Prólogo

9 0 0
                                    

- Não achei que fosse lhe ver hoje a noite, principalmente em meus aposentos, o que aconteceu? 

Ele olha para baixo com um ar de preocupação, ela então percebe que algo está muito errado, sua mão delicada toca o rosto defesso, ele sobrepõe sua mão sobre a dela, e a olha nos olhos

- Hoje a noite, quando estava preparando-me para deitar, um calafrio tão rápido quanto um raio e tão tenebroso quanto as trevas desceu minha espinha e fez até minhas entranhas se balançarem por um breve momento, soube então que era um presságio.

O olhar sonolento ao qual ela ainda carregava dá lugar a um olhar de atenção

- Vigia o que tu diz homem, mas diga-me em verdade. 

- Pois em verdade lhe digo que ao repousar minha cabeça sobre minha cama, fui arrebato para uma imagem completamente negra - a mão delicada passa a se esfregar lentamente sobre seu rosto, deixando que as pontas pouco afiada das unhas acariciem sua barba que apesar de limpa é dura e mal cuidada pelo tempo que passara nos acampamentos e nas batalhas -  mais negra que a noite mais escura que já presenciei,um som forte de sino ecoava distante e junto do som clarões surgiam do infinito e iluminavam toda a imagem por pouquíssimo tempo - A mão sobe até os cabelos desgranhados e negros passeando pelos caminhos estreitos dos fios

- Diz tal como segundos? 

- Diria que um pouco mais demorado que um segundo mas ainda assim menos demorado que dois segundos, não sei, parecia que o tempo pouco importava

- Sim, retome.

- Conforme os clarões prosseguiam, imagens eram formadas no que parecia ser um horizonte, mais um clarão e eu estava acima de um cavalo, um cavalo do qual a cabeça era composta apenas por ossos, e uma chama brilhava de dentro do crânio, seu pelo parecia se alternar conforme me aproximava do que parecia ser um castelo, se alterava para um tom mais negro. Mais um clarão, olho para os lados e vejo mais pessoas junto comigo, pessoas ou só aquilo que sobrou delas, eram esqueletos que da mesma forma que o cavalo tinham uma chama dourada que encandecia e mesmo sem olhos eles pareciam me enxergar, e mesmo sem língua eles gritavam assumindo em si o calor da batalha, e mesmo sem músculo eles empunhavam espadas brilhantes, e sobre seus corpos decrépitos e sem resistência jazia armaduras que eram tão douradas quanto as chamas e tão brilhante quanto as espadas. Tal como o cavalo do qual descansava meu corpo em pleno galope, a chama na cabeça dos esqueletos também se desvanecia em um tom negro, e suas armaduras apodreciam com vermes que ao se chocarem no chão deixavam um rastro de sangue e esperma.

Os castanhos claros dela se arregalavam mais até atingir o máximo da abertura conforme a história era contada, mas ela se matinha calada, o coração já palpitava com intervalos pequenos, e um suor frio escorria sobre seu rosto delicado.

- E...E o que mais viu?

- Uma tempestade, uma tempestade forte, junto da tempestade torrente, pedras de gelo também caíam, a chuva parecia cortar o solo de tão forte que caia, parecia até mesmo que os Deuses estavam raivosos, parecia que se sentiam enganados,ou talvez estivessem festejando por finalmente terem revelado seu jogo vil a nossas existências simples.

- E por que diz isso?

- Não sei o  porquê, foi apenas o que senti, é o que eu consigo me lembrar. Na frente da fortaleza vimos um exército que corria em nossa direção, e eles sim eram completamente enegrecidos e podres, suas espadas não brilhavam e suas armaduras já tinham vermes, em sua frente um homem, provavelmente três metros de altura, jazia sobre um búfalo tão enorme quanto o homem que corria o mais rápido que podia, o homem tinha um rosto como as caveiras, mas ao lado de seu rosto ele parecia ter dois rostos... - Ela então tira a mão do rosto, e a desce até sua mão, sua mão está gelada e treme, então então com os lábios trêmulos olha fundo nos olhos dele, com um olhar frio, seco e diz enquanto gaguejava - Um que sorria e um que chorava.

Silêncio das EspadasWhere stories live. Discover now