A partir daquele disparo feito por Norton, eles não saberiam, mas agitaria drasticamente a vida de quase todos ali até morrerem. Já não havia mais pássaros ali que pudessem abandonar os galhos das árvores, após o tiro, apenas a constituição física, falecida do intruso, desabada no solo.
A grande quantidade de secreção grossa que escorria de suas têmporas, juntando as camadas viscosas, só enojavam quem assistia.
- Yallow, fique aqui, não quero que veja isso – ordenou Norton, deixando sua filha no canto da parede lateral do casebre, pelo lado de fora. Estava com medo que houvesse outro D'Eles – Tem mais algum deles aqui?
Perguntou ele em voz alta.
Michelly Michaels foi quem respondeu, balançando negativamente o pescoço, saindo desesperada, aproximando-se de Norton.
- Eu-eu, eu não sei – respondeu ela, aos prantos – eu apenas o vi lá de cima do quarto. Ele estava paralisado encarando a entrada da porta.
Ainda atordoado, buscando procurar por todos os lados da floresta a procura de mais deles a espreita, correu novamente para havia deixado Yallow.
- Vem – puxou a pequena para os braços – vamos sair daqui.
Seu olhar vidrante só enxergava apenas uma coisa em meio aquela bagunça. Sua camionete, já visível.
Eduard Martozzi percebia os movimentos de fuga dele, entendeu que Norton sairia dali imediatamente. Prontificou-se em fazer o mesmo, em seu encalço. Cruzou com o padre – ainda caído no piso de madeira do alpendre, desta vez já sentado, encarando o ser –, o encarou por milésimos de segundos e entrou novamente no casebre. Puxou sua mochila, arrancou as duas velas grudadas nos pires e correu pra fora.
Michelly, como estátua de mármore, ficou assistindo os homens correrem por ambos os lados. Queria reagir, mas travou.
Eduard, acelerado, passou desviando das camadas espalhadas. Em sua visão periférica, pode perceber Michelly encarando seus movimentos.
- Ei, você não vem? - perguntou ele, chamando-a com gestos.
Ela concordou. Conseguiu sair do transe e começar a correr atrás de Eduard.
Sua filha não morreria ali, pensava Norton quando a colocou no banco do passageiro e contornou para o do motorista. Encarou Eduard até ele encará-lo de volta, compreendendo que a filha dele viria em primeiro lugar sempre, mas que de alguma forma Norton ajudaria.
A porta do primeiro casebre escancarada, em sua frente o ser desfigurado e saindo da estreita trilha ao lado, a mesma que de lá conseguiu atirar no extraterrestre, Norton enxergou a mulher loira, das roupas desleixadas, trazendo nas duas mãos, suas filhas. Com certeza elas haviam percebido a movimentação para sair daquele lugar e decidiu seguir também.
- Nós esperem, por favor! - gritou a filha mais velha. Era um pouco mais alta que a mãe, embora fosse bem mais magricela.
Cerrando os olhos, também pode ver o padre levantar, correndo atrás das mulheres, começando a percorrer sob as camadas viscosas, chegando cada vez mais perto.
O trailer de Eduard mais abaixo reverberou. Norton girou as chaves e ligou sua camionete. Após descobrir, com o ponto de vista de uma das janelas do casebre, se guiasse seu veículo para direita, seguisse reto e descesse o relevo mais linear para esquerda, entrariam na trilha localizada bem próxima do segundo casebre. E foi isto que ele fez.
Apontou para Eduard, que consentiu.
Com Michelly na porta, a mulher e suas filhas subiram no trailer, depois foi a vez do padre, e este seguiu reto na trilha. Alguns segundos após, a camionete surgiu a sua frente, comprimindo-se na curva antes que pudesse bater nas árvores mais próximas.
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Entre Nós (Revisando)
Ficção CientíficaO que fazer quando aqueles que nos vigiavam cada passo nosso aqui na Terra, o que fazíamos, o que comemos, nossos atos fúteis, o nosso jeito de "desperdiçar" a vida, descerem em nosso solo? Seria o ápice da desordem humana. Nesta obra trago emoções...