ANTES
Eu estava exausto. Era mais de uma da manhã e eu ainda estava lendo sobre Direito Civil. As palavras se embaralhavam um pouco mais a cada segundo e eu não tinha mais certeza de o por que estar acordado.
Eu estava sendo precipitado, é claro. Fazia apenas dois meses que tinha concluído o ensino médio e estava estudando antes mesmo de as aulas do cursinho começarem. Apesar da malandragem da idade, eu sabia muito bem o que queria para o futuro: ser policial militar. Eu completaria a maioridade no ano que recém começava, logo, poderia prestar o concurso público no ano que vem. Cada mínimo detalhe estava posto em papel, e eu não podia falhar.
Não só comigo, mas com meus pais. Pessoas de sucesso criam filhos para seguirem seu caminho. Poderia estar enganado em relação ao que o futuro me reservava, mas eu queria muito chegar lá. E tinha todas as ferramentas para isso. Eram tempos difíceis, e me considerava sortudo por ter a possibilidade de continuar estudando.
Deitei na cama e puxei o lençol com um bocejo saindo. Lembrei do encontro que teria no dia seguinte com uma ex-colega de sala de aula. Não deixaria a gata escapar. Nem ela nem as outras. Amanhã seria a Marina, e na sexta a Caroline. Eu não era bobo nem nada do tipo. Elas queriam, eu estava à disposição. Mas na maioria das vezes rolava alguns beijos e nada mais. Só isso.
Eu estava entrando no sono quando ouvi a porta do quarto abrir.
— Li? - Uma vez feminina chamou. Já até sabia quem era.
— Oi, Flora. - Resmunguei acendendo o abajur e encarando minha irmã com os cabelos eriçados.
— Vim conversar, não estou conseguindo dormir. - Apesar de ainda ser uma pré-adolescente, minha irmã de doze anos sofria seu primeiro coração partido. Eu não havia perguntado, mas sabia. Eu sempre saberia.
— Deita aqui, vamos assistir um pouco. - Falei ligando a televisão baixinho. Não demorou até que ela se encostasse no meu peito e dormisse. Nossos arranca rabos eram comuns, mas éramos parceiros silenciosos da madrugada. Sua guarda abaixava e constantemente ela pedia aconchego. Apesar de não ter paciência para isso de vez em quando, eu adorava saber que ela ainda precisava de mim. E eu também sabia que isso acabaria rapidinho.
Ao contrário da caçula, meu coração ainda estava intacto. Nunca havia me apaixonado. Sequer sabia a sensação. Se fosse tremedeira, estômago se mexendo e coração acelerado, não, nunca havia sido laçado. E acreditava que não seria tão cedo. Eu tinha muito o que aproveitar na vida e sabia que seria perda de tempo me deixar levar por qualquer baboseira romântica. Eca.
Eu estava bem até então. Focado nos estudos e em festar. A cada festa eu comprovava que era novo demais para ter outro tipo de vida. Meus amigos concordavam. Saímos sempre em grupo e, não vou negar, bebíamos às vezes. Eu precisava viver todas as experiências, certo? Mas largaria assim que fosse aprovado no concurso. Minha vida seria diferente caso isso acontecesse.
Meus pais me lembravam a todo momento disso. Uma falha e tudo poderia ir por água abaixo. Eles sabiam que esse era meu sonho, por isso se asseguravam que eu me mantivesse na linha. Pelo menos dentro dos estudos, obviamente. Eu tinha relativa liberdade. Poderia sair e voltar quando quisesse, desde que avisasse do lugar e companhias.
Caíque e Nathan eram os mais próximos, mas fazíamos amigos em todo lugar que pisávamos. Éramos os reis de qualquer baladinha. Os caras puxavam assunto e as garotas nos davam olhadelas discretas. Só isso bastava para entendermos o sinal. Dependendo do lugar, rolava algo mais íntimo - e nem por isso sentimental. Mas na maioria das vezes não.
Alguns colegas alegavam que uma mulher só seria ela mesma quando estivesse em um relacionamento. Poderia então realizar todas as suas fantasias com a certeza de que sua reputação estaria protegida. Eu achava besteira. Elas eram muito mais espertas que nós, e admirava a liberdade com que lidavam com os pretendentes. É claro que algumas sentiam-se intimidadas desde casa, onde, sem espaço para compartilhar seus anseios, os reprimiam fora dela.
Eu era feliz por ter crescido em um lar de pais compreensivos e abertos. Tanto eu quanto Flora nunca fomos reprimidos por fugirmos de algum comportamento esperado. Seu Edgar e dona Helen sempre reafirmavam que podíamos ser e fazer o que quiséssemos, contanto que ninguém saísse ferido - com ações ou palavras. Eu era realmente abençoado e tinha dificuldade em entender por que todas as famílias não eram acolhedoras assim.
Apertei o braço em volta de Flora, dando um boa noite e um beijo em sua testa quando ela suspirou fundo. Ela era minha esperança, minha prova viva de que, se eu não desse certo, alguém naquela família daria. Ela era alguém que eu tinha que proteger. Alguém que, se todos fossem embora, estaria ali.
Alguém que, apesar dos nossos abraços na madrugada, nunca soube do meu coração remendado.
NSM está oficialmente no ar!!! 😍 Depois de tanto tempo, finalmente voltei para ficarmos juntinhos e matar a saudade, hehe. Espero que tenham gostado do início... É apenas um gostinho do que está por vir.
Não esqueçam de comentar... estou doida para ouvir suas opiniões ;)
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Na Sua Mira (Irmãos Soaint 2)
Художественная проза📚 LIVRO 2 DA DUOLOGIA IRMÃOS SOAINT Lian sempre foi o tipo bonzinho. Atencioso, gentil e bom filho, ele nunca saiu da linha. Para completar, trabalha como policial e é uma das estrelas do batalhão. Mas ele tem marcas que não foram deixadas só por s...