IX

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- Você vai ao evento da emissora amanhã? – minha mãe me perguntou entre uma garfada e outra. Estávamos jantando em um restaurante italiano no shopping após um dia cheio de gravações. O local era acolhedor e tinha cheiro de queijo e molho de tomate. As pessoas conversavam baixo e pareciam estar em seu próprio mundo. Ao meu lado, minha mãe aguardava minha resposta enquanto ajeitava Catarina no banquinho alto de madeira.

Aquela sexta foi corrida, comecei a gravação bem cedo e tive inúmeros intervalos e esperas até que, por fim, fui liberada. Minha filha foi levada por Nicolas até minha antiga casa sob inúmeras recomendações minhas. Eu confiava de olhos fechados em meus pais, mas uma garotinha de um ano e meio dava trabalho por vinte crianças. Ela voltara ainda mais ativa do Réveillon na Ilha de Noronha, foi um momento especial para nossa pequena família e a segunda virada com Cat. Foi adorável ver aqueles pezinhos gordos correndo desajeitados pelas areias daquele paraíso, tudo ali aguçava sua curiosidade e senso de exploradora. Passeamos de barco, vimos tartarugas e grutas. A pousada Maria Bonita estava recheada de conhecidos e entre eles, a pequena Madá por quem minha filha se apaixonou e chamava de "pima". Ana, mãe do padrinho dela e avó da pequena Madalena, se emocionava sempre que ela repetia a palavra que a ensinou. Ah, e transar sob a luz daquelas estrelas e lua brilhantes foi uma das experiências inesquecíveis tanto para mim quanto Nicolas. Ele tinha viajado aquela manhã para a Salvador onde faria uma sessão fotográfica e entrevista. Não sabíamos se voltaria naquele dia, tanto pela agenda cheia quanto pelo mal tempo que cismava em se fixar no aeroporto baiano. Cat não podia ouvir sua voz nem pelo celular que começava a procurar seu "papapá".

- Não sei bem o que farei amanhã – suspirei olhando Catarina tirar a chupeta para comer o macarrão oferecido – A festa do Rodrigo será o dia inteiro, mas não sei se tenho cabeça para tanta bagunça.

- Você gostava! – relembrou sorrindo. – Inclusive, sempre quis saber o que rolava naquelas putarias deles.

- Mãe! Pelo amor de Deus. – dei uma golada no vinho e pousei a taça novamente na mesa.

- Dá, "bó", dá. – pediu Cat esticando as mãozinhas. Para quem havia jantando seus legumes que seguiam sua dietinha balanceada e saudável, aquela menininha gostou bastante do molho branco.

- Vovó vai dar – ela levou mais um pouco de massa até sua boquinha – Mas me diz a verdade, sou sua mãe e temos intimidade: você já ficou com o Rodrigo?

- Dona Cristina, eu sou casada. – ergui o guardanapo de pano limpando a boca. Claro que não havia ficado ofendida, acho que ela sempre quis tirar aquela dúvida. Olhei para ela novamente e sua cara esperava por uma resposta, mordi os lábios e sorri sem graça afirmando com a cabeça.

- E foi naquela vez? – ela me olhou novamente e neguei com a cabeça incrédula. A que ponto chegamos? Catarina parecia esperar por algo, ela mastigava com aquelas bochechas enormes se mexendo.

- Naquela e em outra. Pronto. – encerrei o papo – Não dê mais macarrão a ela.

- Juliana, você estava.... Meu Deus. – ela riu e minhas bochechas se encheram de vergonha. Cortei o assunto o mais rápido possível. Minha mãe é uma falsa fofoqueira: diz que não quer saber de nada mas adora comer pelas beiradas. Com minha vontade ou não, Cat continuou comendo do nosso prato e antes da minha sobremesa chegar, já estava grudada em meu seio com os dedinhos perambulando por meu cordão. Comemos o doce de chocolate, um dos mais divinos que já provei e fomos embora. Meu corpo pedia por cama, ainda que não estivesse completo sem meu marido, e precisava obedecê-lo.

Empurrei a porta de casa equilibrando uma bebê adormecida em um braço, minha mochila nas costas e sua mochilinha de raposa nas mãos. Minha mãe até ofereceu ajuda, mas recusei. Poderia dar conta mesmo sem Nicolas ao meu lado. Troquei a roupinha e sua fralda pelo pijama e retirei o pequeno lacinho azul que pousava em sua cabeça, como já havia tomado banho antes de sair, não precisava de outro. Peguei sua naninha, chupeta e manta e a levei para meu quarto. Quando a coloquei na cama, um chorinho invadiu o ambiente. Ela não podia ajudar minhas costas que queimavam de dor?

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