Dizem que alguns espelhos distorcem a imagem nele refletida, uns deixam as pessoas um pouco mais altas e magras outros deixam elas baixas e gordas, já no meu caso o que eu vi, não chega nem perto disso.
***
- Kim! Kim! Acorde! Por favor, acorde! – gritava Camila ao ver sua amiga se debatendo na cama.
Kim abriu os olhos de súbito, ofegante e quase sem entender o porquê tinha sido acordada desta forma. Olhou para Camila que estava aparentemente chocada, e lhe deu um abraço.
-Está tudo bem, não foi nada. - disse Kim com pouca certeza no que dizia, para tentar acalmar sua amiga.
-Foi aquele mesmo sonho? – perguntou Camila.
-Sim, mas... dessa vez foi mais forte, parecia tão real...
Camila deitou-se do lado de Kim e pediu para que lhe contasse o que tinha acontecido no sonho.
Kim olhou para o relógio ao seu lado, que marcava 4:27am, aparentemente as demais meninas no quarto, continuavam dormindo. Esticou um pouco o braço para ascender à luz do abajur, e começou a falar sobre o sonho que teve:
- Bom, acho que não vou conseguir dormir mais. Faz algum tempo desde da última vez que tive esse sonho. Era uma noite chuvosa, com muitos trovões e ventos, acordei com uma sensação muito gostosa, parecia que estava feliz por algum motivo, minha garganta estava seca, então resolvi ir até a cozinha para beber água, abri a porta do quarto e fui em direção a escada, quando eu estava passando um pouco mais da metade dela, lá fora deu um trovão com um barulho tão alto que me assustei e tropecei, desci rolando até a sala, bati a cabeça com força em algum lugar e a partir desse ponto o que lembro está meio confuso... já estava na cozinha quando lembro de ter escutado alguém gritando, deu um outro trovão mais forte e com um barulho seco dessa vez, que parecia que tinha caído dentro de casa. Sai correndo para voltar para meu quarto, mas tropecei em alguma coisa e apaguei.
-Mas, e o espelho? Pergunta Camila meio sonolenta, mas com uma certa empolgação, era a parte que ela mais gostava nos sonhos da Kim, sempre tinha um espelho misterioso.
Kim continuou a contar o que lembrava de seu sonho. - Acordei no dia seguinte um pouco tonta, percebi que tinha alguém batendo na porta da sala, assim que me levantei, vi meu reflexo num espelho e reparo que tem uma mulher estirada no chão, com muito sangue em volta dela, eu estava odiando aquela situação, mas quando me olhei no espelho novamente, o meu eu refletido parecia que estava odorando. A porta da sala abriu violentamente, alguém entrou e veio na minha direção, olhei uma última vez para o espelho, mas meu reflexo não estava mais lá, e apaguei de novo.
Camila tinha caído no sono antes mesmo de ouvir o final do sonho.
Kim levantou-se da cama, envolveu melhor os lençóis em sua amiga e lhe depositou um beijo na testa, apagou a luz. Lembrou que é dia dos exames na escola, então decidiu ir para biblioteca estudar mais um pouco.
***
Kim levou um tremendo susto quando um corvo bicou a janela a sua frente e quase ao mesmo tempo soou o alarme das 7:00am, indicando que já era hora de ir para o refeitório tomar café. Era rotina no orfanato que ela vivia.
Ela dá uma última folheada no livro, faz algumas anotações em seu pequeno diário e se levanta, assim que vira de costas ouve novamente as bicadas do pássaro na janela, percebe que tem alguma coisa pendura em sua patinha. Abriu a janela, e o corvo entrou cautelosamente em passos lentos até se fixar em cima de um livro, olhou nos olhos dela como se tivesse tentando lhe dizer algo.
Kim um pouco apreensiva chegou perto dele e reparou que uma pequena cordinha amarrada em sua pata, segurando uma garrafinha, que estranho ela pensou, desamarrou a corda e levantou o objeto na altura de seus olhos para analisa-lo melhor. Antes mesmo de entender o que era, o corvo fez um gesto como se fosse uma reverencia e vai embora como se nada tivesse acontecido.
-Kim! Você esta aí? - a governanta do orfanato gritou lá do corredor seguido de batidas na porta.
– Já estou indo! Gritou em resposta. Fechando a janela e guardando a pequena garrafa na primeira gaveta da mesa.
Voltou correndo para o quarto, e deu de cara com a governanta que estava dando broncas nas meninas como de costume. – Porque ainda não está arrumada mocinha!? Vá agora para o chuveiro! Não quero que se atrase para os exames! A governanta está bem chata esta manhã, o que será que aconteceu? Pensou Kim enquanto pegava o que precisava no guarda roupa e saiu o mais rápido que pode.
****
Restavam meia hora para chegar na escola, quando Kim se despediu de todos. A escola fica a três quadras do orfanato, dava para ir andando. As ruas estavam começando a ganhar movimento, com alguns carros passando, alguns comerciantes já estavam abrindo as portas. Kim adorou o novo vestido que a Dona Vera estava colocando no manequim da vitrine. Suspirou e se imaginou usando ele na festa de despedida da escola. – Bom dia, Kim! -Dona Vera disse ao perceber sua presença. – Bom dia Verinha! E saiu saltitante em direção a escola, mesmo sabendo que nunca usaria aquele vestido.
Kim vivia no mundo da lua, e mal percebeu que estava sendo observada.
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Reflexo
Teen FictionDizem que alguns espelhos distorcem a imagem nele refletida, uns deixam as pessoas um pouco mais altas e magras outros deixam elas baixas e gordas, já no meu caso o que eu vi, não chega nem perto disso.