O manicômio

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Um conto fictício baseado em fatos reais.

Autora Eli Souza
Parte 3

Quando me levantei, minha mãe perguntou o por que de eu ter acordado tão tarde; respondi que sua amiga roncava muito, o que não era mentira. Eu disse a minha mãe, que não queria dormir com aquela mulher no meu quarto, mas minha mãe disse que eu iria dormir com ela sim, pois a casa possuia apenas 2 quartos.
Fiquei quieta o dia todo, não brinquei , não conversei. Para minha mãe, eu estava apenas chateada de ter que dividir o quarto com Ana Paula.
A noite ,fui para o quarto, primeiro que todos novamente. Mas não dormi. Fiquei desenhando até Ana Paula entrar no quarto.  Eu tinha pavor dessa mulher. Guardei meus desenhos , e saí. Fui para o quarto dos meus pais.
Minha mãe ainda não havia ido para o quarto; estava ajeitando as panelas.
Fiquei brincando com meu pai , até minha mãe estar pronta para dormir. Ela não queria me deixar dormir com eles. Mas acabei chorando e meu pai ficou com dó.
Durante uma semana, dormi com meus pais. Depois Ana Paula Se mudou para casa de uma colega de trabalho, onde iriam dividir o aluguel. Foi um alívio, aquela mulher asquerosa ter ido embora. E voltei a ser a menina brincalhona de sempre.

Os anos foram se passando , e aquela mulher sempre visitando nossa casa.

Meu pai começou a sair todas as noites, dizendo que ia se encontrar com amigos; e chegava cada vez mais tarde da noite. Até chegar ao ponto de só voltar no dia seguinte.
A gente já não era mais uma família feliz. Minha mãe queria se separar, ir embora pra casa de meus avós em São Paulo; mas meu pai pedia perdão , jurando mudar e ela resolvia tentar mais uma vez. Foram tantos pedidos de perdão e várias tentativas, que eu nem me lembro quantas foram.
Minha mãe se tornou uma mulher infeliz, depressiva. Eu a ajudava no que podia e quase todas as noites eu dormia com ela.
Meu pai , apesar de ter se tornado um péssimo marido; era um bom pai. Eu sempre pedia que ele não saísse , e ficasse com a mamãe; e ele se abaixava na minha altura, e dizia:
_Eu só vou encontrar com uns amigos filha, não vou demorar. Prometo que volto logo.- Dizia sempre se despedindo com um beijo em minha testa.
As vezes ele voltava ,as vezes não.

Na manhã de 7 de agosto de 1970, o sol já batia em meu rosto; e minha mãe ainda não havia se levantado. Ela sempre se levantava cedinho, preparava o café e me acordava para eu ir para a escola.
Pensei que minha mãe estava cansada por ter esperado meu pai sem dormir a noite toda. E por isso havia perdido a hora de se levantar.  Ela estava deitada de costas pra mim, e eu quis abraça-la. Ao tocar sua pele , me assustei. Ela era sempre quentinha quando eu a abraçava; mas dessa vez seu corpo estava gelado, estava imóvel. Eu sabia o que aquilo significava, minha mãe estava morta.
_ Mamãe... Acorda . Por favor mãe! - eu gritava chorando enquanto tentava sacudir seu corpo rígido.
_  Mãezinha não me deixe... Por favor acorde. - Eu chorava e dei um grito tão alto de dor, que meu pai ouviu do lado de fora da casa , quando estava chegando de sua noitada.
Correu até o quarto e viu a cena. Se desesperou e abraçou o corpo de minha mãe aos prantos e mais uma vez pedindo perdão.

Eu só tinha 11 anos , e a partir dalí minha vida se transformaria num verdadeiro inferno.

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