1- Calmaria

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   — Você já tem vinte anos. – Minha mãe repetia o mesmo sermão de sempre, enquanto soprava sua xícara de café. – Já passou da hora de você arrumar um emprego e sair de casa, fazer uma faculdade. Ou você pensa que vai ficar a vida toda segurando na barra da minha saia?

   É impressionante essa habilidade que ela tem de dizer exatamente as mesmas coisas, no mesmo tom todos os dias.

  — Mas mamãezinha – respondi –, se eu sair de casa quem é que vai fazer esse cafezinho mil grau do jeito que a senhora gosta?

   — Ôxe, a cafeteira. – Ela deu uma breve gargalhada.

   — A praça é nossa tá perdendo a incrível comediante que a senhora é.

    Voltei a dar atenção a TV, depois de mil anos zapeando o  catálogo finalmente escolhi o filme da vez: A Morte Lhe Cai Bem. Minha mãe queria ver um romance, mas poxa, não é todo dia que vemos o Bruce Willis com cabelo. Além do mais o enredo desse filme é incrível, uma mulher que busca vingança por ter sido trocada na véspera do casamento por sua antiga amiga e rival, acaba reatando a amizade com a mesma e meio que dividindo o pobre homem que acaba tendo que dar um perdido nas duas.

   Ah! Quase esqueço de dizer que no meio disso tudo elas viram mortas-vivas.
 
   Enredo incrível. Simples, mas incrível.

   Estava tão entretido com o filme e com as gargalhadas da minha mãe que nem percebi que o celular estava tocando. Três chamadas perdidas, imagino o que seria tão importante que o Silas não poderia esperar eu ver e retornar? 

   Já estava quase retornando quando ele ligou de novo.

   — Fala mano.

   — Nico, pivete eu preciso de sua ajuda. Urgentão.

   — Quê, como assim véi?

   O que será que ele tinha arrumado dessa vez? Normalmente quando ele diz ser urgente quer dizer que ele fez alguma merda.

   — Irmão não pergunta não, só chega aqui na festa da Patrícia. Só vem.

   — Nem dá cara, hoje é noite de filmes com mãinha – Meio que uma tradição de quatro anos, e é também uma ótima desculpa pra ficar em casa.

   — Quem é, Nicolas? – Minha mãe perguntou sem tirar os olhos do Bruce Willis com cabelo.

   — É o Silas. Ele quer que eu vá numa festa.

   — Ah, aquele rapaz que parece aquele cantor dos Engenheiros do Hawaii. – Ela sorriu. – devia ir, você nunca sai de casa, só vive enfurnado nesse sofá, parece até um bicho preguiça.

   Agora ela tinha um ponto.

   — Certo... mas só porque a senhora mandou em. Beleza Silas, daqui a pouquinho chego aí. E a senhorita, mãinha, vê se não dorme tarde ouviu?

   — Sai logo daqui menino, e vê se não enche a cara.

   Eu, mais Silas, mais bebida não era uma soma muito boa, normalmente o  resultado é catástrofe.
  
   — Posso levar o carro?

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⏰ Última atualização: Apr 28, 2020 ⏰

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Quase morto mas não totalmente - Editando...Onde histórias criam vida. Descubra agora