...Um, dois, três, fogo...

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Acordo de minha morte temporária com um estrondo. Meus anos de experiência com filmes me dizem para me calar e voltar a dormir, mas quem disse que ajo de acordo com a racionalidade ?!

Me levanto da rígida mas tentadora cama, meus pés em contato com o chão gélido me fazem estremecer, imagino a adrenalina correndo em minha corrente sanguínea como um soro gerado. O segundo estrondo me acelera, pego a Zakharov militar e a primeira blusa de frio que encontro, por algum motivo ignoto sinto o dever de ir ao desconhecido... O mais rápido possível.
Abro a porta do quarto e saio para o corredor, a luz fraca ilumina meu rosto enquanto meus pensamentos são escuros, o terceiro estrondo me deixa atento, empunho a faca militar, me aproximo do que me fez levantar da cama e ir ao desconhecido, nenhum barulho mais se perpetua, mas sei o meu destino, sigo as luzes de emergência, 109 passos, alguns ruídos quando me aproximo, a luz é fraca mas ilumina uma briga corporal, por instinto ou por pura burrice solto um "grito" como se quisesse separar uma briga de gatos:

- Ei, parem!

Me sinto um diamante bruto de pura estupidez. Os rostos descontentes e furiosos miram o meu, porém um deles suga minha alma, o maldito vórtex, que só perde minha atenção para uma Ghost TR01 jogada a pouco menos de dois metros da pessoa que luta contra o vórtex, o objetivo é a arma. Estagnado percebo que tudo está errado, um idiota, em um lugar desconhecido, com uma faca na mão, separando uma briga de gatos, um rato estúpido e medroso que usa sua coragem acumulada pra se matar.

Os segundos passam lentos, se arrastando, pesados, como se Cronos estivesse morrendo.

O corpo robusto que prende vórtex contra o chão o esmurra, se levanta e vem em minha direção, suas pupilas quase tomam conta de seu olho, não por conta da falta de luz, seu rosto é uma mistura de raiva, suor e sangue, mas parece desorientado, atordoado, como um cão de briga, ele avança enquanto me afasto, como um cervo que sabe que vai morrer encarando seu felino, ele pula sobre mim com toda fúria guardada, mas no momento que atingimos o chão ele não me bate, me encara, seus olhos não são mais de ódio são de surpresa, sinto minha mão aquecer, ainda seguro o punhal mas agora ele está cravado ao lado direito de sua costela, seu sangue escorre pelo ferimento aberto depois que retiro o punhal, mas ele não cessa, suas mãos ásperas apertam meu pescoço, o fluxo de ar que passa em direção aos meus pulmões é detido por uma força insuportável, aplico mais um golpe em seu braço, o sangue quase esguicha sob sua blusa mas esse não parece ter um terço do efeito do primeiro, não o surpreende, só o enche de ódio, a cada segundo que se eterniza sinto meu corpo enfraquecer, mas posso sentir a adrenalina se espalhando descontroladamente, medo, posso sentir seu sangue me banhando também, minha consciência e concentração escorrem pra fora do meu corpo, assim como minhas forças. Um barulho quase atordoante seguido de um eco longínquo antes do corpo sem vida do homem cair sobre mim, sinto o sangue viscoso se arrastar sobre meu pescoço, sangue que não é meu e sim de um provável assassino agora morto sobre mim, tudo dentro do meu corpo se contrai, se expande, se revira, como se meu estômago estivesse entrando em profusão e então o que parece ter vida própria sai do meu corpo, goela a cima, meu jantar agora está semi digerido no chão junto com pelo menos dois litros de sangue, vômito duas vezes antes de ouvir um:

- Meu Deus!

- O que porra você fez?! - Mal consigo pronunciar as palavras, parece que o peso de um homem foi colocado sobre minha garganta, e foi.

- Ele me mataria você.

- O que vamos fazer? Ele tá morto meu Deus! - Falo enquanto reúno minha força restante para me levantar e me distanciar do corpo.

- Tomos que pegar as coisas no quarto e... Você tem um carro, é nossa chance mais alta de sairmos daqui, nós temos que ser rápidos.

Mesmo trêmulo e desorientado ele me entrega a minha faca, com aquele barulho não há um ser vivo que não tenha acordado, tenho certeza. Coloco meu capuz e corro o mais rápido possível, entro no quarto e pego minha mochila e algumas das coisas que estavam sobre o criado mudo, vórtex me espera do lado de fora do quarto e corremos para o carro estacionado em frente ao estabelecimento, a porta da frente está entreaberta, provavelmente o local de entrada do assassino, minha mente quase entra em colapso e a anarquia que toma conta dos meus pensamentos é inexplicável, abro o carro com a mesma destreza que um pato abre uma lata de sardinhas, meu nervosismo me controla, mas consigo abrir o carro, sou um fugitivo agora, sou um assassino... Vórtex entra no carro e eu acelero o máximo possível, tudo está irreversível agora.

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⏰ Última atualização: Jun 01, 2019 ⏰

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