CARTAS EM BRANCO

Canção de ninar

Nunca fui sua bebezinha.

Eu dormia com as pernas por cima das suas, se não fosse assim, o pesadelo tomava o lugar de meus sonhos alegres. E as bolinhas nas costas?! Eram como rituais, noite eu, noite você.

Quando completei meus 15 anos, você mudou. Era para eu ter percebido. Estava sendo preparada para te perder.

Demasiadamente carinhosa. Eu não deixava você descansar sua cabeça em meus ombros, achava que você só queria mostrar que era "boazinha". Não consegui ouvir que você estava a me dizer adeus.

Me dava a mão na rua, abraçava-me, isso eu não entendia, mas gostava, era tudo que sempre quis. eu te idealizava, mesmo quando você brigava comigo, era igual uma criancinha, não conseguia sentir raiva por muito tempo.

O carinho por você era tanto, que o ressentimento não tinha força para se manter no nosso caminho.

Lembro dos beijinhos de borboleta. Ninguém entendia , nossos cílios se tocavam, isso era, para mim, como um toque de amor, um "eu te amo" sem palavras. Num simples gesto éramos capazes de demonstrar muitas emoções.

Não era lógico cogitar que você estava indo. Caso alguém tivesse me dito, talvez, não acreditaria, não suportaria a dor de saber que poderia te perder um dia.

Sei que no tempo não posso voltar. Porém, hoje, sei o quanto sou responsável por aquilo que cativo.

Cuidar, alimentar, dar meu tempo por aqueles que amo, tornou-se minha totalidade.

A nossa história nunca poderá ser reescrita, contudo, do que ficou, de toda experiência, guardo comigo a sabedoria.

Demorei um tempo a entender, entretanto, hoje, procuro viver o lado bom da vida, e aquilo que não me agrada, escrevo, a escrita tornou-se a fuga mais preeminente de meu desespero.

Hoje, sinto-me a bebezinha de alguém, ou não!. Primeiro me iludi, depois desiludi, agora, aceitei, ou não!.

O amor é tudo que posso ter para ser completa.

Superar as rasteiras que a vida nos planeja com calma e sordidez, tornou-se um hábito, e levantar, quando ela puxa, avidamente, o nosso tapete.

O maior erro é preocuparmos - somente - com o que fizemos de errado.