Autora Eli Souza9 de janeiro de 1977, era o dia combinado do nosso reencontro. Não tinha conseguido dormir bem. Estava ansiosa e com medo, medo de meu pai pensar que eu estava perturbada a ponto de não conseguir cuidar de minha filha. Medo dele querer tirá-la de mim.
Fui ao túmulo de Antônio, e fiquei um bom tempo alí.
_Oi amor, essa é nossa filha, Maria de Lourdes. Eu trouxe ela de volta pros meus braços amor... Ela é tão linda, tem o seu olhar. Hoje vou, reencontrar o meu pai, e confesso que estou nervosa. Eu queria tanto você aqui, do meu lado pra me dar força, pra me dar sua palavra amiga.Eu saí de lá emocionada, mas estava mais calma. Parece que mesmo alí, Antônio me trazia paz. Eu estava segura de mim. Iria ficar tudo bem.
Na semana anterior, Lúcio havia ido pra Barbacena, pra saber como estava a situação.
No dia que meu pai tinha chegado, ninguém ainda tinha encontrado Ana Paula. O cheiro ainda estava fraco. Ele ficou estarrecido ao encontrar o corpo dela, mesmo já sabendo o que iria encontrar.
Chamou a polícia, fingiu não saber quem a matou, e deu queixa do desaparecimento da filha. Meu pai , praticamente já não morava mais com Ana Paula. Depois que se aposentou, passava mais tempo em Barroso com a amante. Só ia em casa aos fins de semana pra ver a "filha". Há algum tempo atrás, ele já havia pedido a separação; mas Ana Paula finjiu a gravidez ,se aproveitando da minha. Então, meu pai deixou a casa pra ela.O plano de Ana Paula não havia dado certo, esse é um erro de muitas mulheres, acharem que filho, segura um homem.
Meu pai teve que fingir um desespero ,pelo desaparecimento de mais um "filha". Ele não iria me entregar. Nada , jamais foi descoberto pela polícia.
Ele resolveu o que tinha pra resolver, com a ajuda de Lúcio. E voltou pra Barroso, onde agora estava livre, pra assumir sua amante.Na hora marcada daquele dia 9 de janeiro, eu fui ao encontro dele. Meu pai. Esse que me procurou por anos, e que eu chorava sentindo sua falta. Ahh aquele abraço. Abraço protetor, abraço de Pai. Choramos por algum tempo, rimos também depois. Ele pediu perdão por não ter conseguido me proteger. Por ter sido falho. Eu perdoei.
Ele queria resolver minha situação perante a lei. Era advogado e queria me ajudar a ter minha vida de volta. Eu não aceitei. Eu havia matado uma pessoa a sangue frio. Eu seria presa e depois julgada. Meu pai garantiu que eu seria absolvida. Mas ser presa mais uma vez e não saber quanto tempo ia durar; eu não iria suportar. Eu não aceitei. Tinha novos documentos, e eu recomeçaria em outro lugar.
Fui pra São Paulo, morar com minha tia, a irmã de minha mãe. Lá eu consegui trabalho, e minha filha teve uma infância feliz. Meu pai todo ano ,ia nos visitar.Luzia e Lúcio estão juntos até hoje. Moram na fazenda, e tem 2 lindos filhos. O pai de Luzia morreu, e ela se reaproximou de sua mãe.
Hoje, 21 de dezembro de 1986, 10 anos da morte do meu grande amor; estou aqui, abraçada a nossa filha; olhando para o seu túmulo mais uma vez. Lhe deixo sob o túmulo uma rosa branca, e agradeço:
_Obrigada Antônio, por ter sido luz na escuridão.Fim
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O manicômio
Historical FictionUma historia baseada em fatos reais, baseado no documentário Holocausto brasileiro . A história se passa Em Barbacena Minas Gerais nas décadas de 60 e 70 , no maior e mais cruel hospício do Brasil .