03 - No ritmo de Come Together

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  NA DETENÇÃO, O PROFESSOR nos proibiu de mexer em qualquer meio de tecnologia ou comunicação. Tyler tentou falar comigo algumas vezes — ele chamava pelo meu nome baixinho, para que não houvesse risco do professor ouvir —, mas o velho tem a audição de um lobo. Arrisco dizer que ele pode escutar até o barulho dos pássaros que cantam a milhas de distância. Depois de receber um belo sermão do Sr. Duarte, resolvemos ficarmos calados e evitar qualquer tipo de comunicação existente — mas acho que o Tyler não entendeu muito bem a minha proposta de ficarmos definitivamente quietos, em todos os sentidos.

  Observei seus dedos segurarem o lápis e deslizarem pelo papel, enquanto ele escrevia algo calmamente. Tentei me inclinar um pouco em sua direção para ver o que ele estava fazendo, mas não consegui captar nada. Talvez eu precisasse mesmo usar óculos — se isto não fosse por causa da distância em que estávamos um do outro. Tratei logo de me recompor na cadeira e suspirei entediada. Agora eu entendia o porque da detenção ser um pesadelo.

  Os professores daqui são espertos — até demais —, eles sabem que somos adolescentes agitados e gostamos de aprontar coisas a todo o momento, por isso nos deixam sem fazer absolutamente nada. Talvez fosse melhor reescrever a tabela periódica duzentas vezes em um papel e copiar mais uns exercícios do quadro — qualquer coisa séria melhor do que ficar sem fazer nada. Fugir pela janela seria uma boa ideia.

  Sou tirada dos pensamentos com algo pontudo batendo contra o meu rosto. Arregalei os olhos, procurando o responsável pelo avião de papel repousado sobre a minha mesa. Olhei para o lado, quando senti que estava sendo observada. Tyler apontou para o avião de papel, pedindo silenciosamente para que eu o abrisse.

  Franzi as sombrancelhas, confusa com o seu pedido, mas mesmo assim o fiz. Ele havia escrito um bilhete, mas não era exatamente isso que eu reparava — sua letra que havia me chamado tanta atenção. Ela era perfeitamente alinhada e redonda.

  Me encontre atrás das arquibancadas.

— Ty B.

  Ele estava completamente louco se achava que eu faria uma coisa dessas. Me virei para o lado, pronta para lhe responder, mas ele não se encontrava mais ali. Franzi as sombrancelhas, surpresa com aquilo.

  Não era possível o Tyler sumir assim de uma hora para outra. A não ser...

   Não, não, não! Droga, Tyler!

  Levantei a mão contra minha vontade. O professor me olhou com uma expressão de descontentamento, esperando que eu falasse alguma coisa.

— Eu preciso ir ao banheiro. — Falei, esperando que ele cedesse e me deixasse sair dali o mais rápido possível.

— E por qual motivo eu te deixaria ir? — Perguntou com a voz entediada, sem tirar sua atenção da montanha de papéis espalhados pela mesa.

— Problemas femininos — Respondi a única coisa que me pareceu relevante.      

  Ele me olhou com as sombrancelhas mal-feitas levantadas, como se não fosse o suficiente.

— Creio que não queira ver uma de suas cadeiras suja de sangue. — Forcei um sorriso.

  Sr. Duarte suspirou alto e abanou as mãos em minha direção, como se estivesse me expulsando da sala. Reprimi um sorriso — não queria que ele desconfiasse que era exatamente isso o que eu queria — e saí porta a fora.

No Caos do Universo (Nova Versão)Onde histórias criam vida. Descubra agora