Capítulo XIII.

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Sabe aquele sentimento de que, pela primeira vez na sua vida, as coisas estão dando certo? Era exatamente assim que Roger Taylor se sentia enquanto observava Scarlett adormecida entre os lençóis da cama. Era uma imagem que o transmitia paz. É engraçado, pela primeira vez, Roger tinha o sentimento de estar fazendo a coisa certa. Sua mãe não havia mandado, nem os meninos da banda. Era ele, por si mesmo e por ela. A sensação era incrível, mas, mesmo assim, era assustadora, porque ele tinha o pressentimento de que poderia destruir tudo a qualquer segundo. Porque era isso o que ele sempre fazia, era perito em destruir as coisas .

Roger estava sentado em uma poltrona de cor areia, localizada próxima de uma pequena estante, onde havia um pequeno caderno preto. Curioso, o rapaz pegou o objeto, começando a folheá-lo, sem qualquer objetivo aparente. Aleatoriamente, ele escolheu uma das páginas completamente preenchidas por uma caligrafia impecável que, por sinal, ele conhecia muito bem. Inevitavelmente, o homem lembrou-se dos tempos de escola, e um sorriso brotou em seus lábios, completamente nostálgico. Intrigado, Roger começou a ler o conteúdo, envolvendo-se e perdendo-se por completo naquela escrita primorosa.

— Bom dia. — Havia um sorriso preguiçoso no rosto da menina após dizer aquelas palavras.

Roger só desviou sua atenção do caderno quando ouviu a voz feminina, aveludada e suave, despertando-o totalmente. Scarlett estava de pé, com o corpo encolhido por debaixo de um lençol que envolvia o seu corpo, exceto pelos ombros desnudos. Os fios de cabelo estavam levemente bagunçados, mas aquele detalhe apenas a trazia um charme a mais. Ela era como arte. Estava além da beleza, era sentimento, encanto, intensidade, curiosidade. Tudo de uma vez só; todos os sentimentos de Roger reunidos. Scarlett era arte.

— O que você está fazendo? Esse é o meu caderno? — Ela estava quase em pânico. A menina correu em direção a ele, quase que tropeçando em meio aos lençóis compridos. Assim que o alcançou, ela retirou o caderno das mãos dele, afoita. — Isso é particular, sabia?

— Eu não quis invadir a sua privacidade. — Aquilo quase soou como um pedido de desculpas, mas Roger era orgulhoso demais e quase nunca estava errado. — Eu li um pouco, só uma página na verdade, completamente aleatória, eu juro. — Scarlett arqueou as sobrancelhas, com sérias desconfianças. — Eu juro. — O homem reforçou suas próprias palavras. — Você é muito boa, Scarlett. Isso aí é puro talento — Ele apontou para o caderno. — Deveria publicar os seus textos.

— Sabe, tinha que ser, no mínimo, razoável. Eu sou formada em letras, lembra? — Ela falou, tentando deixar o clima descontraído, ao mesmo tempo que recolocava o caderno em cima da estante. — Mas eu acho que ainda não estou pronta para publicar.

— Você tem... medo? — Ele perguntou, mas a menina ficou muda, com uma expressão quase indecifrável. — Logo você, a destemida Scarlett? — Dessa vez, foi ele quem arqueou as sobrancelhas, em desafio.

— Você não? — Scarlett mordeu o próprio lábio inferior. — Não tem medo de mostrar as coisas que escreve para o mundo? Digo, suas músicas.

— Não. — Ela pareceu surpresa com a resposta, Roger apenas sorriu, paciente. — Porque eu sei que existem pessoas aí fora que sentem o mesmo que eu, e sei que posso fazer com que elas sintam que não estão sozinhas. As palavras tem esse poder, Scarlett. E, particularmente, eu acho egoísmo o fato de você não querer compartilhá-las.

Scarlett pareceu ter tomado um grande balde de água fria. Roger estava certo, mas, ainda assim, ela estava insegura. Envergonhada, a menina desviou os olhos dos dele, encarando o chão por alguns segundos.

— Mas e se as pessoas não gostarem? E se eu não for boa o suficiente? — Finalmente, os olhos dela se voltaram para ele novamente, ao passo que o rapaz deixava uma risadinha baixa escapar de seus lábios.

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