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me desculpem por issok

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Richard deitou-se em sua cama após desligar o telefone, onde falava com Mike. Ele tinha voltado de Derry e tinha feito uma faxina em sua casa, coisa que ele estava adiando há tempos. Se levantou indo até o guarda-roupa e pegou a caixa sem dificuldade, coisa que Edward teria com toda certeza, pensou nisso e se permitiu rir baixinho.

Se sentou na cama novamente e respirou fundo antes de abrir a caixa ao seu lado –já que ela era grande o bastante para não caber em seu colo–. A primeira coisa que viu foi um álbum de fotos escrito "1958 — Derry" na capa com letra prateada. Colocou-o em seu colo e sorriu fraco ao abri-lo, vendo uma foto de seu eu de 12 anos junto com mais cinco garotos e uma garota.

Estavam todos ali: Big Bill com um sorriso nos lábios sendo abraçado pela Ruivinha, que abraçava o Monte De Feno também, este sorria tímido por conta do contato. Eddie Spaghetti tinha uma cara brava e com toda certeza vermelha se a foto não fosse em preto e branco e o pequeno trashmouth apertava uma de suas bochechas com um sorriso enorme nos lábios. Stan, o cara, tinha uma cara como se dissesse "sou amigo de vocês mas não me orgulho muito na maioria das vezes" e Mike parecia simplesmente rir de todo mundo ali. Eles estavam no Barrens e o clima estava tão bom, quente mas não insuportável, foi no dia em que fizeram a promessa.

Ele foi virando as páginas e logo seu sorriso diminuiu. "Deuses, Stanley morreu." pensou, quando viu uma outra foto com ele, o judeu e Bill. Ele tinha procurado todas as fotos da época possíveis enquanto estava em Derry, para sempre se lembrar dos otários, mesmo que vagamente por conta de estar fora de Derry. Mas Mike disse que seus números estavam se apagando, assim como sua memória. Então, uma hora ou outra, as fotos iam se apagar e ele não lembraria de ninguém e nem do que passaram juntos.

Antes de terminar de ver o álbum, ele o deixou aberto ao seu lado e voltou a mexer na caixa. O que ele encontrou fora: uma imitação das balas de prata que fizeram para deter A Coisa, uma das HQ's que tinha apostado com Stanley, metade de um saco de bolinhas de gude que tinha comprado junto com Mike e eles dividiram o mesmo tanto para cada, a chave de sua antiga casa (que o lembrava de como a chave da casa de Beverly balançava em seu pescoço por conta do colar com esta de pingente que ela usava).

Tinha até o short vermelho que Eds usava quando criança (que o deixava louco) e que Sônia queria jogar fora e o Kaspbrak guardou por todos esses anos, e após sua morte, Richie o pegar para si. Ele colocou o short sobre as coxas e viu como Edward era e continuou sendo tão pequenininho; crescera bem pouco no colegial e faculdade mas a diferença de altura dos dois ainda era gigantesca. Apertou o short nas mãos e seus olhos se encheram de lágrimas. Eddie iria ficar eternamente pequenininho, do jeito que morreu. Richie o amava e amava brincar com a sua altura mas amava mais ainda o quanto isso era bom quando se abraçavam e de como seus corpos pareciam se encaixar perfeitamente quando dormiam juntos.

Uma lágrima salgada escorreu por seu rosto antes pálido e agora já avermelhado, antes dele passar para a outra página, onde havia uma foto deles pequenos e uma foto idêntica mas com os dois adultos. Ambos com sorrisos nos rostos e sorvetes nas mãos, com Richie tendo um dos braços em volta dos ombros de Eddie, o abraçando de lado. Agora, ele tinha as mãos no rosto e chorava descontroladamente, como um bebezinho, seus óculos (que tivera de voltar a usar depois de ter perdido suas lentes de contato) se encontravam ao lado da caixa e o shorts de Eddie estava caído no chão e seu vermelho não parecia mais tão vívido quanto há vinte e sete anos atrás. Em sua mente, passou a frase de sua mãe quando ele contara sobre a morte do namorado: "ele não iria gostar de te ver assim, tristinho, Richie". Ao pensar que era verdade, Eddie nunca gostou de ver Richie para baixo, o Tozier tentou se acalmar, sendo totalmente falho. "Ele morreu nas minhas mãos" pensou entre um soluço e outro, "talvez se eu tivesse feito algo..." ele se culpava. É claro que ele sabia que a culpa era da Coisa e somente dela, mas talvez se simplesmente tivesse feito medicina como seus pais queriam, ele teria salvo Eddie e eles estariam juntos agora. Talvez.

Ainda chorando, vasculhou a caixa novamente e o que viu foi o pedaço de vidro de Coca-Cola (embalado em plástico para não cortar nada) que Stanley havia usado para contar as mãos de todos os losers quando eles fizeram a promessa de voltarem para Derry. Ele sorriu entre todas as lágrimas, com o objeto na mão após tirar o plástico que o envolvia. Ele colocou o óculos novamente, para sua visão melhorar pelo menos um pouco. Passou lentamente e profundamente o pedaço de vidro desde seus pulsos até seus antebraços. "Quanto tempo vão demorar até encontrar meu corpo?" pensou, enquanto fazia o mesmo que Uris tinha feito no banheiro de sua casa. A resposta era quase quatro dias, após seu chefe realmente se preocupar: Tozier faltava às vezes por conta de ressaca mas sempre avisava, após ele faltar três dias seguidos sem avisar, ele resolveu ir lá, encontrando o branquelo de rosto bonito já no início da decomposição. Durante sua morte, Richard sentiu a presença de alguém, "é ele, é o meu Eddie!" pensou involuntáriamente, ele jurou de pé junto que sentiu. Sentiu seu cheiro e até seu toque, sua mão pequenina no ombro másculo do mais velho. Ele sussurrou sem nenhuma lucidez:

—Estamos juntos agora, Eds.

E antes de ouvir um "Não me chame de Eds" dentro de sua própria mente, ele morreu.

.box of feelings; r+eddieOnde histórias criam vida. Descubra agora