Ainda que Eijirou preferisse ficar em casa e dormir o dia inteiro, seu senso de responsabilidade não lhe deixara em paz e ele se viu forçado a se arrumar de manhã cedíssimo para ir à faculdade. Sentia-se cansado como nunca antes na vida, e estava começando a se questionar internamente se aquilo era normal, mesmo numa rotina pesada como a de um estudante universitário.
O ruivo nunca esteve tão consciente do quão pesados seus olhos estavam, quão fundas suas olheiras haviam ficado. Mas era um esforço recompensado, pois ele estava se formando em um bom curso numa universidade pública de prestígio, garantindo seu futuro.
Mas será que era realmente isso que ele queria? Kirishima vinha pensando nisso com cada vez mais frequência, tanto durante às aulas, onde não se sentia muito feliz e encaixado no ambiente, quanto em sua cama, à noite, quando não conseguia pegar no sono, apesar de todas as partes de seu corpo implorarem por descanso.
A cada dia que passava, ele se sentia um pouco mais infeliz. O ruivo se via sentindo cada vez menos prazer em atividades que ele costumava gostar, como desenhar, e colocava toda a culpa do desinteresse e desânimo no stress da faculdade. Todas as vezes em que passava o final de semana inteiro dormindo sem parar, ainda que detestasse sentir sono, ao invés de sair com os amigos ou fazer as tarefas do curso, teimava em dizer que era a universidade que o estava cansando. Todas as vezes que chorava, seja no banheiro do refeitório ou na volta para casa dentro do ônibus, ele insistia em culpar a faculdade. "Não se preocupe, Eijirou, isso é só o stress, você ainda não se acostumou com essa rotina", dizia a si mesmo.
Uma vozinha bem no fundo da sua cabeça chegou a sussurrar: "será que você não está... deprimido?"
"O quê, eu? Com depressão? Não, isso é impossível, eu sou feliz demais pra ter isso, deve ser só a desilusão com o curso."
Porém, cada vez mais ele se via diante dessa questão, forçado a considerar se não seria essa a resposta definitiva. Mas Eijirou acreditava que era só uma fase, que iria passar tão logo ele conseguisse entrar em outro curso, torcendo para que dessa vez seja para valer, desejando sentir o que todo mundo de sua sala sente quando vai as aulas ou está engajado em alguma atividade: contentamento.
A única coisa que o impedia de largar tudo e passar os dias em casa dormindo, era a enorme sensação de culpa em seu peito, tendo a consciência de que não estava fazendo nada por seu futuro.
E, é claro, a presença de seus amigos o inspirava a continuar, ainda que fosse difícil.
O ruivo interrompeu seus pensamentos negativos ao chegar na parada de ônibus, na qual já havia um estacionado no ponto, esperando os universitários embarcarem. Passou o olhar por toda aquela gente, mas não via nenhum sinal da cabeleira loira espetada, o esperando como costumava fazer todas as manhãs. Seu amigo provavelmente se atrasou.
Eijirou buscou imediatamente algum canto vago no ônibus, para não correr o risco de ficar sem lugar para sentar. Acomodou-se em um banco mais próximo do fundo, deixando sua mochila ao lado para sinalizar que estava guardando canto para alguém. Faltava apenas 5 minutos para as 6 da manhã, hora em que o motorista daria a partida no ônibus. Kirishima pensou se o amigo iria faltar hoje. Ele não se lembrava de ter visto alguma mensagem dele informando que faltaria, mas não ficara preocupado, dada à mania do loiro de ser tão imprevisível.
Seis horas da manhã. O ruivo sentiu mais do que ouviu o motor dando partida, sua cabeça pendendo para a janela, o lado da testa contra o vidro frio. Ele não sabia ao certo quando suas pálpebras resolveram se fechar, estava a ponto de cochilar quando sentiu o banco ao seu lado afundar e uma voz grossa resmungar um "Bom dia" meio ofegante. Abriu os olhos de supetão e encontrou um belo par de íris vermelhas a lhe encarar fixamente. Sentiu seu coração palpitar.
- Qual é, seu fracassado, que cara é essa? - rosnou Bakugou, carinhoso como sempre.
- Bom dia, Katsuki. Você veio correndo? - indagou Kirishima com um meio sorriso, tentando ignorar a pergunta feita pelo loiro.
- Responder uma pergunta com outra é coisa de cuzão, seu retardado. Você ficou sem dormir de novo? - rebateu Bakugou, uma nota de preocupação mal escondida por baixo do timbre usualmente ríspido.
- Pra sua informação, eu dormi hoje, tá bom?
- Aham, mas me fala, foram quantos minutos? Chegou a passar de uma hora? - riu sarcástico.
- Na verdade foram duas. - respondeu o ruivo, baixinho. Kirishima sentia uma pontada de culpa misturado com um calorzinho no peito. Detestava preocupar Bakugou, mas sentia-se feliz ao ver a reação do amigo. Ele sabia que o loiro explosivo nunca admitiria que estava aflito com ele, mas se ele tentava esconder isso, falhava miseravelmente.
O ruivo sacou de sua mochila o celular e o fone. Bakugou tirou um dos mini alto-falantes e o colocou no ouvido, enquanto pegava o celular dele e selecionava uma música. Culpa e gratidão se misturavam na cabeça de Eijirou, mas ele tentou afastar as duas sensações enquanto buscava se recostar no assento do ônibus, fechando os olhos e deixando a música embalá-lo.
- Você pode encostar a cabeça no meu ombro, se quiser. - falou Bakugou, em um tom de voz baixo. Ele não olhava Eijirou nos olhos, mas em algum ponto fixo lá na frente.
Kirishima não pensou duas vezes. Logo ele estava acomodado no ombro de Bakugou, os olhos mais uma vez pesando e fechando. Katsuki sabia perfeitamente o quão mal o amigo estava, mas não o pressionava a falar, pois sabia que em alguma hora Eijirou viria e se abriria com ele.
O ruivo cansado e o loiro preocupado seguiram viagem, aproveitando esse pequeno momento de conforto mútuo.
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Tiredness
Fanfictiononde Kirishima se sente cada vez mais cansado e infeliz a cada dia que passa, e insiste em pôr a culpa na desilusão com o curso na faculdade que achara que seria o seu sonho, mas no entanto, passara a odiar. . . . . bnha!au | kirishima!centric