Talvez se a humanidade entrasse em uma máquina do tempo e vagassem para o futuro na mesma linha do tempo, entrasse no século XXI, encontrando o exato momento do resultado que manipularam, com certeza eles não enviariam aquela sonda sinalizando o planeta Terra.
A verdade é que isso não era possível, tinham conhecimentos limitáveis, presos à década de noventa. O segredo pelo espaço era fascinante, épocas de glória para os pesquisadores e estudiosos.
- Mamãe, o que está fazendo? – uma garotinha de cabeleira loira, longos, com seu velho pijama de bolinhas azuis apareceu entre a porta aberta do quarto de cima.
- Ah, você acordou – assustou-se a mulher que estava lá dentro.
Ela mantinha seus olhos fixados à um telescópio grande o bastante para posicioná-lo para o teto. Aquela parte do telhado era de vidro e poderia ser puxado para deixa-lo aberto. Num todo aquele quarto era fascinante para pequena Elizabeth nos seus doze anos. Tudo ali lhe encantava. Dizia para todos os amigos da escola que sua mãe trabalhava em casa e tinha o melhor quarto para estudar astros celestes.
E era um fato, o quarto era todo revestido em um pequeno laboratório para estudos. Balcões e escritórios com mesas e cadeiras, folhas planilhas espalhados pelos bancos e anotações pregadas em tachos nas lousas verdes. Aquele telescópio no centro, um sofá no canto próximo a janela e um filtro ao lado.
- Ainda não dormi – disse Elizabeth entrando no quarto em passos lentos.
- É claro que não, sempre vem me visitar no meu trabalho ne? – dizia Elionor sem move-se da frente do telescópio.
- E eu estou aprendendo um pouco cada vez mais, sabia?
- Eu sei disso, doutora Elizabeth – voltou seus olhos para filha bem mais próxima. Soltou seu sorriso visivelmente cansado. Já era 2:50 da madrugada.
- Doutora, mãe? – confusa, apressou em puxar um puff igual da mãe e sentou-se ao seu lado.
- Exato! – lhe respondeu, tocando a ponta do dedo em seu nariz bolinha – tudo isso vai ser seu daqui um tempo.
Ainda sem entender, Elizabeth cruzou os braços e voltou fazer suas sequencias de perguntas que Elionor adorava que ela as fazia:
- Mas e você mamãe? Quero trabalhar igual você, mas com você.
- Ah pequena, é uma longa história, não entenderia mesmo que quisesse... – suspirou.
Conformada, a pequena loira saiu do seu puff, caminhou por todo o quarto como sempre fazia quando queria espiar o trabalho de sua mãe, deitou no sofá, encarando sua mãe voltar a olhar o grande objeto.
- O que está vendo mamãe?
- Quer mesmo saber? Seu pai vai ficar furioso em saber que ainda está acordada essa hora, querendo descobrir assuntos de gente grande.
- Ele não vai brigar desta vez – displicente, disse ela – são só estrelas não é?
- Não. Desta vez não.
Os olhos de Elizabeth pareceram brilhar mais intensamente. O que seria que sua mãe tanto via que a segurou para não ir em seu quarto para lhe dar um beijo de boa noite e que não era as estrelas?
- E o que é?
Sua curiosidade era descomunal. Talvez seria obra de Elionor Hayes em ensinar para filha que tudo tinha um por quê, mesmo que Henry se irritasse nas poucas vezes com inúmeras perguntas aleatórias da filha.
- Venha ver.
Obedeceu. Sua pequena mente necessitava daquela curiosidade compartilhada por sua mãe.
Além do tempo das crianças ao seu redor, Elizabeth se destacava. Com a beleza dos diálogos que tinham com adultos, a educação que teve dos pais, era sempre estudado a fundo por ela sozinha em seu quarto em todas as vezes que chegava da escola, almoçava, passando horas em seu quarto.
Não conseguia fechar um olho e abrir o outro para encaixar no cano do telescópio. Optou por deixar os dois abertos, veria de qualquer jeito. Enquanto mergulhava nos mais profundos astros no céu escuro com sensação de vazio, sua mãe contava ao seu lado.
- A sonda Bird 77. Amigos da mamãe acabaram de enviá-la para o espaço em busca de contato que não seja daqui de nossa Terra filha, o que quer que seja no espaço, será nossa descoberta. Explicações para muitas coisas daqui desde a antiguidade.
Tentava raciocinar tudo que sua mãe falava. Era muita informação para sua cabeça, mas era algo importante que sua mãe a confidenciava. Era pouco os momentos que ela contava algo que parecia ser bastante valioso então apenas concordava, entregando seus olhos a enfim a sonda que partia no espaço.
- Dia histórico para a humanidade. Hoje. E sabe quando teremos o resultado do que apuramos do espaço?
- Quando mamãe?
- A 25 anos – sentiu um rápido desconforto mental de sua filha. Sorriu por entender que ela se esforçava para compreender mas mesmo assim continuou – por isso digo que você dará continuidade ao projeto da mamãe quando a sonda voltar.
Contentou-se com tudo, Elizabeth. O fato era que ela contava nos dedos, escondidos para que sua mãe não a visse, e imaginando quantos anos teria em 2016. Seus trinta e sete anos? Aquilo assustava, mas logo ficou convicta que era isso que ela seguiria, estudar os astros, até esperar aquela sonda voltar com algum sinal.
- Vem, vamos dormir, está mais do que passando do tempo.
- Tá bem – Ela desceu do banco, acompanhou o braço de sua mãe e deixaram o quarto.
Elionor entendia a fascinação da filha, era a cópia dela quando era criança. Também entendia quando cobria ela na cama toda enfeitada, que estava fadada a se sentir presa naquele ano de 1991 Birmingham, Alabama.
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Entre Nós (Revisando)
Ciencia FicciónO que fazer quando aqueles que nos vigiavam cada passo nosso aqui na Terra, o que fazíamos, o que comemos, nossos atos fúteis, o nosso jeito de "desperdiçar" a vida, descerem em nosso solo? Seria o ápice da desordem humana. Nesta obra trago emoções...