First

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Yasmin Wood. Cabelo azul claro. Olhos acinzentados. Piercing no septo.


Essa sou eu. Pelo menos, é a única informação que vos consigo dar sobre quem sou.

Alguns dizem que és o que as memórias te fazem;Outros dizem que és o que o ambiente te faz.

Eu acho que quem és, é a consequência de tudo aquilo que ouves; tudo aquilo que vês; tudo aquilo que sentes, tudo aquilo que perdes e tudo aquilo que desejas.

Mas até um certo ponto da tua vida, não sabes quem és. Às vezes nem chegas a descobrir.

O maior objectivo da vida é esse. O maior objectivo da vida é descobrires-te a ti mesmo.

Normalmente, aquilo que tens conhecimento de ti é apenas uma ponta do icebergue.

Há tanto por descobrir... e acho isso, de certa forma, fascinante.

Costumava usar esse pensamento como núcleo de seguimento da minha vida,mas, assim que a minha irmã faleceu, tudo parou de fazer sentido.

Atualmente, para mim, já não existe 'quem sou',mas sim 'como estou'.

Uso cores para me definir. Desde criança ,na parede do meu quarto, mantenho uma lista dos significados das cores.

O meu cabelo tem um significado, é azul - simboliza a tristeza. Melhor dizendo, no meu caso, exprime o meu estado de alma: como estou desde o falecimento da minha irmã gémea.

A perda de Arya é um acontecimento que nunca ultrapassarei. Marquei-o e será sempre o que me caracteriza.

Mereço viver com o sofrimento desse dia. O destino decidiu que seria eu a viver e, por mais que tente, nunca conseguirei encontrar a resposta para a pergunta: 'Porquê eu?'.

Ela era tudo e eu sempre serei nada. Era mais que evidente que era ela que merecia viver.

Arya era querida, doce, honesta e humilde. E eu? Eu sou completamente o contrário.

Arya era popular, extrovertida, tinha a maior das facilidades em conversar com qualquer pessoa. Eu,pelo contrário, não consigo nem sorrir a alguém.

No fundo, ambas éramos a outra. Iguais mas distintas. Uma parte de mim foi eliminada no momento em que a minha irmã parou de respirar. É como se o órgão mais importante do meu corpo tivesse parado de funcionar.

Preferia ter sido eu no lugar dela. O mundo iria adorar conhecê-la. Afinal, quem não adoraria?

De certeza que ela saberia como lidar com a minha morte. De certeza que ela aceitaria e viveria pelas duas - algo que eu não consigo fazer.

Não consigo sair deste vazio e viver por ambas.

Não consigo aceitar que a pessoa que eu mais amo chegou a um término.

Até aquele dia, jamais me ocorreu imaginar-nos a morrer em tempos diferentes. Sempre imaginei que teríamos o mesmo fim,assim como tivemos o mesmo início.

Não é justo. Infelizmente, não é por ser injusto que o mundo vai retroceder e devolver-me a irmã 'roubada'.

É assim que eu me sinto. Sinto que me roubaram a coisa mais preciosa da vida. Sem ela, já não sei viver - desaprendi.

Não há um único momento em que não me imagine num universo diferente, no qual ela ainda existe.

Os meus pés pararam, acordando-me dos meus pensamentos.

Bati na porta que tinha as palavras "Psicóloga Escolar", escritas a letras vermelhas.

-Posso?- Perguntei, abrindo um pouco a porta. A mulher respondeu afirmativamente.
Entrei na pequena sala de paredes verdes e sentei-me na cadeira à frente da sua secretária.

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⏰ Última atualização: Sep 16, 2020 ⏰

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