Capítulo 52

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Arthur narrando ⚡

Na madrugada do dia seguinte eu estava desembarcando no aeroporto, não avisei a eles que viria. Mas eu sabia que eles já estavam ciente que eu havia voltado, Felipe não deve ter ficado de bico fechado.

Peguei um táxi, rapidamente cheguei na minha casa. Peguei minha mochila, paguei o táxi e respirei fundo para encarar a situação a seguir. Diogo estava com raiva, eu tenho certeza. Olívia estava magoada, e eu me odiava por isso. Pesquei a chave do meu bolso e abri a porta principal, ouvi vozes animadas, fechei a porta e segui até onde as vozes estavam.

Cheguei na sala de vídeo, e avistei Diogo, Joana e Olívia deitados no sofá preto confortável vendo algum filme. Joana foi a primeira a me ver, ela me lançou um sorriso fraco e eu retribui.
Eu pretendia ficar camuflado ali por um tempo, mas acabei esbarrando no aparador e derrubei o vaso de flores que estava em cima, obviamente todos me olharam.

— Oi — falei, sem saber mais o quê falar.

Para minha surpresa tudo que a Olívia fez foi levantar e sair correndo me abraçando com toda força que ela tinha. Que saudade daquela pirralha!

Como eu deixei ela passar pelo o momento mais doloroso de nossas vidas sozinha?

— Me perdoa… Por favor, me perdoa. — falei baixo. Ouvi ela fungar o nariz.

— Não chora pirralha, eu estou aqui. Me desculpa.

— Não faz mais isso, por favor, não faz mais isso… — ela soluçava com o rosto colado do meu peito. — Eu fiquei com medo de ter acontecido alguma coisa com você… Eu fiquei preocupada.

— Eu sei… Eu sei… Vai ficar tudo bem, eu não vou mais sair de perto. — beijei seu cabelo — Só me perdoa. — repeti.

Fiquei conversando com a Olívia, contei tudo para ela, onde eu havia ficado o tempo que andei sumido, contei minhas coisas com a Débora e como eu estava feliz em ser pai de novo.

— Falar nisso, preciso avisar ela que cheguei. — comentei.

— Liga para ela. Está na hora de ver meu amor — disse sorridente e subiu para seu quarto.

Disquei o número da Débora e no segundo toque ela atendeu.

— Oi amor.

— Mel não corre… — gritou. — Oi, chegou agora?

— Sim, como está as coisas? Como você está?

— Estou bem, fui buscar a Mel na escolinha. Ela está parecendo uma mendiga.

Dei risada.

— Normal, né?!

— Como foi as coisas com a Oli? E com o Diogo?

— Já conversei com a Olívia, ela não me odeia. Mas o Diogo saiu da sala assim que me viu, sequer olhou para minha cara, com ele as coisas vão ser complicadas.

— Você vai ter que ter paciência. Ele está magoado, só que ele demonstra a mágoa dele em forma de raiva.

— Eu sei, vou desligar. Aqui ainda é de madrugada, vou tentar falar com o Diogo e depois vou dormir um pouco.

— Vai lá, beijos e eu amo você.

— Também te amo, amor.

Desliguei e fui procurar Diogo pela casa, o achei na cozinha colocando cookies no forno. Isso me lembrou quando eu estava cozinhando com a Mel e ele me zuou, parece que o jogo virou não é mesmo? Dei risada dos meus pensamentos e me apoiei no balcão.

— Então, você vai ser pai. — comentei e ele continou de costas.

— Essa merda não vai funcionar comigo Arthur, Débora e a Olívia podem ter te perdoado de boas. Mas comigo as coisas não vão ser assim. — esbravejou.

— Eu errei caralho, eu sei disso. Mas eu sou um covarde quando eu não sei lidar com algo, não haja como se não soubesse do que eu estou falando… Você melhor que eu sabe que quando as coisas pesam demais a gente só quer sumir.

Ele jogou a toalha na bancada e me encarou sério.

— Eu não larguei uma irmã, uma filha e uma mulher grávida por causa da minha covardia. — jogou na minha cara.

Diogo narrando ⚠️

Arthur era meu melhor amigo, mas eu estava com raiva mano. Muita raiva. Eu sei que quando meu pai morreu, eu me isolei, mas porra, ele deixou a Olívia sozinha, a Débora só chorava preocupada com ele, a Mel achava que o pai dela não se importava com ela. Ele tinha que aprender a ser homem e lidar com a dor dele sem causar uma maior nas pessoas.

— Diogo! — Joana me gritou do quarto.

Não pensei em duas vezes em sair correndo, subir as escadas desesperadamente. Quando cheguei no quarto, encontrei Joana com uma feição de dor e segurando a barriga.

— Me leva para o hospital — ela pediu aos prantos.

— Desce como ela, que eu vou tirar o carro. — nem havia notado que o Arthur tinha vindo atrás de mim.

Ele saiu do quarto e eu me aproximei dela, a peguei no colo e desci as escadas o mais rápido que consegui.

Arthur já esperava dentro do carro e a porta aberta, coloquei Joana no banco de trás e entrei sentando ao seu lado. Arthur pisou no acelerador assim que fechei a porta.

— Vai ficar tudo bem. — tentei acalma-la.

Ela só continuou chorando e segurando a barriga. Eu estava sentindo um puta aperto no peito, como se algo ruim fosse acontecer. Arthur deve ter ultrapassado uns cinco sinais vermelhos. Chegamos no hospital, Arthur saiu na frente e já voltou com uma cadeira de rodas, tirei a Joana do carro e a coloquei sentada.

— Vai dar tudo certo cara. — Arthur falou e deu dois tapinhas nas minhas costas.

As enfermeiras levaram Joana para dentro da emergência, as mesmas mandaram nós dois esperarmos lá dentro que logo iria nos dar notícias.
Aquela droga de aperto no peito não me deixava de jeito nenhum.

•••

Fiquei andando de um lado para o outro, a qualquer momento o chão debaixo de mim poderia se abrir de tanto que eu ia e voltava.

— Joana Fonseca! — o médico chamou, senti meu coração acelerar e me aproximei.

— Eu sou o… Namorado dela. — respondi com a voz trêmula. — Ela está bem? O bebê está bem?

— Eu sinto muito, mas ela chegou aqui com uma hemorragia interna, infelizmente o feto não resistiu. Ela está sedada, já vamos levar ela para um quarto. Daqui mais ou menos meia hora poderá receber visitas.

Parecia que uma faca tinha entrado no meu peito. Era um dor esmagadora. Eu já amava aquela criança mesmo sem vê-la. Senti meus olhos arderam, encostei na parede, senti uma mão no meu ombro.

— Eu sinto muito cara. — Arthur disse, se não fosse impressão minha ele também estava quase chorando.

Ele me puxou para um abraço e eu desabei. A última vez que eu havia chorado dessa forma foi quando eu perdi meu pai.

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