E lá estava ela, sozinha de novo, sussurrando de novo, pensando demais de novo. As palavras saindo de sua boca pareciam dançar nomeio do vento da tarde naquela primavera. A árvore na qual se recostava era a sua favorita. Ficava linda no inverno quando os cristais de gelo se apoderavam dos galhos, tais como lágrimas que escorreram do céu e que foram passadas adiante por outro ente da natureza. Deve perguntar-se o motivo dela estar tão perto do campo aberto e não faz mal com isso. Aquela menina simplesmente não suportaria dividir seus tormentos com ninguém naquele instante e um lugar silencioso para ela desabafar para seus próprios ouvidos era tudo o que precisava.
Fitava a flor despetalando-se, ao mesmo tempo em que admirava a luz do sol banhando a cor branca em seu vestido. Sim, ela havia ficado noiva e seu casamento terminou há menos de uma hora. Pergunta-se o motivo dela não estar junto de seu marido? Diana sentiu que precisava disso mais que qualquer outra coisa.
Desde muito jovem sentia como se o casamento fosse uma prisão, visão imposta principalmente por sua mãe que queixava-se constantemente dos sonhos que desistiu de perseguir ao tornar-se esposa e mãe.
Mais que uma simples brincadeira de Bem-Me-Quer, Mal-Me-Quer, Diana queria ter certeza de que havia feito uma boa escolha.
E por que ela não pensou nisso antes de dizer "Sim"? Porque fora tudo depressa demais, assim como quando perdeu seu pai.
— A vida é engraçada e adora brincar comigo. — murmurava ao acaso. Para ser sincera consigo mesma, mal tinha certeza se estava realmente pronta para abrir os olhos e ver a realidade que contemplavam os mais experientes. Se tornaria uma esposa e, certamente, uma mãe que precisaria proteger seus filhos do pior. Grandes responsabilidades geram grandes dúvidas e agora a pobre moça acreditava que elas nunca mais teriam respostas.
— Diana?
— Ingrid!
Ouvir a voz da amiga não era ruim, no entanto, tudo parecia ser realmente sufocante àquela altura. Congelar não era uma de suas reações mais comuns quando via a então madrinha de seu casamento, mas aconteceu. Ingrid era loira e vestia um traje cor-de-vinho, e estava de pé diante da amiga com a típica expressão de repreensão.
— Há explicações para toda esta indiferença?
— Ingrid, eu não posso conversar agora.
— E quando alguém poderá crer em sua palavra? Aceitou o Anthony como seu esposo e fugiu dele como se o pobre homem fosse um trasgo. Não pode imaginar o quanto ele se sente ofendido.
— Eu lamento muito. Jamais tive intenção de ferir os sentimentos dele. Eu apenas não sei como explicar que preciso ficar sozinha por hora.
— Ficar sozinha? Diana, sua mãe é de carne e osso e todos naquele casamento também. Anthony está entusiasmado por tê-la como companheira, um homem está se rendendo a você e entrega a ele como retribuição o suspense? Duvido que ele não anseie por uma palavra que esclareça os motivos de tudo isso.
— Estou com medo!
O silêncio as envolveu depois daquele grito desesperado, foi uma pausa bastante desconfortável para Diana. Ingrid parecia incrédula e suas esperanças de que aquilo não passasse de ansiedade começavam a evaporar.
— Uma mulher não deve ter medo de se casar, principalmente se o noivo for um duque! Não pensa em sua família?
— Minha família insiste que eu siga o mesmo caminho que muitos seguiram, porém eu me recuso! Uma ligação entre duas pessoas com base apenas no sangue ou casamento é inadmissível! Eu não me sinto pronta para...
— Pensei que amasse o Anthony. — interrompeu, Ingrid.
— E eu o amo! — retrucou Diana colocando-se de pé — Contudo... Contudo, eu não sei se estou pronta para abrir mão da minha liberdade dessa forma. Há tantas regras que influenciam o tratamento entre homens e mulheres, regras as quais tenho profunda aversão e...
— Diana.
Um homem surgiu, recostado contra o tronco que outrora fora ocupado por Diana. Tinha cabelos ruivos, era corpulento e portava um olhar inquietante. Ingrid nunca levara tamanho susto, entretanto o contentamento a dominou e, com a mão sobre o peito, pediu licença e deixou-os à sós. Diana ao menos teve coragem de olhar nos olhos do marido quando virou-se totalmente em sua direção.
— Anthony, eu...
— Por favor, apenas ouça-me, Diana.
Certamente, o tom agradável em sua voz trouxe algum tipo de calma ao espírito dela, e manteve-a com os ouvidos atentos.
— Compreendo suas razões para temer unir-se a mim e não julgarei você. Desde o dia em que a conheci dei-me ao desfrute de admirar seu comportamento e posso afirmar com muita eficiência que és a mulher com quero permanecer pelo resto de meus dias.
Conforme divagava, Anthony estudava a mulher com muita atenção, e percebeu que suas palavras provocavam certo conforto em Diana.
— Compreendo suas vontades, Anthony, e eu não posso negar que sinto igual afeição pelo senhor, mas não me sinto realmente pronta.
— Eu também sinto aversão às regras impostas, senhorita. Elas impedem coisas que deveriam ser comuns em um casamento.
Neste ponto, o jovem duque ajoelhou-se enquanto consumia a mão de Diana com o calor emanado pela sua.
— Por isso venho pedir-lhe: aceita entregar-se a mim e desrespeitar qualquer regra que impeça a minha e sua felicidade, e que não nos convenha em momento algum de nosso casamento, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza ou em qualquer desavença, por todos os dias de nossas vidas? Juro solenemente não interferir e continuar apreciando seu adorável modo de firmar opiniões. Aceite ser minha esposa verdadeiramente desta vez e eu serei o melhor que poderei ser todos os dias.
Diana simplesmente não soube o que responder durante algum tempo. Perguntava-se sobre a real possibilidade daquilo estar acontecendo e logo ficou claro que nem todo pavor pelo qual passava deveria receber grande importância, que certas dúvidas jamais podem ser esclarecidas quando temos pressa, que acabara de quase abandonar o homem que amava por sua insegurança e percebeu, por fim, o quanto tinha complicado uma coisa que poderia ter sido mais simples se ela tivesse conversado com ele antes. Seu coração não errara.
Sua resposta final deu-se na forma da união de seus lábios aos do marido. Ele entendera o recado perfeitamente.
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Diana
RomansaLivre para todos os públicos. O dilema interno de uma jovem vitoriana que não consegue entender a razão pela qual algo tão pessoal é tão regrado: a felicidade.