Capítulo XVI.

626 69 182
                                    

Roger afundou a cabeça contra o travesseiro, em uma tentativa quase que desesperada de esconder-se da luz do sol que entranhava o ambiente. Ele sentia que sua cabeça iria explodir a qualquer segundo e era como se o mundo estivesse dançando, dando voltas e voltas sem parar. Ele precisava de água, muita água.

Aos poucos, ele virou o rosto, mas a luminosidade apenas piorava ainda mais a dor. Sua vista doía apenas em um simples contato com a luz solar. Quanto ao seu corpo, parecia que um trator havia passado por cima dele, tamanho o incômodo que sentia. A boca estava seca, e as memórias passavam em sua mente como flashes de uma noite mal vivida. Ele nunca mais beberia tanto em sua vida.

O rapaz escondeu o rosto novamente, dessa vez, utilizando os lençóis brancos que cobriam a cama para isso. Ele queria muito beber água, mas as dores e a péssima sensação de mal estar o impossibilitavam de se mover apropriadamente. Roger respirou fundo e fechou os olhos com força, como se tentasse organizar os pensamentos confusos que brotavam em sua mente. Estava difícil colocá-los em ordem, principalmente porque era uma quantidade de informações absurda, mas ele sabia que precisava conseguir. Tinha a péssima sensação de que a noite não havia terminado bem.

Ao se mexer, o rapaz sentiu o nariz doer e levou uma de suas mãos até o rosto, tateando uma ferida recente. De súbito, Roger lembrou-se de sua mão atingindo o rosto de alguém e de, em seguida, sentir uma pancada forte contra si mesmo. É, aparentemente, ele tinha feito uma merda das grandes. Com mais um pouco de esforço, ele também recordou-se do nome do homem, Joe Kendrick, e do motivo de toda aquela briga. Um beijo que nem sequer existira. E que, na verdade, nem seria da conta dele se tivesse acontecido. Em suas lembranças falhas, ele também viu Scarlett, lembrou-se de ter subido com ela até o quarto e dela ter cuidado dele, mesmo que com um péssimo humor. Por causa disso, sabia que estava lascado, muito ferrado mesmo.

Scarlett era uma mulher teimosa, às vezes, até mesmo reclamona, mas não do tipo que brigava sem motivo. Na verdade, ela buscava sempre resolver as coisas no diálogo, mas quando ultrapassavam o seu limite, ela ficava uma pilha de nervos. E Roger sabia que havia ultrapassado aquele limite. No entanto, não estava preparado para as consequências. Agora, sóbrio e com uma ressaca insuportável, Roger se arrependia amargamente da noite anterior. Por mais que odiasse admitir, estava com medo. Medo de não ser perdoado e simplesmente apavorado por não saber o que fazer. Ele havia errado feio e reconhecia isso, agora tentaria o possível e o impossível para se redimir, mas, primeiro, precisava encarar o sermão que estava por vir.

Aos poucos, Roger retirou o lençol do rosto. Ele piscou diversas vezes, com grande dificuldade, até que os olhos se ajustassem à luz ambiente e a dor que sentia na vista amenizasse. Ele encarava a parede clara e, atrás de si, conseguia sentir a presença de alguém. Não demorou para que se virasse, deparando-se com Scarlett e focalizando-a em seu campo de vista. Ela tinha um caderno em mãos e escrevia coisas que ele não conseguia decifrar. Sua expressão, por outro lado, ele compreendia muito bem e não parecia nem um pouco boa. Percebendo aquilo, o rapaz engoliu seco, temeroso.

Ao perceber o movimento na cama, Scarlett fechou o caderno e voltou o seu olhar para o corpo de Roger, jogado em meio aos travesseiros. Ela permaneceu quieta por alguns segundos, o rapaz, por sua vez, sentou-se na cama, completamente mudo. Os olhos dele a fitavam com uma expressão de cachorro abandonado, mas ela não teria dó. Roger Taylor havia errado feio, dessa vez, e ela não aguentaria suportar tudo aquilo calada.

— Nós precisamos conversar. — A voz dela soou afiada como lâminas.

Roger estremeceu, sentindo um arrepio percorrer a sua espinha. Ele ajeitou-se sobre a cama, virando em direção à ela, uniu as suas mãos, uma por cima da outra, e voltou a sua atenção para a menina. Ponderou, pensando em dizer alguma coisa, mas não havia nada para ser dito. Ao menos, nada que fosse capaz de amenizar a situação tensa em que se encontravam. Justamente por causa disso, ele optou por ficar calado, antes que piorasse ainda mais o cenário de angústia entre eles.

Right By Your SideOnde histórias criam vida. Descubra agora