O manicômio

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Um conto fictício baseado em fatos reais.

Autora Eli Souza

Barbacena ,Minas gerais , Brasil. Século xx .

Naquela manhã de terça feira, dia 8 de junho de 1965; o tempo estava fechado. Apesar de estar bem agasalhada com uma jaqueta felpuda ; o vento gelado que vinha das montanhas era penetrante.

Meu pai fazia aniversário naquele dia , cantarolava feliz. Me pegou no colo, e giravamos sorrindo.  Ao colocar-me no chão, acabei caindo por ter ficado tonta.
_Nao faça isso com sua filha, numa dessas ,ela pode se machucar.-disse minha mãe me levantando.
Pisquei para o meu pai, e ele piscou de volta. Estava tudo bem.
_Estamos indo na estação buscar a Ana Paula. Em uma hora estamos de volta.- falou minha mãe segurando minha mão ,indo em direção a porta.
A estação não era muito longe, fomos andando. No caminho , paramos em uma lojinha. Minha mãe pediu para eu escolher uma ,de duas gravatas que estava em suas mãos. Escolhi a de listras cinzas. A atendente embrulhou em papel de presente.
Continuamos andando até a estação. O trem já havia chegado, e no meio daquela multidão; minha mãe procurava por sua amiga Ana Paula.

_ Mãe, compra uma pipoca pra mim?-pedi puxando seu vestido.
Ela pegou o dinheiro em sua bolsa e pediu uma pipoca ao atendente da pequena lanchonete.
Enquanto minha mãe levantava os pés , olhando em todas as direções. Eu acabei me afastando. Quando dei por mim, estava perto de um vagão fechado , com muitas frestas. Tinha pessoas lá dentro, e muito barulho. Pelas frestas, pude ver os rostos de algumas dessas pessoas. Quando sinto uma mão que vinha de dentro do vagão, segurar o meu pequeno braço. Não tive medo, enfiei a mão no saquinho de pipoca e ofereci para essa mão que me segurava. Ela me soltou, abriu a mão, e coloquei o montinho de pipoca. A mão voltou para dentro do vagão; numa fresta mais acima , o rosto de mulher apareceu .
_Obrigada garotinha. Deus te pague -Disse a mulher olhando para mim.
Era negra , e ao tocar em minha mão ,deu um contraste com o tom de minha pele branca.
A manga da blusa de frio ,que minha mãe havia dobrado, deixava aparecer uma mancha com formato de um rio , que começava na munheca e terminava na dobra do braço.
_Parece um rio no seu braço garota.-falou a mulher colocando a mão aberta para fora novamente. Quando ia colocar mais um montinho de pipoca em sua mão, minha mãe me puxa para trás.
_Eu pedi para você não se afastar de mim Beatriz. Você vai ficar de castigo quando chegarmos em casa.-dizia minha mãe me puxando pelo braço. Mas consegui me soltar, e corri para perto do vagão. Entreguei o saquinho de pipoca na mão daquela mulher. Minha mãe me puxou pelos cabelos dessa vez. Um policial bateu a mão no saquinho de pipoca, antes que a mulher pudesse puxa-lo para dentro. Bateu várias vezes com o cacetete , ao redor do vagão; e deste , não saiu mais nenhum ruído.

Minha mãe , que já havia encontrado a amiga dela; foi até a nossa casa segurando firme a minha mão. Me levou para o quarto, pegou a palmatória:
_Me dê sua mão.
_ Não mamãe, eu não faço denovo. Me desculpe.
Ela abriu minha mão e bateu 3 vezes com a palmatória. Doeu um pouco, mas minha mão , não chegou a ficar vermelha.
_ Nunca mais se aproxime daqueles vagões. Tá me escutando?
_Nunca mais mamãe. Me desculpe.
_Voce tem 6 anos, já é uma mocinha; tem que se comportar como tal.
_Esta bem mãe.- falei chateada.- mamãe, só me fala por que aquelas pessoas não saíram do vagão ,como as outras pessoas fazem?
Minha mãe que já estava de saída, olhou para trás e respondeu:
_ Porque elas são loucas , Beatriz. São pessoas perigosas ,e estão sendo levadas para o hospício. -Respondeu já fechando a porta.
Apesar da minha pouca idade na época, eu fiquei muito pensativa, e o rosto daquela mulher, permaneceu em minha memória. E o que eu jamais poderia imaginar, era que um dia eu a encontraria novamente ; e dessa vez; era ela quem iria me ajudar.

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