Sobre primeiras vezes

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Primeiro dia de aula

Eu nunca pensei que o meu primeiro dia de aula poderia ser tão transtornado, mas ao mesmo tempo tão especial.

Sempre tive problemas em me comunicar com outras pessoas que não fossem da minha família, era muito tímido e foi por esse motivo que, quando completei cinco anos, meus pais me mudaram de colégio na esperança de que eu conseguisse me enturmar.

Na minha cabeça eu não precisava ter amizade com mais ninguém. Meus pais e meu irmão mais velho já me eram mais que suficientes. O problema era que minha mãe não pensava da mesma forma que eu. Hoje em dia eu agradeço muito por ela não ter pensado como eu.

Eu apenas cheguei no pátio da escola e me sentei afastado dos demais. Ninguém pareceu realmente se importar com minha presença, exceto ele.

Primeiro ele pareceu me analisar da cabeça aos pés, mas sem nenhum tipo de maldade ou julgamento, apenas curiosidade de criança. Ele me encarou tão intensamente que foi inevitável não o olhar de volta.

Ficamos algum tempo apenas nos encarando, isso até ele sorrir. Céus, aquele sorriso me deu até um frio na barriga. Os olhinhos puxadinhos ficaram ainda mais fechadinhos dos que já eram, as bochechinhas gordinhas pareciam saltar do rosto e os dentinhos tortinhos me chamaram atenção. Foi inevitável não sorrir nem que minimamente.

Então ele caminhou até mim segurando uma folha de papel. Eu entrei em desespero. Eu não podia conversar com ele, eu não estava preparado para 'amigar. Minha única reação foi abaixar a cabeça e rezar para que ele pensasse que eu morri.

— Você quer pintar comigo? — Perguntou assim que sentou na cadeira ao meu lado. — Ei, tudo bem com você? — Tocou em meu ombro e o balançou um pouco.
Apenas balancei a cabeça rapidamente. E então ele riu. Na época eu não sabia, mas agora eu sei que esse é o meu som favorito no mundo.  — Qual o seu nome? O meu é Park Jimin. Você tem quantos anos? Eu tenho sete. Você é novo aqui, não é? Espero que seja da minha sala, você tem cara de garoto grande. — Então ele riu novamente. Quando ele percebeu que eu não responderia nenhuma das duas perguntas bufou, frustrado. — Eu preciso arrumar minhas coisas porque já vai tocar, mas eu espero ver e ouvir você no intervalo. — E saiu.

Só levantei a cabeça quando tive certeza que ele já havia ido embora.

[...]

No intervalo daquele dia eu me escondi no banheiro. Se antes eu não queria aparecer no meio de um monte de gente sem ser notado, agora que eu não queria mesmo aparecer sabendo que ele me esperaria.

Mas ele foi muito esperto.

— Eu vi você correndo para cá. — Disse batendo na porta da cabine que eu estava. — Me diz pelo menos seu nome, criança. Eu sou seu hyung, sabia disso? Eu descobri porque vi você entrando na sua sala. Faz o nível cinco, não é?

Eu suspirei. Pensei muitas vezes antes de abrir aquela porta. Só quando ouvi Jimin bufar e passos caminhando para longe que eu criei coragem.

— Jeongguk. Meu nome é Jeongguk. — Falei. Jimin virou para trás e me encarou sorrindo.

— Prazer em conhecê-lo, Ggukie-ssi. — Sorriu, me estendendo a mão.

[...]

Primeiro choro

Quando eu tinha meus dez anos e Jimin doze, eu descobri como era ruim ver quem você gosta passar por uma situação complicada.

Eu conhecia Jimin mais do que a mim mesmo e vice-versa. Eu sabia que ele gostava muito de usar blusas longas porque era confortável, sabia que ele gostava de ler livros e assistir animes, sabia que ele queria fazer aulas de dança contemporânea, sabia que ele era uma pessoa frágil e que chorava com facilidade, sabia que ele tinha medo de lugares escuros e se assustava facilmente. Nós nos parecíamos, a diferença é que eu queria ser forte. Eu não gostava de mostrar fraqueza e chorar na frente dele quando me sentia mal.

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