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De: xxxxxxxx
Para: Ellie Trenton

Dear Ellie,

  Lembro-me perfeitamente do dia em que nos conhecemos, era uma noite de natal fria, como esperado de dezembro. Estava no bar Miss Jackson, aproveitando algumas doses de Whiskey, coisa que não era fora do comum aos meus padrões, tal modo de celebrar esta data comemorativa já havia se repetido duas ou três vezes, até por que não tinha família em Nova York, e sinceramente, não tinha a mínima vontade de ter... Até conhecer você.

  Você, Mademoiselle, virou minha cabeça no momento que entrou pelas portas de marfim daquele bar...

  Meu primeiro reflexo foi checar minha bebida e conferir se esta teria sido batizada pelo barman, porém estava intacta. Meu segundo reflexo foi desviar os olhos, pois você era como o sol, com presença marcante mas impossível de se acompanhar, mas o que mais me assustou foi o Terceiro reflexo... Sentar-me ao seu lado e oferecer-lhe uma bebida, você disse que não precisava, porém após uma leve insistência minha, você aceitou, e pediu aquela bebida vermelha, da cor de seus lábios, cujo nome não me recordo bem, porém se eu estiver correto, chama-se Cosmopolitan.

  Perguntei então o que uma moça tão bela fazia num bar em pleno Natal, e o que me respondeu foi levemente inesperado: "Natais me decepcionam, pequenos encontros de pessoas que apenas compartilham sangue, e nada a mais. Sorrisos falsos e presentes caros, celebração horrenda. Soa desse jeito na minha família."

  Após aquele breve, mas profundo comentário, percebi que você não era o tipo de mulher supérflua, das quais eu estava acostumado, e sim uma mulher que aprecia o valor, não monetário, mas o exorável. Foi nesse momento... Foi nesse momento que meu coração foi flechado por você.

  Havia decidido que, se eu fosse ter uma mulher em minha vida, seria você, e não permitiria que a tristeza lhe acompanhasse mais. Nas semanas seguintes tivemos alguns encontros, você me contou sobre seu trabalho, era uma colunista do New York Observer, e geralmente abordava temas cotidianos, dos quais as pessoas não percebem o valor, e mostrava o quanto estes eram relevantes no binômio social-político. Uma simples tomada de ação pode diferir uma catástrofe da ordem, e essas ações são corriqueiras, desde o simples pisca alerta do carro aos grandes controladores de voo que regem as regras do céu. Gostava desse seu lado observador e questionador, te dizia sempre o quanto seu emprego era ideal a uma pessoa "ligada" como você.

  Com a progressão dos meses, nos tornamos mais íntimos um do outro, chegamos até a ter relações. Havíamos adotado como lema de vida, a frase originária do Latim: "Memento Mori". Lembra-te da tua morte, ou seja, viva como se fosse morrer amanhã, por que o amanhã pode não existir, e o amanhã é sempre inesperado. Éramos o par perfeito, o par de fósforos ideal, talvez por isso tenhamos queimado rápido... Talvez tenhamos liberado muito Dióxido de Carbono... Talvez por isso o Destino tenha nos apagado naquele fatídico dia.

  A vida sem você é inerte, a vida sem você é acromática, a vida sem você é inodora, a vida sem você é morta... Mas eu prometi que cuidaria de você, até o final.

  Uma pessoa tão pensadora quando você, cheia de coágulos cerebrais, presa num coma sem data de validade. Parece um trocadilho de mau gosto vida, but the life doesn't have a sense of humor. Sei de sua atual condição por que sou seu Médico, fiz questão de me oferecer ao cargo, mas seu caso...

  Você me abandonou há 3 anos, e sua família já decidiu desligar suas máquinas... Maquinas que te mantém viva... Maquinas que impedem você de ir embora, talvez seja egoísmo, mas eu também não quero que vá embora. O tempo me converteu numa máquina.

  Como Doutor, deveria desligar seus aparelhos, mas como amante, sou impedido, e por isso eu criei essa carta. Nunca fui bom com palavras ditas, sou melhor com as escritas, porém me recuso a ficar sem palavras ao vê-la mais uma vez, manterei essa carta comigo para que na travessia eu possa levá-la, e espero que isso seja possível. Gostaria que lesse a saudade que me faz.

  Amanhã, 28 de agosto de 2017, ás 17 horas, você partirá numa nova viagem, não serei eu o maquinista, como deveria, porém serei seu companheiro de vagão.

  De casa partirei ao seu encontro, ás 17 horas.

  Estou demente sem você, posso afirmar como médico, e para os que ficam, isso pode soar como as últimas palavras de um maníaco, porém para mim, o autor delas, as vejo mais como um conto de amor, meu último soneto da loucura, minha última Ode aos céus, ou melhor, a você.

  É por meio dessa que me despeço, aqui o tempo jaz de outra forma, em palavras o tempo de desfaz.

Com Amor,
Joseph Wilde

Dear Ellie,Onde histórias criam vida. Descubra agora