Born to be alone ( scb + lf ) changlix

04

O ar pesado do quarto acabou de piorar com a respiração descompassada de Changbin que acabou de acordar de mais um de seus sonhos agitados, pouco antes do despertador tocar o expulsando de vez da cama.

Ele se encara no espelho, promete para si mesmo que vai vencer mais um dia, que vai dar o melhor dele e que nada vai o atrapalhar, selando aquela promessa com um jato de água fria no rosto.

Frio, como o adorava e sentia falta.

O calor o fazia passar muito mal e ter fraqueza e ele odiava aquela sensação, ainda mais porque dentro de alguns dias seria seu aniversário e ele provavelmente teria que passar por esse dia sozinho, todos tinham sua alma gêmea para cuidar.

Menos ele...

Ele e Felix.

"Lee Felix." Changbin sussurra se olhando no espelho com o cabelo todo espetado, sabia que estava demorando demais, mas a visão do dia passado ainda estava grudado em sua memória. " Bonito e misterioso... Huh... garoto..."

Com um sorriso de lado o moreno faz todas as suas higienizações, os pensamentos não se calando em momento algum. Ele não fazia ideia do porque o ruivo o fazia ficar tão curioso, talvez seja o desconhecido da história dele e assim que a descobrisse por inteiro o interesse sumiria. Bem, sim, ele seria cruel a esse ponto.

Ao menos era como sempre o definiam, cruel. E de tanto ouvir isso, adotou para si e agora nem mesmo se importa ou se afeta com isso.

E mesmo que se afetasse, quem se importaria?

_ Cruzes... - Changbin resmunga ao abrir as portas do armário.- Só tem preto aqui.

Ele ri sozinho nem mesmo se preocupando com isso, só pega um de seus jeans surrados e uma camiseta preta com seus all stars, e era isso.

Mas então um barulho desperta sua atenção, ele tinha certeza que era da cozinha, mas o que fazia o som de algo sendo arranhado se ele mora sozinho?

Sem nem pensar nas possibilidades, Changbin só joga perfume pelo corpo e enfia o celular no bolso jogando a mochila nas costas e vai em direção a cozinha, vendo a janela aberta e então algo se arrastando por sua perna o fazendo dar um passo assustado para trás entre uma puxada de ar profunda.

_Maldito gato. - O moreno resmunga se abaixando para ver o gato da vizinha se jogar no chão como se fosse o dono da casa.- Eu sei... Sua dona assusta com aquela berrugona no nariz.

O garoto ri sozinho e pega o gato que se assusta e o ataca o arranhando e mordendo fugindo pela janela, deixando um Changbin confuso para trás.

_ Odeio gato. - Murmura enfiando a mão debaixo da água da torneira, e vê o horário no microondas.

Atrasado.

Depois de um xingamento baixo ele corre para fora trancando a porta e andando em passos largos enquanto tentava desfazer os nós no fio do fone, e é só quando está com os dois pés fora do apartamento que percebe a chuva que iria cair.

Precisava se apressar.

Passou em uma farmácia, comprou curativos para a mão, e ouviu um trovão, entre bufos voltou a andar, não falava com ninguém, não tinha vontade e nem mesmo obrigação para isso.

Algumas gotas começaram a cair e molhar sua pele, mas ele já estava próximo da faculdade e dessa vez, talvez por algum milagre ou sei lá... Piedade do destino? Ele não sabia, mas assim que pisou na faculdade uma chuva forte começou a cair, mas ele estava protegido então nem mesmo se importava com o vento forte que entrava pela porta da frente, apenas procura um banco para cuidar dos machucados do gato.

O som de alguém caindo o chama atenção assim que ele termina de colocar o curativo, seus olhos são atraídos para um garoto ruivo, completamente molhado e bagunçado pela chuva se levantando do meio de uma grupo de pessoas que apontavam e riam descaradamente, ele tentava sair mas as pessoas pareciam não o dar espaço de propósito, o rosto estava baixo e coberto por um boné, seu corpo encolhido, provavelmente com frio enquanto tremia passando por um Changbin confuso e curioso, mas agora preocupado.

Aquilo que escorria pelo delicado rosto do garoto, misturado com as gotas de chuva e cobrindo suas sardas, era sangue?

Changbin não conseguiu se segurar e foi atrás, segurou a porta do banheiro de deficientes que Felix entrou para se esconder assustando o ruivo que o olha nos olhos, finalmente, entregando o que o moreno temia.

_ O que você quer?

_ Quem te fez isso? - Changbin corta a possível expulsão dali ao entrar e trancar a porta vendo o ruivo se afastar e ir se encolher do outro lado sem o responder.- Quem te fez isso?

Changbin insiste mas não recebe a resposta, impaciente ele vai até o ruivo segurando o rosto dele e tira seu boné, mostrando o cabelo encharcado grudado na testa, ele analisa o rosto pequeno e delicado, os olhos assustados e vermelhos.

Ele chorava.

Suas sardas salpicadas por todo o rosto, os lábios carnudos e pequenos, demorou um pouco mais neles, sabia que estava demorando naquilo, mas não se importava. Seus olhos encontram o corte logo a cima da sobrancelha junto a uma região vermelha que obviamente iria ficar roxa, a raiva o consome.

_ Quem fez isso? Eu juro que é a última vez que vou perguntar. - O moreno pergunta pela última vez se surpreendendo quando o ruivo solta um soluço do choro entalado.- Felix...

_ Não... Não finja que se importa para depois ir embora. - Felix pede, com a voz machucada e sensível, ele se desvencilha do moreno ainda mais confuso atrás dele.- Nada aconteceu, isso aqui não é nada, eu caí... E foi isso.

Mentira, pura mentira, a sensação da mão que o socou antes de sair de casa ainda estava bem presente.

_ Tanto faz, cuida disso aí. - Changbin irritado deixa os curativos que tinha comprado mais cedo sobre a pia e sai dali indo para a sua sala.

Felix se arrepende, mas não aguentaria ser abandonado de novo, ninguém jamais tinha ficado, porque agora seria diferente? Seus olhos são guiados até a pia onde tinha um moletom preto e um pacote de curativos.

Ao ver aquilo ele não aguenta, seus joelhos cedem ao cansaço, e o nó de sua garganta se desfaz em um choro magoado só sendo abafado por duas mãos pequenas e trêmulas, mas isso não impediu que um moreno encostado do lado de fora do banheiro o ouvisse chorar.