso deste - a morena nem ao menos pediria permissão para entrar no meu quarto e muito menos permaneceria sem dizer nada por alguns minutos enquanto me olhava. Ela detestava ficar perto de mim e por mais que eu soubesse que era tudo encenação agia como se o sentimento fosse completamente recíproco.
- Resolvemos te dar um presente. - ela fez aspas com os dedos enfatizando a palavra presente - como percebeu tecnicamente não é mais seu aniversário então estamos respeitando seu espaço que você sempre diz querer ter.
- Exatamente mocinho. - minha avó disse enquanto seu olhar transmitia um enorme carinho.
Elas estavam tensas, como se temessem a minha reação para o que quer que fosse o "presente". Sendo honesto eu estava realmente curioso naquele momento.
- Seguinte, um mês atrás eu achei uma lista no meio dos teus livros velhos - deu de ombros como se não tivesse acabado de ofender meus filhos - De coisas que você considera impossível para si mesmo.
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O segredo dos teus olhos • jjk+pjm
RomanceJimin não se lembrava da última vez em que sentiu-se confortável na presença de alguém, e Jungkook, seu vizinho cego, não era somente uma boa companhia. O rapaz incrivelmente carismático, tinha lhe cativado no primeiro minuto e estava despertando se...