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Juliana estava deitada enquanto olhava quadradinhos imaginários na parede. Sim, o tédio a estava matando, porém, não mais do que a curiosidade sobre Valentina Carvajal.

A garota era grosseira, seca, fria, contudo, se ofereceu em ajudar Juliana. Ela também já fora gentil, mesmo sem perceber. A menor só queria entender aquela mulher. Por que ela ajudaria alguém gratuitamente?

Valentina jamais se envolvera com alguém daquela cadeia, de acordo com Maggie. Então por que diria a todas que estava com Juliana? Para sua única proteção? Muito estranho.

Valentina a havia beijado, um selinho, na frente de todas. Aqueles lábios rosados e tão beijáveis, junto com aquele olhar intenso que derreteria qualquer iceberg... Não! Ela não deveria pensar nisso, se repreendeu.

O barulho de sua cela sendo aberta a fez respirar fundo. A merda aconteceria, se tivesse que acontecer.

-- Olá, novata. -- O sorriso rancoroso no rosto de Beatrice fez Juliana sentir um frio cortar toda a sua espinha.

-- Juliana Valdés. -- A voz da guarda fez Juliana a olhar. Era a oficial Caetano.

-- Sim? -- Juliana perguntou baixo antes de fitar Beatrice. Seus olhos a fitavam ansiosamente, à espera daquela guarda sair para acertar contas. O nariz da garota estava enfaixado e ela tinha um olho roxo.

-- Arrume seus pertences que em menos de dois minutos volto aqui. -- Ela disse e Juliana assentiu confusa, apesar de não ter quase nada. Alguns itens de higiene pessoal e suas roupas íntimas.

-- Quebraram meu nariz, sua vadia. -- Beatrice disse irritada assim que Ana saiu. -- Vou esperar a Caetano fazer seja lá o que for aqui nessa inspeção de cela e esta noite você me paga. Carvajal verá quem manda nessa merda. -- Juliana sequer a olhou, o medo circulava em cada canto de suas veias.

-- Eu sinto muito por seu nariz. -- Juliana disse baixo, se sentando e arrumando suas coisas no canto de sua cama.

-- Ah, com certeza não sente, sua vadia. -- Beatrice disse cruzando os braços. -- Não mandei se sentar. Levanta! -- Impôs e Juliana obedeceu. -- Valentina deveria saber que você só está com ela por interesse, mas deveria ter escolhido melhor, boneca, sou eu quem tenho todas as guardas compradas.

-- Nem todas. -- A voz de Caetano soou firme e Beatrice a olhou assustada. -- Valdés, pegue suas coisas e me acompanhe.

-- Não quis dizer que as compro de verdade, senhora. São todas mulheres íntegras. -- Beatrice disse colocando as mãos para trás e Ana manteve sua expressão imparcial quando Juliana saiu da cela.

-- Eu sei bem o que você quis dizer e não se preocupe, porque cada mulher íntegra dessas que você citou terão sua vez na hora certa. -- Falou, erguendo um braço, fazendo a policial que tinha os comandos a ver pela câmera de segurança e voltar a fechar a cela.

-- Aonde ela vai? -- Beatrice perguntou confusa.

-- Não é da sua conta. Cuide de suas coisas. -- Ana disse impassível. -- Por aqui Valdés.

Caminharam duas celas, até pararem de frente com a cela que Juliana conhecia muito bem.

-- Espero que nessa você não arranje problemas. -- Ana disse. -- Elas duas sempre arranjam problemas uma com a outra e por isso foram colocadas em celas separadas. Com Beatrice você não vem dando certo, vejamos com Valentina. -- Falou, abrindo a cela. Juliana entrou no ambiente antes da cela voltar a se fechar.

-- Obrigada, Aninha. -- Valentina disse e Ana sorriu.

-- Juízo, garotas. -- Ela disse, se afastando dali.

Juliana olhou confusa para Valentina antes de colocar suas coisas em seus devidos lugares.

-- Você... A subornou? -- Juliana perguntou confusa e Valentina riu.

-- Uma mulher nunca revela seus truques. -- Valentina falou e Juliana assentiu.

-- Eu posso, huh, me deitar? -- Juliana perguntou e Valentina franziu o cenho.

-- Não precisa de uma autorização minha para isso, Valdés. -- Carvajal falou e Juliana riu fraco.

-- É que Beatrice às vezes...

-- Não sou ela. -- Valentina disse seriamente e Juliana a fitou novamente.

-- Claro, me desculpe. -- Pediu, se deitando em sua cama. Seu cérebro voltou a divagar.

-- Ela já estava na cela? -- A voz de Valentina soou e alguns segundos depois as luzes se apagaram.

-- Estava.

-- Ela te machucou?

-- Não.

-- Hm. -- Respondeu com frieza novamente, deixando o silêncio se instaurar no local.

-- Por que ficava me olhando tanto quando cheguei? -- Juliana perguntou. Droga! Era sempre tão estúpida? Pensou.

-- Não te interessa. -- Valentina disse e, para a sua surpresa, Juliana riu.

-- Por que sempre é tão rude comigo?

-- Você é sempre idiota ao ponto de ficar insistindo em falar com alguém que claramente não quer conversar com você? -- Valentina perguntou, colocando a cabeça para fora do beliche, apenas para ver Juliana a fitar da cama de baixo.

-- E você é sempre a protetora das novatas que claramente não pediram por sua ajuda? -- Juliana rebateu e Valentina bufou.

-- Eu sabia que isso seria um erro. -- Valentina disse boquiaberta. -- Amanhã pedirei à Ana que te mande de volta. Direi a todos que você está livre e você que se acerte com Beatrice. Já me meti em problemas demais para ouvir esse tipo de coisa. -- Valentina falou, se deitando bruscamente.

-- Não, por favor... -- Juliana pediu rapidamente, se levantando para poder ver o rosto da outra garota. -- Eu não quis dizer que não sou grata... -- Juliana se corrigiu. -- Só quis dizer que você começou a me ajudar do nada e nunca me disse o porquê, mas vive me tratando como se não gostasse de mim. -- Ela disse em suspirou. -- Isso só me deixa... confusa.

Valentina a fitou antes de se apoiar em seu cotovelo e voltar a falar.

-- Preste muita atenção no que vou dizer: Não somos amigas, não somos nada. Eu te ajudei e você deve ficar agradecida, nada mais. -- Ela falou friamente. -- Sem amizade, sem sorrisos, sem conversas sobre nossas vidas, sem perguntas. Ficou claro? -- Juliana assentiu encolhendo seus ombros antes de voltar a se deitar.

-- Claríssimo. -- A menor respondeu. Pelo menos poderia dormir em paz, sabendo que não teria uma Beatrice para tentar pular em cima dela durante a noite. Seus olhos se fecharam, porém sua mente se concentrava em um único pensamento:

Viveriam por um longo tempo sob o mesmo teto, no entanto, Valentina se negava a conversar com ela. Juliana não sabia o que era pior: Estar sozinha em uma cela, sem ninguém para conversar por meses ou anos, ou estar em uma cela com uma pessoa que gostaria muito de conversar, porém não podia.

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Presa por acaso - JuliantinaOnde histórias criam vida. Descubra agora