Palavras.
Lyns adorava as palavras.
Desde criança era muito falante. Chegava a ser irritante estar perto dela, pois sempre extrapolava nas palavras.
Lyns era muito elétrica, sorridente, ria alto demais e gostava de estar no meio dos primos. Talvez essa tenha sido sua fase mais curta; brincar, gostar de estar perto das pessoas e conversar. Mas, foi ainda criança que Lyns começou a virar um fantoche.
Começou com a boca.
— Você devia ser mais calada… como sua mãe.
Engolir as palavras poderia ser comparado à uma lâmina dentro da boca, com as duas pontas nas bochechas, então, Lyns parou de questionar o porquê quando lhe disseram que mulheres precisavam ser caladas. Os homens gostam de mulheres caladas.
Lyns mal pensava em homens, era só uma criança. Mas, parou de falar tanto.
Lyns adorava música. Lembrava-se de estar na sala de estar da casa de seu avô, quando ele ainda enxergava, e o tio caçula pôs um CD antigo para tocar. Era uma banda de rock e um álbum de 1998 que a deixou fascinada. Catedral.
A voz do Kim, os solos de guitarra e as palavras das músicas… nossa! Eram incríveis.
Sua paixão pelo gênero musical era questionado pelo restante da família.
— Lyns só ouve gritarias. Não é o tipo de música que ela deveria ouvir.Nessa época, ela tinha onze anos. Ela havia ganhado uma bota de cano curto, com detalhes prateados e pulseiras de couro preto e correntes. Adorava usar aqueles acessórios, mesmo com os olhares tortos da família.
Era quase impossível encontrar Lyns de roupas coloridas, estava sempre de preto, com fones no ouvido, sibilando algum rock clássico.
Foi a primeira pior fase da sua vida.
Seus pais ficaram chocados com as músicas que ela ouvia — mesmo que ambos não soubessem a tradução —, e com as bandas que ouvia. John Cooper tinha muitas tatuagens, Jen Ledger não era cristã com aquele cabelo vermelho.
Então, Lyns ficou sem celular e sem fones de ouvido.
Seus pais também não curtiam o tipo de amizade que ela tinha. Lauren era muito alta, usava tênis coloridos, um rabo de cavalo e era rockeira; com certeza era sapatão!
Adrien era de outra igreja; com certeza não é crente de verdade!
Era muita informação para uma cabeça de onze anos. Sem músicas para ouvir, Lyns voltou a falar. A falar demais.
Gostava muito de sua vizinha e achava que ela era sua amiga, então, Lyns lhe contou um segredo; algo que estava lhe matando por dentro. Sentiu-se aliviada por ter contado a alguém.