Prólogo

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De todos os feitos e efeitos, eu pude, mas não queria, presenciar o nascimento da criança dos Anjos, a minha filha.

Uma criança nascida no céu, de um amor proibido e impossível, que era destinada a mudar o destino de tantos. 

Uma lenda, um mito, um terror. Esperança ou devastação? A profecia não era clara e nós não podíamos arriscar. Como imagem e semelhança do Criador, éramos criafos e não nascidos. 

Não poderíamos esperar o fruto de um relacionamemto entre anjos, mas vi com os meus próprios olhos o ventre de minha companheira inchar.

Não éramos preparados para esse ripo de milagre, tão admirado pelos humanos mas apenas um mito entre nó, um sussurro que corria de boca em boca, um temor. A possibilidade de uma criança que unisse o céu, a terra e o inferno.

O bem e o mal como um só? Não, nossos corações e mentes não podiam conceber uma união nossa com os Anjos Caídos atraves de uma criança nascida deles. 

Já era terrível aceitar as suas crias abomináveis, que tínhamos o conhecimento de habitar a terra, os híbridos nascidos dos humanos, os quais chamavamos  os néfilins.

Não poderia, nem deveria ser natural.

Não podíamos arriscar  algo que estava tão arraigado e devidamente separado há tanto tempo. As forças contrárias eram o equilíbrio e estaríamos ameaçando tudo.

Anjos formavam casais mas não podiam procriar. Nunca. O impossível aconteceu e em meio ao medo e à incerteza, a decisão foi tomada.

E a criança,  uma menina, foi devidamente afastada e escondida nos confins da terra. Em um lugar distante para que pudesse ser esquecida

Para que esquecesse.

Nós tiramos dela o que lhe pertencia: asas e tudo. 

Demos a ela a humanidade, mas não esperávamos que o céu chorasse lágrimas de sangue e a lua fosse tingida. Outra parte da profecia e a certeza que nos impulsionou a esconder e proteger a menina, bem como nossa atitude.

Apenas vinte anos e a criança poderia se tornar definitivamente humana.

Eu não esperava que nossos corações fossem mudados. Muito menos que as nossas mãos ficassem manchadas pela  ignorância e pelo medo, mas não podíamos mudar o que estava feito.

Duas bocas e mentes unidas pelo silêncio acordado. Eu nunca mais fui o mesmo e minha companheira caiu, apenas alguns anos depois, enlouquecida pelas possibilidades do que havíamos feito.

Em prol da preservação do equilíbrio., demos início aos acontecimentos que tanto temíamos.

Agora faltava apenas uma Lua de Sangue, a minha última vigília que lembrava o que fiz. Um último suspiro rumo à libertação. Em breve eu seria um Arcanjo e poderia deixar o curso natural do mundo fluir sem a minha interferência.


Lua de Sangue: O DespertarWhere stories live. Discover now