VIII

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Abri a porta da frente tentando equilibrar Catarina em um braço, minha mochila em um ombro, sua pequena boneca de pano e uma das cinco sacolas de mercado. Atrás de mim, duas meninas falantes trazem o resto das compras e mais o cobertor de minha pequena. Havíamos tirado aquela sexta feira para um programa que não fazíamos há um tempo: passaríamos um tempo com Rapha e Nath. O vínculo criado na novela ultrapassou as câmeras e gravações exaustivas, Juliana primeiramente aprendeu a amar aquelas meninas como irmãs e depois passou para mim todo aquele sentimento. Vê-las crescer tanto em altura como profissionalmente, era como prestigiar uma de minhas irmãs.
Naquele dia, combinamos que elas dormiriam em nosso apartamento e teríamos uma noite divertida, elas adoravam e os olhinhos de Catarina brilhavam quando viam as duas "tias" babonas. Peguei minha filha em minha sogra, as meninas em casa e fomos os quatro a um supermercado ali perto. Pensem na falta de senso de quem vos fala: Um bebê. Duas pré-adolescentes. Em um mercado. Sexta. Que minha mulher não sonhasse com isso, ela provavelmente me daria uma bronca por complicar tanto as coisas.

- Chegamos – falei pousando a sacola na bancada e colocando Cat sentada ao lado, as mãozinhas não tardaram em mexer nas compras.

- Nicolas, presta atenção – começou Rapha – Era só pedir uma pizza. Só isso.

- Não é mais saudável produzir uma? – tentei me defender mas recebi dois olhares entediados. – Além do mais, podemos nos divertir fazendo.

- A Catarina jogou três tomates no chão do mercado, todo mundo olhou. – agora foi a vez de Nath falar.

- Vocês que deixaram ela perto demais da banca de legumes. – respondi fitando a pequena bebê sentada, ela achou um sachê de molho e levou a boca. – Vamos lá, vai ser legal. Imagine a surpresa que faremos para a Ju quando ela chegar.

- Bom, pizzas caseiras são realmente melhores – alguma das meninas respondeu, mas não vi qual, Catarina com seus seis micros dentinhos conseguiu rasgar um pedaço do plástico e agora tinha molho em toda sua roupinha. – Mas primeiro, ela vai precisar de um banho.


Depois de Cat banhada e vestida, a colocamos no cadeirão com alguns pedaços de frutas e enquanto se distraia, colocamos as mãos na massa, literalmente. Entre conversas, sorrisos, brincadeiras e gritinhos da minha filha, conseguimos montar as massas com a melhor aparência possível. A cozinha estava branca de tanta farinha, mas posso garantir que valeria a pena. Pelo menos eu estava orgulhoso de nosso trabalho.
Montamos as primeiras e meu celular vibrou em alerta, limpei as mãos e vi uma mensagem da minha mulher no visor, ela avisava que já havia saído do estúdio e estava a caminho de casa. Eu teria que arrumar toda aquela confusão em menos de meia hora.

- Você acha que a gente consegue fazer ela dormir? – Rapha perguntou pegando-a do cadeirão, os dedinhos curiosos pararam na boca da mesma – Eu vou morder esse bebê, eu vou.

- Bom, se você conseguir deixo tu comer uma pizza dessa inteira. – apostei e ela rolou os olhos.

- A gente tava conversando lá na casa da Rapha que lembramos quando a Ju passava mal no camarim e quase implorava pra gente não contar. Era essa coisinha fofa dando "Oi". – completou Nath me deixando nostálgico. Foram dias complicados onde me vi cheio de perguntas e sem nenhuma resposta, não sabia como argumentar, como dar a carta final. Sinto que aquele Nicolas hoje é mil vezes mais maduro, atualmente eu sei que algo está errado com minha esposa pelo tom de suas mensagens, vai saber. Franzi a sobrancelha relembrando um detalhe.

- Ela passou mal mais de uma vez no estúdio? – as meninas se entreolharam com um sorriso no rosto e foi Nath quem falou novamente.

- Muitas vezes, mas tínhamos um trato e não podíamos falar. Minha mãe falou que eu não podia contar para ela que estava grávida porque não tinha nada com isso e era conversa de adulto. Hoje eu contaria.

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