Capítulo 38

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Ver as horas, e, consequentemente, os dias passarem tão rápidos quanto um carro super veloz atingindo o seu limite.

E com eles me acostumei mais ainda com a minha rotina, de modo que me tornei uma pessoa ativa e que sempre está caçando algo para fazer senão trabalhando ou estudando — na maioria ajudando minha mãe com suas encomendas, que aumentaram de um jeito satisfatório. Mas além disso, eu venho acompanhando discretamente as atitudes do Mathias, quando aos poucos sua amizade com Alina vem sendo mais fortificada.

Já confisquei algumas vezes o seu *WhatsApp* — focando somente no grupo "MALL's" — buscando alguma mensagem relacionada à aposta. Embora saiba que isso é invasão de privacidade, não me importo. Não enquanto ele estiver alheio a isso. E acredito que continuará assim, já que não preciso me preocupar com o fato de que ele me pegará em flagrante fuxicando o seu celular.

Isso porquê consegui conectar sua rede social no meu notebook através do *WhatsApp Web*.

É, pois é. Eu tive a proeza de fazer isso um dia quando, por milagre, ele esqueceu o aparelho em casa ao ir treinar.

E desde então, toda vez que o celular está por perto, eu consigo acessar suas conversas. Claro, tomando todo o cuidado possivel para não cometer algum deslize.

Com os dias passando, também acabou chegando a hora da ida de Thiago para a casa do tio, onde vai passar o mês de outubro inteiro lá, aproveitar... e me deixar sem companhia na escola. É fato que eu tenha outros colegas pelo colégio, mas nenhum se compara à intimidade e parceria que temos.

No dia da sua partida tivemos uma despedida breve. Não teve muitos abraços ou choros — Thiago não é muito fã de demonstrações de carinho em excesso. Pelo contrário, a tarde — já que ele iria só à noite — foi repleta de filmes, guloseimas, risadas e zombarias. Até o momento em que ele, antes de entrar no carro, me olhou sem qualquer resquicio de graça e disse:

— Sabe, mesmo sendo um parente, amigo ou mero conhecido, algumas ações não devem ser aceitas. Eu no seu lugar tomaria uma atitude em relação a isso. Ele fazendo parte disso ou não, ainda sim existe uma aposta. Essa Alina parece ser bem legal pra ser envolvida nisso.

Não houve como não ter ficado mais encucada com suas palavras.

Explicar à Alina toda a situação vem me deixando mais ansiosa.







                                            ***







— E aí, aniversariante, qual é a sensação de estar completando 21 anos de sobrevivência? — zombo, me jogando no sofá.

— Me sinto um guerreiro. Aguentar você por 18 anos é uma grande batalha. — rebate.

Bato no seu ombro com o dorso da mão. Tão logo agarro seu pescoço.

— Feliz aniversário, maninho! — felicito, apertando sua bochecha. Ato que ele impede rapidamente com um tapa na minha mão.

— Obrigado, pirralha. — me olha, sorrindo sem mostrar os dentes.

Nos encaramos. E em um milissegundo ficamos sérios.

— Eu te faria uma festa surpresa, mas você sabe que eu sou péssima em organizar alguma coisa... — justifico, buscando seu olhar, que não demonstra nenhum pouquinho de animação. — Ei, o que foi?

Ele solta um suspiro alto e fundo.

— Não está animado por hoje? Mamãe está fazendo seu bolo preferido... Ah, e eu já até sei o que vou te dar de presente. — sorrio, tentando contagiá-lo. — Vai ser uma lembrancinha, mas vai te fa...

— Eu e Alina nos beijamos. — me interrompe.

Me calo. Paro. Analiso seu rosto enquanto penso se o que eu ouvi foi mesmo o que ouvi.

— Quê?

— Eu e a Alina... nos beijamos. — repete, hesitante.

— Você... Ela... Vocês... Quê? Quando isso aconteceu?

— Ontem. — diz simplesmente.

— E você só me conta agora?

— Eu só estou te vendo agora. — dá de ombros.

— Math... não foi pela aposta, não é? Você quis, ela também e aconteceu. Nada por causa da maldita aposta. — por favor, mano

— Não! Claro que não. — nega, para o meu alívio. — Foi exatamente porque quisemos. E foi bom. Se repetiu pela noite toda enquanto estávamos juntos.

Solto um suspiro desanimado.

— E por que essa cara?

— Os garotos. Se souberem...

— Como saberão? A não ser que você conte. — ergo uma sobrancelha.

— Não mesmo. Mas receio que algum momento irão saber ou até mesmo ver. — diz num fio de voz.

— Como assim "ver"? — indago.

— Talvez a gente tenha... se esbarrado hoje no corredor da faculdade e dado uns perdidos durante o intervalo. — confessa.

— Mathias! — esbravejo, surpresa. — Você é idiota?

— Não pensei neles na hora. Na verdade não pensei em nada.

— Vocês... — pauso. — Sabe, fizeram...

— O quê? Não.  Acha que eu transaria na biblioteca ou corredores da universidade?

— Eu não sei. Nem sabia que você transava. Prefiro pensar que é virgem.

Vejo-o revirar os olhos. Sorrio, por um segundo. Logo ficando séria novamente.

— Está apaixonado?

Ele nega com a cabeça.

— Acredite, eu não tenho sentimentos românticos por ela. Ali sabe, e confirmou também não ter o mesmo por mim. Mas isso não impediu de... acabar rolando.

— Você fala como se tivessem transado. — digo desconfiada.

— É que diante da situação em que me meti, mesmo não tendo concordado com nada, isso acaba sendo desconfortável. — deita a cabeça no encosto do sofá. — Eu só não quero magoá-la e perder sua amizade, entende?

Assinto.

Abraço seu tronco, querendo confortá-lo. Minha cabeça se encosta em seu peito que sobe e desce reguladamente.

— Conta a ela. Explica. Ela vai entender. — digo, desejando que ele considere.

— Não quero que ela saiba. E você vai se manter calada, O.K.?

Não respondo. Muito menos prometo porque...

— Escutou, Liz?

— Sim.

Desculpa, maninho, mas isso já se tornou insuportável.





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Eu tenho uma coisa a dizer:

Eita!

:/

Um Amor Fraterno (Entrará em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora