estou acorrentada pela insensibilidade.
por que as sensações tornaram-se tão vagas,
e os sentimentos, tão pouco fazem-me sentir viva?
estou provando da taça o gélido sabor do insensível
e vejo que a vida nada é
sem a nossa percepção do mundo através dos sentimentos.
não sinto angústia,
e a falta que o vazio me faz é irrelevante tanto quanto o seu verdadeiro significado.
por outro lado, o vazio é essencial na nossa vida para que possamos reconhecer a nossa verdadeira posição emocional.
a insensibilidade é a prova de que o vazio não é algo abstrato.
a falta de sentir é tão angustiante que quase me faz sentir a angústia.
mas eu não sinto. não sinto nada.
não sinto o amor,
mal posso saber quando ele chega.
a quem estou tentando enganar? só se for a mim mesma.
mas eu gostaria de saber como o amor se veste.
qual é o seu perfume?
ele carrega bagagens? se sim, o quão relevantes elas são?
por fim, não sinto saudade.
não sinto saudade de quem eu era há dois anos atrás, tanto quanto não sinto falta das amizades que tive que deixar pelo caminho,
dos amores não correspondidos e ilusórios,
ou das decepções do dia a dia.
o quão insensível o ser humano pode se tornar a ponto de não sentir a sua própria dor?
