3. Vermelho. - Cap: Piedade.

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-...Rapaz de vinte e sete anos é encontrado morto em sua casa... - Josh continua. - A polícia investiga se houve assassinato ou suicídio. - Josh posiciona o jornal da cidade sobre a mesa e desvia seu olhar para sua esposa. - Essa cidade está perdida. Eu conhecia esse rapaz. - Ele suspira e afasta as lembranças da época do colégio. - Não tenho dúvidas que foi suicídio. Ele vivia com muita tristeza para um garoto tão novo.

- Mas é claro que você conhecia. Ele era membro da família mais influente da cidade, quem não o conhece? - Alice retira a panela com panquecas do fogo e coloca sobre a mesa. - Cuidado, está quente. - Avisa, quando seu marido avança com impaciência para cima do recipiente. - Por que suicídio? Sem dúvidas que foi assassinato. Esse rapaz tinha tudo.

- Ele foi meu colega de quarto durante o ensino médio e depois que acabou nunca mais nos encontramos, nem ele e nem o namorado. - Não passara das nove horas da manhã, mas o sol queimava como uma tarde de verão. - Dividia o quarto com os dois. Sempre desconfiei que existisse algo entre eles. Mas não era da minha conta. - Ele corta a panqueca em vários pedaços e saboreia com lentidão e prazer. - Como será que está o seu marido?

- Triste, não? - Alice responde sem prestar atenção enquanto prepara o leite das crianças. - O dia está tão lindo para receber uma notícia dessa. Não consigo imaginar como a família deve estar, perder um filho é insuperável. - Josh leva seu olhar até as escadas quando escuta seu filho mais velho pular os degraus.

- Não acho que estejam tristes. Eles não eram tão próximos, não acho que ele tenha sentido na vida o que é família.

- Não diga uma coisa dessa, meu amor. Nunca sabemos o que passa no coração do outro. Há famílias de todo tipo, há amor de todo tipo e quando envolve dinheiro tudo é uma loucura.

- Não importa, o que importa é que ele morreu. Uma hora ele está aqui e na outra ele se foi, realmente não somos nada. - Ele coça o nariz melando com caramelo. - Quando será o velório? Devemos ir.

- Imagino que metade da cidade vai comparecer. Esse pessoal não perde a oportunidade de conseguir atenção dessas famílias ricas, até mesmo em um momento tão delicado.

- Para de correr crianças. - Ordena Josh quando seus dois filhos passam pelo corredor gritando. - Essas crianças estão sem limites, é o dia todo assim, brincando com armas e luta, vou suspender o videogame.

- E o que adianta? Isso está sempre na tv. - Responde. - São crianças, não tem noção do que estão fazendo.

- É, mas já estão grandinhas para começar entender, você sabe. - Alice dá de ombros e grita as crianças entregando suas mamadeiras. - Está na hora de trocar a mamadeira por copos, não acham? - Ele levanta o copo de plástico exageradamente colorido, mas toda essa coloração não fora capaz de prender a atenção dos seus filhos que retornam para sala. Ele ri e volta sua atenção para a conversa com sua esposa. - Aqui está dizendo que o marido dele foi internado, parece que passou mal quando soube.

- Os dois passaram por muita coisa juntos. Eu me lembro de como a população caiu atacando-os quando resolveram casar na igreja principal da cidade. - Ela leva o copo com suco de laranja até os lábios e se certifica que o liquido levou para dentro todo o restinho de massa antes de falar. - Se vamos ao enterro com quem deixaremos as crianças?

- Vamos deixar com a sua mãe. - Ele finaliza seu café da manhã e se dirige até a pia. Resmungando pela sujeira que sua esposa fizera. Sua mania de limpeza sempre foi um grande problema para ele.

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- NÃO, NÃO. - Do estacionamento é possível ouvir, os gritos de desesperos e tristeza do marido do falecido. Josh e Alice trocam olhares buscando a certeza se devem ou não entrar ou voltar para trás, mas com passos preguiçosos adentram a igreja mais famosa da cidade.

As flores vermelhas espalhadas pelo salão quebram o clima de luto, mas é em vão quando as pessoas ali estão sofrendo. Josh aperta a mão da sua amada e se aproximam do caixão, ele encara o cadáver e suspira. As lembranças das bagunças que fizeram juntos, as brigas, as risadas ele revive cada lembrança com autenticidade. Seus olhos deslizam para o marido sentando na primeira fileira próximo ao caixão e dirige seu olhar reconfortante, queria se aproximar e dizer que tudo ficaria bem, mas não o faz. Ele caminha para o fundo e senta em qualquer banco ao lado da sua esposa.

- Ele nem parece morto. - Contestou. - Ele era lindo. - Josh assenti e volta sua atenção para a frente da igreja, o caixão a grande e bela foto do falecido e as flores vermelhas forçam a saudade vir átona trazendo as lagrimas. - O marido dele está acabado, você viu as olheiras? - Josh concorda e arrepende-se de não ter vindo sozinho. Seus olhos caminham pelo salão com as sobrancelhas arqueadas, mas não encontra ninguém da família do morto.

- Ninguém da família do falecido está aqui. - Sussurra para a esposa. Ele lembra dos momentos em que o finado amigo se escondia no banheiro chorando pelos problemas familiares e sente piedade, nem a morte foi capaz de unir os vivos.

O viúvo levanta atraindo a atenção de todos e caminha desajeitadamente até o caixão. Seu rosto cansado e olhos murchos denunciam horas de choro e sofrimento. Ele beija a testa do marido e desaba na frente de todos.

- Meu deus. - Sussurra Alice comovida e olhos lacrimejando.

- Eu te amo tanto. - Soluça Robb retirando o papelzinho do seu bolso que encontrara nas coisas de Sebastihá trinta e seis horas atrás, antes de tudo acontecer. Ele desliza o papel para dentro do palito de Sebastian e certifica-se de que seu marido vá embora levando para eternidade um pouquinho do seu amor.

Eu gostei quando você se interferiu naquele jantar, mamãe. Você me deu coragem e força para tentar sair mais uma vez desse amor doente, esse relacionamento abusivo. Se algo acontecer comigo procure a polícia e olhe no jardim, escondi as gravações de todas as noites em que Robb me agrediu. Eu te amo, mesmo sabendo que você nunca será capaz de retribuir.

- Sebastian.

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Algumas coisas parecem que nunca vão dar certo.Onde histórias criam vida. Descubra agora