Leia os primeiro trechos de "Infindável" - Quarto e Último Livro da Série Irre

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Eu sempre acreditei que não tinha vocação para cuidar de alguém. Afinal de contas, paciência e destreza nunca foram os meus pontos fortes. Porém, sempre fiz o meu melhor quando a situação me exigia isso, por exemplo, como agora. Sobretudo quando se trata de cuidar das pessoas que eu amo, e por Manu, ainda mais.
E é exatamente por essa razão que estou colocando o meu lado cuidadora em ação.
Embora os meus dotes culinários não sejam muito bons, preparo uma canja de galinha bem caprichada, com direito a pedacinhos de legumes e frango. Assim como a receita indica, deixo o caldo ferver um pouco mais para engrossar e aproveito esse tempinho para dar as vitaminas que o médico indicou para Manu depois que foi liberada.
Pego o frasco sobre o balcão e um copo com água.
– 'Tá na hora do remediiiiiinhoooooo!! – grito, erguendo as mãos para mostrar a minha amiga deitada no sofá.
Geralmente eu não sou a animada e sim a chata e resmungona, mas quero alegrar a Manu e não me incomodo de tomar o seu lugar por uns dias; ela sorri e levanta devagar, até estar apoiada no encosto do móvel, ainda envolta por sua manta favorita.
– São vitaminas, sua boba. – ela diz.
– Tem forma de remédio, está em um frasco tipo de remédio e provavelmente tem gosto de remédio. Ou seja...
– Me dá logo esse treco!
Ponho uma das cápsulas gelatinosas em sua mão, a qual leva a boca e engole com ajuda da água. Sento ao seu lado depois de largar o copo sobre a mesinha de centro, lembrando-me de ficar atenta a panela no fogo. O sorriso que antes enfeitava o meu rosto se vai, assim como o seu.
– Você está bem? – pergunto, mesmo sabendo a resposta.
– Apesar dos pesares, sim. Estou bem melhor.
Solta um suspiro e junta os joelhos contra o peito, abraçando-os. Olho para a TV, onde passa um programa qualquer e ficamos as duas em silêncio por um instante. 
– Sabe que não pode esconder isso para sempre, não é?! – me pronuncio.
– Ainda que eu queira fingir, sei que não.
– E quando pretende...
– Não sei! – corta-me, aflita – Tenho pensado nisso desde que sai do hospital. Na verdade, desde que recebi a notícia. Mas, mesmo que eu pense e pense, me vejo perdida no mesmo lugar. 
Agora sou eu quem solta um longo e profundo suspiro. Não faço ideia do que dizer. Apesar de eu defender a ideia de que deve logo falar e fazer o certo, tenho consciência de que não é tão fácil quanto parece, especialmente porque o cenário está longe de ser dos mais favoráveis para ela. Quer dizer, para ambos.
Se o que me contou for verdade, isso vai ser uma bomba - se bem que, seria uma bomba de qualquer maneira. A questão agora é: quando ela será detonada.

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